CRISTO – PALAVRA ÚNICA DA SAGRADA ESCRITURA
Na condescendência de sua
bondade, Deus, para
revelar-se aos homens fala-lhes em palavras humanas. (CIC 101, cit. DV13)
Nos Livros Sagrados
o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro
de seus filhos e com eles fala. (CIC
104, cit. DV 21)
Através de todas as palavras da Sagrada
Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo Único, no qual se expressa
por inteiro. (CIC 102)
A Igreja sempre venerou as divinas
Escrituras, como venera também o Corpo do Senhor; sobretudo na sagrada
liturgia, ela não cessa de apresentar e distribuir aos fiéis o Pão da Vida,
tanto da Mesa da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo. (CIC 103, cit. DV 21)
INSPIRAÇÃO E VERDADE
DA SAGRADA ESCRITURA
Deus é o autor da Sagrada Escritura. (CIC 105)
As coisas divinamente reveladas, que se encerram por
escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração
do Espírito Santo. Escritos sob a Inspiração do Espírito Santo, eles tem Deus
como autor. (CIC 105, DV 11)
Deus inspirou os
autores humanos dos livros sagrados. (CIC 106)
Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens,
dos quais se serviu
fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo
ele próprio neles e através deles, escrevessem, como verdadeiros autores,
tudo e só aquilo
que ele próprio quisesse. (CIC 106, cit. DV 11)
Os livros inspirados
ensinam a verdade. (CIC 107)
Já que tudo o que os autores inspirados afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito
Santo, deve-se professar que os livros de Escritura ensinam com certeza,
fielmente e sem erro a verdade
que Deus em vista da nossa salvação quis
fosse consignada nas Sagradas Escrituras. (CIC 107, cit. DV 11)
Para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que
levar em conta as condições da época e da cultura
deles, os gêneros literários em uso na
época, os modos de sentir, falar e narrar correntes na época. Pois a verdade é
apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos ou
proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão. (CIC 110, cit. DV 12)
O ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DA ESCRITURA
Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos
homens. Para bem interpretar a Escritura é preciso, portanto, estar atento
àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis
manifestar-nos pelas palavras deles. (CIC 110, DV 12)
A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada
naquele mesmo Espírito em que foi escrita. (CIC 111, cit. DV 12)
“O que vem do
Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito.”
Orígenes, Homilia in Ex. 4,5
·
Prestar muita atenção
ao conteúdo e à unidade
da Escritura inteira;
(CIC 112, cit. DV 12)
·
Ler a Escritura dentro da Tradição
viva da Igreja inteira; (CIC 112, cit. DV 12)
·
Estar atento à analogia da fé, a coesão das verdades
entre si e no projeto total da
Revelação (CIC 112, cit. DV 12)
Distingue-se dois sentidos
da Sagrada Escritura: o literal e o espiritual. (CIC 116)
·
O sentido literal é
o sentido significado pelas palavras e descoberto pela exegese, seguindo as regras da
correta interpretação. (CIC 116)
·
O
sentido espiritual: é o sentido em que as realidades e acontecimentos
de que fala o texto sagrado podem ser sinais.
O sentido espiritual é subdividido em:
§ O sentido alegórico: é a compreensão
profunda das realidades e acontecimentos reconhecendo a significação em Cristo.
§ O sentido moral: é o justo agir apontado
pelas realidades e acontecimentos relatados na
Escritura.
§ O sentido anagógico: é a significação
eterna das realidades e acontecimentos. (CIC
117)
“A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que
deves crer;
a moral, o que deves fazer; a anagogia, para onde
deves caminhar.”
Dístico medieval
É dever dos exegetas esforçar-se, dentro destas
diretrizes, por entender e expor com maior
aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que preparatório, amadureça
o julgamento da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem à maneira de
interpretar a Escritura estão sujeitas em última instância ao juízo da Igreja,
que exerce o divino mandamento do ministério do guardar e interpretar a Palavra
de Deus. (CIC 119, cit. DV 12)
“Eu não creria no Evangelho, se a isto não me
levasse a autoridade da Igreja Católica”.
Santo Agostinho
Contra epistulum Manichæi quam vocant
fundamenti, 5,6: PL 42,176
O CÂNON DAS ESCRITURAS
A Tradição apostólica fez a Igreja discernir que escritos
deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados.
Esta lista completa
é denominada Cânon das Escrituras, comportando 46 livros para o Antigo
Testamento e 27 para o Novo. (CIC 120, cit. DV 8)
A historicidade do Cânon das Escrituras é evidenciada já nos primeiros séculos por documentos como o
Cânon de Muratori e o Cânon de Marcião.
O ANTIGO TESTAMENTO
É parte inalienável da Sagrada Escritura. A economia do
Antigo Testamento estava ordenada
principalmente para preparar
a vinda de Cristo.
Embora contenham ciosas imperfeitas e transitórias, os livros do Antigo
Testamento dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Nos seus ensinamentos está latente o mistério da nossa salvação. (CIC 122, DV 15).
O NOVO TESTAMENTO
A Palavra de Deus, que é a força de Deus para a salvação
de todo crente, é apresentada e manifesta o seu vigor de modo eminente nos
escritos do Novo Testamento. (CIC 124, cit. DV 17)
Estes escritos fornecem-nos
a verdade definitiva da Revelação divina.
Seu objeto central é Jesus
Cristo. (CIC 124, cit. DV 20)
Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, uma
vez que constituem o principal testemunho sobre a vida e a doutrina do Verbo
encarnado, nosso Salvador. (CIC 125, cit. DV 18)
A UNIDADE ENTRE O ANTIGO TESTAMENTO E O NOVO TESTAMENTO
A Igreja, já nos tempos
apostólicos, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graças à
tipologia. Esta discerne nas obras da Antiga
Aliança prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na
pessoa de seu Filho.
Por isso os cristãos lêem o Antigo testamento à luz de
Cristo. Essa leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo
Testamento. Também o Novo Testamento exige ser lido à luz do Antigo.
“Novum in Vetere latet et in
Novo Vetus patet.“
(O Novo no Antigo se esconde e no Novo o Antigo é
desvendado)
Santo Agostinho Quæstiones in Heptateucum, 2,73, PL
34,623
A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA
É tão grande o poder e a eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e
vigor para a Igreja, e, para seus filhos,
firmeza de fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual. (CIC 131, cit. DV 21)
É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja
amplamente aberto aos fiéis. (CIC 131, cit. DV 22)
Que o estudo das Sagradas Páginas seja como que a alma da Sagrada Teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura também
se nutre salutarmente e santamente floresce o ministério da palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a
instrução cristã, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia litúrgica.
(CIC 132, cit. DV 24)
A Igreja exorta com veemência e de modo peculiar todos os
fiéis cristãos... a que, pela freqüente leitura das divinas Escrituras,
aprendam a “eminente ciência de Jesus Cristo” (Fl 3,8). (CIC 133, cit. DV 25)
“Porquanto
ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.”
São
Jerônimo
LIVROS DA BÍBLIA
PENTATEUCO
Conjunto dos cinco primeiros de livros, tradicionalmente
agrupados, mas não absolutamente. Pelo tema — promessa
e cumprimento — o relato começaria com
Abraão (depois de uma breve pré-história) e se concluiria com Josué e a repartição da terra prometida para
as doze tribos de Israel, alternativa chamada Hexateuco. Pela forma o
Deuteronômio revela pertencer como uma grande abertura ao corpo narrativo
seguinte, desde a entrada na terra
prometida até a saída do exílio — Josué, Juízes, I e II Samuel e I e II Reis — alternativa chamada Tetrateuco. Quatro fontes deram origem ao Pentateuco, chamadas pelos
exegetas de Javista (J), Eloísta (E),
Deutoronomista (D) e Sacerdotal (P).
GÊNESIS
É o livro das origens: origem
do mundo, origem
do mal, origem das culturas, da dispersão dos povos, da pluralidade de línguas,
origem da salvação, origem dos patriarcas. Tenta dar uma resposta histórica a
grandes enigmas do homem: o cosmo, a vida e a morte, o bem e o mal, o indivíduo e a sociedade, a cultura e a religião.
ÊXODO
É o livro da libertação povo judeu do Egito e da aliança
com seu código, dos primeiros passo no deserto e da
elaboração do instrumental de culto.
LEVÍTICO
Compilação
de leis sacerdotais, de redação tardia, pós-exílio, como a lei de santidade e
algumas com elementos muito antigos, como as proibições alimentares.
NÚMEROS
Chamado
pelos judeus de “No deserto”, descreve a transladação dos israelitas do Sinai,
passando em torno a Cades, até os campos de Moab. Contém um recenseamento do
povo judeu.
DEUTERONÔMIO
É
uma recapitulação dos três livros anteriores, com muito de código legal, na
forma de um longo discurso de Moisés.
LIVROS HISTÓRICOS
Livros provindos de uma grande história
narrativa pré-existente — chamado pelos exegetas
de História Deuteronomista — que abrangia
desde a entrada na terra prometida até a saída do exílio da Babilônia, onde o Deuteronômio era o
grande prólogo e chave teológica dessa história.
JOSUÉ
História da conquista da terra prometida, no século XIII a.C., favorecida pelo enfraquecimento dos impérios
Egípcio, Assírio e Hitita na região. Tem como
protagonista a figura de Josué.
JUÍZES
História da organização política do povo, por pessoas de
prestígio na sociedade, o Juízes. Intenta encher o vazio histórico que
transcorre em Canaã antes da monarquia.
RUTE
Uma
das obras-primas da narrativa hebraica, relata a história de Noemi, Rute e
Booz, em quatro cenas centrais. A simplicidade é um dos atrativos do relato.
I E II SAMUEL
Implantação
da monarquia em Israel, sob a guia de Samuel como juiz e profeta. Tem como
objetivo mostrar que a monarquia está submetida a palavra profética. Relata os
reinados de Saul e Davi.
I E II REIS
História
dos reis, até a cisma em dois reinos,
onde o reino do norte institucionaliza a idolatria enquanto o reino do sul permanece fiel. Continua a história
da monarquia começada
com Saul e Davi.
Mostra que a monarquia
não foi uma experiência de todo boa: poucos monarcas responderam a sua missão religiosa e política. Evidencia
a decadência do reinado, conduzindo uma narrativa paralela
dos dois reinos,
até a catástrofe sucessiva de ambos.
I E II CRÔNICAS
Repetição quase textual
de livros anteriores (Js, Jz, Sm, Rs). O que copia de outros ocupa metade da obra, as listas
ocupam quase a metade do resto,
com vários discursos no espaço remanescente.
ESDRAS
História do regresso do primeiro grupo
para Israel após a deportação para a Babilônia (586 a.C.) até a reconstrução do templo entre 538-516 a.C. (Ed. 1- 6).
Mostra a atividade de Ageu e Zacarias, com a
repatriação de importância capital, em 538 a.C., que descreve a continuidade do povo e de sua história.
NEEMIAS
História
do regresso do segundo grupo para Israel, separada por um intervalo de um
século da primeira, e encontro dos habitantes que haviam ficado na terra, os
samaritanos. Mostra a reorganização religiosa com Esdras e a reorganização
social com Neemias entre 458 e 420 a.C.
TOBIAS
História de Tobit. O autor o situa na Assíria, entre os
desterrados, por volta do século VIII a.C. É um relato francamente didático,
com montagem paralela, quase cinematográfica. Custou a afirmar-se como livro
canônico.
JUDITE
História
de Judite salvando uma cidade da conquista babilônica. Judite é personagem de uma história
fictícia, eficazmente camuflada em história
real, para animar a resistência e a rebelião de Israel frente à ameaça
do helenismo crescente e a Antíoco
VI Epífanes, líder dos Selêucidas e grande
inimigo do povo judeu, a quem o
livro de Judite parece se referir.
ESTER
História
de Ester e Mardoqueu, evitando a morte do povo judeu na diáspora judaica da Pérsia, sob
Xerxes. Tem caráter sapiencial, didático e espiritual, neutro no texto
hebraico original e mais saliente nos acréscimos em grego, caráter
escatológico, referindo-se ao julgamento definitivo, e caráter de etiologia
festiva, justificando a festa popular chamada Purim. Pertence aos livros deuterocanônicos.
I E II MACABEUS
O
primeiro livro é o relato da resistência de um
grupo de judeus à repressão
deflagrada por Antíoco IV, primeiro passiva até o martírio, depois abandonando
as cidades e por fim com a revolta a
mão armada. A independência veio no reinado do asmoneu João Hircano, época
do primeiro livro, com a intenção de exaltar a memória dos
combatentes e justificar a situação de sacerdote-rei do monarca. O segundo
livro é um resumo da obra
de Jasão de Cirene sobre Judas Macabeu e a resistência a Antíoco IV, até o ano 160 a.C., contada de forma teatral.
Aponta vários valores doutrinais como
a fé na ressurreição, a valentia dos mártires, a proteção divina como resposta
a oração confiante e o triunfo do bem sobre o mal.
LIVROS SAPIENCIAIS
Cinco dos livros — Jó, Provérbios, Eclesiastes,
Eclesiástico e Sabedoria — possuem forma sapiencial, formados por ditados,
máximas e aforismos. Salmos e Cântico dos Cânticos têm características
próprias.
JÓ
Criação
poética que discute o sentido do sofrimento humano, numa clara oposição a
doutrina tradicional da retribuição. De autoria de um gênio anônimo que viveu
provavelmente no desterro, com um prólogo e um epílogo em dois planos: o
celeste e o terrestre.
SALMOS
Livro
de orações, em cinco coleções desiguais, como uma espécie de pentateuco da
oração: 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150. A melhor classificação é por
gêneros literários: hinos e ação de graças, súplica comunitária, súplica
individual de perseguido ou de doente ou de inocente falsamente acusado, cantos
de confiança, salmos litúrgicos, salmos penitenciais, salmos sapienciais
meditacional ou histórico, e salmos reais por ou para o rei.
PROVÉRBIOS
Livro de preceitos para a vida moral, formado
por uma coleção
de pequenas coleções. Tem
três eixos principais: sensato/néscio no plano sapiencial, honrado/perverso no
plano moral, bem sucedido/fracassado
no plano material. Tem caráter anônimo e unidades minúsculas.
ECLESIASTES
O autor (Coelét), formado
em uma escola e tradição
sapienciais, desenvolve uma
crítica ao exercício da sabedoria, procurando compreender o sentido da vida.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Poesia sobre a sublimidade do amor. Numa coleção de canções
de amor, desenvolve o tema tanto em forma pessoal como em forma transcendente.
Rico em imagens e comparações.
SABEDORIA
Último livro do Antigo
Testamento, é um tratado sobre teologia política. Tem coincidências notáveis com
o Eclesiástico. A sabedoria ocupa no livro posição altíssima, mas a
justiça é o tema dominante do começo
ao fim.
ECLESIÁSTICO
Sabedoria
de Jesus Bem Sirac, muito lido na Igreja antiga. Tem com tema convencer que o máximo da sabedoria é o respeito ou
reverência a Deus, o que se traduz no cumprimento da lei.
LIVROS PROFÉTICOS
Os profetas viveram juntamente com o povo, principalmente
no reinado, cisma e deportação. Seus oráculos proféticos vão se reunindo em
coleções menores que depois formarão os livros proféticos, sempre compostos por
compiladores. Há três períodos proféticos bem demarcados pelo exílio
babilônico. A palavra de ordem dos profetas antes do exílio fora Castigo,
durante o exílio passa a ser Consolação, e após o exílio se torna Restauração.
ISAÍAS
O
livro é dividido em 3: proto-Isaías,
deutero-Isaías e trito-Isaías. No proto- Isaías — capítulos 1 a 39 — o profeta exerce
seu ministério nos reinados
de Joatão, Acaz e Ezequias, antes do exílio Assírio. O deutero-Isaías —
capítulos 40 a 55 — é obra de um profeta anônimo,
com uma mensagem
de esperança entre os desterrados no final do exílio da Babilônia. O trito-Isaías
—
capítulos 56 a 66 —, obra ou do mesmo autor do deutero-Isaías ou um discípulo
dele, tem como tema o desencanto e o decaimento da fidelidade após o exílio.
JEREMIAS
Profeta
do período anterior ao exílio da Babilônia, exerce seu ministério nos reinados de Josias, Joacaz, Joaquim, Jeconias
e Sedecias. Acaba levado a força para o Egito. Tem como tema a conversão, a não
rebelião a fim de evitar uma segunda deportação, e a idolatria
no templo. Seu livro é composto
de oráculos em verso, narrações e discursos
deuteronomistas.
LAMENTAÇÕES
Poesia
alfabética de lamentações sobre a destruição de Jerusalém pelos babilônicos, em
cinco partes, atribuída a Jeremias.
BARUC
Secretário,
porta-voz e companheiro de Jeremias. O livro é um escrito pseudônimo,
deuterocanônico, cujo original hebraico é desconhecido, com três partes bem
definidas: oração penitencial, reflexão sobre a sabedoria e promessa de retorno
à pátria.
EZEQUIEL
Contemporâneo
de Jeremias, profeta das visões, exerce seu
ministério sete anos antes
da queda de Jerusalém, continuado no exílio babilônico. Possui um estilo marcadamente sacerdotal. O livro possui duas partes: a primeira com tarefa
de destruir sistematicamente a falsa esperança, seguido de um entreato de
silêncio forçado, e a segunda formada
por uma mensagem de pura esperança.
DANIEL
Livro
escrito em três línguas (hebraico, aramaico e com adições em grego), com duas
divisões distintas: relatos (capítulos 1 a 6) e visões (capítulos 7 a 12).
Composto durante a perseguição de Antíoco IV Epífanes (cf. detalhes do capítulo
11), destina-se a infundir alento e esperança aos judeus perseguidos, de
maneira velada. Apresenta um personagem heróico chamado Daniel, ambientado na
época de Nabucodonosor, provavelmente inspirado em um personagem bondoso e
sábio da antiguidade (Dan’el, cf. poemas ugaríticos de Aqhat, a lenda de
Dan’el, de XIV a.C.). No cânon judeu, o livro não é considerado profético, e
sua posição é entre Ester e Esdras, nos “escritos”.
OSÉIAS
Profeta
acusador, exerce seu ministério no reino do Norte, no reinado de Jeroboão II. O
tema é a infidelidade ao Senhor, em forma de símbolo conjugal, apresentada como
fornicação, prostituição e adultério.
JOEL
Profeta
ligado ao culto. O livro possui duas
partes: a praga de gafanhotos com a liturgia penitencial de luto e súplica
(capítulos 1 e 2) e o julgamento das nações em estilo apocalíptico (capítulos 3 e 4). A unidade é a referência ao “Dia do Senhor”. A profecia
da efusão do espírito profético sobre todo o povo de Deus (3,1-5) o faz o
profeta de Pentecostes.
AMÓS
Contemporâneo de Oséias, era vaqueiro e agricultor, e exerce seu ministério também no reino do Norte, no
reinado de Jeroboão II. É um profeta de vibrantes
denúncias. O livro possui uma disposição um tanto confusa, mas termina em tom
de esperança.
ABDIAS
O
livro é o mais curto dos profetas, com apenas
21 versículos. Tem como tema a tensa relação entre Israel e Edom. Profetizou
contra Edom pouco depois de 586 a.C., por ocasião
da colaboração dos edomitas com as tropas
de Nabucodonosor para sitiar Jerusalém.
JONAS
Livro
provavelmente escrito após o exílio, no século V a.C., apresenta um
antiprofeta, que não quer ir aonde o Senhor lhe envia, nem dizer o que o Senhor lhe ordena.
O estilo do livro é a narração
em prosa considerada pelos exegetas com uma das melhores dos clássicos hebreus.
O tema do livro é a
misericórdia, porém não aos judeus,
mas aos pagãos babilônicos, povo que era símbolo de crueldade, opressão e agressão contra Israel. Deixa
claro que Deus não é somente
o Deus dos judeus, é também o Deus dos pagãos.
MIQUÉIAS
De
origem camponesa como Amós, exerce seu ministério
nos reinados de Acaz e Ezequias, antes e depois
da tomada de Samaria em 721 a.C. e talvez
até o cerco de Jerusalém por Senaqueribe em 701
a.C.. É, em parte, contemporâneo de Oséias e, por mais tempo, de Isaías. No livro se alternam ameaça e promessa. Anuncia com segurança
a desgraça do povo. É dele a profecia da origem
do Messias em Belém de Éfrata.
NAUM
Descreve
com exaltada paixão a queda do
império assírio, após Assurbanipal, o último
rei importante desse império.
As profecias do livro são pouco
anteriores à queda de Nínive (612 a.C.), capital da Assíria. O autor é
considerado um grande poeta.
HABACUC
Contemporâneo
a Naum, exerce seu ministério no
decênio 622 a.C. – 612 a.C., época da
Assíria decadente e Babilônia renascente, um
tempo de opressão e violência, em que
Israel pode se tornar joguete dos
impérios. O livro é escrito
em forma de um diálogo
dramático entre o profeta e Deus, num jogo de ver e escutar.
SOFONIAS
Vive
à sombra do seu contemporâneo Jeremias, exercendo seu ministério no reinado de
Josias, denunciando o retorno do povo ao sincretismo pagão após a morte
inesperada de seu rei. Pressente a queda de Jerusalém, apresentando o tema do
dia da cólera — o Dia de Iahweh — onde só se salvará um resto,
AGEU
Exerce
seu ministério no reinado de Dario
da Pérsia, de agosto a dezembro de
520 a.C., reavivando as energias de um povo
desencorajado de reconstruir seu país em ruínas, no retorno do exílio babilônico. O livro consta de quatro breves oráculos, sobre o
tema do templo e a irrupção da era escatológica que virá com a sua reconstrução.
ZACARIAS
Profeta
inspirador da reconstrução do templo, exerce seu ministério até os anos de 518
a.C., como seu contemporâneo Ageu. O livro compõe-se de duas partes diferentes
em estilo, conteúdo e intenção, o que leva a crer em dois autores: a primeira
se ocupando do templo, num livro de visões, e a segunda prescindindo dele, num
livro de oráculos.
MALAQUIAS
Autor desconhecido, Malaquias significa Mensageiro do Senhor. Por indícios
presume-se ser do século V a.C.,
posterior à reconstrução do templo, mas anterior à reforma de Esdras e Neemias.
O livro é escrito na forma diálogo com os ouvintes, e tem como tema as faltas
cultuais e os matrimônios mistos. Sobre a era messiânica, profetiza sobre o Precursor.
EVANGELHOS
Os Evangelhos meditam
sobre fatos da vida de Jesus. Mateus, Marcos e Lucas são muito semelhantes,
podendo ser abarcados com um só olhar,
ao contrário de João. A gênese literária
dos três primeiros, conhecida por Questão Sinótica, admite entre eles
interdependências diretas e fontes comuns, além de redações intermediárias. Já o último,
o consenso é de uma redação autônoma, com alguma interdependência com o evangelho de Lucas, onde há relações
estreitas. Indiscutível, no entanto, são a
origem apostólica direta ou indireta dos quatro evangelhos e seu valor histórico.
MATEUS
Escrito para judeus-cristãos, não explica usos e tradições judaicas,
antes os respeita, estima e
explora. Aduz com freqüência textos
do Antigo Testamento (mais de sessenta) que se cumprem em Jesus. Apresenta Jesus como antítipo de Moisés e superior a
ele. Chama de igreja a comunidade cristã, para ele continuadora legítima do Israel histórico. Insiste no tema do Reino
de Deus (= dos Céus). O livro distingue-se pela clareza de composição e exposição, num tom
didático. Divide-se em cinco
livrinhos, como novo Pentateuco, composto de cinco discursos centrais
(1. sermão da montanha, 2. missão dos apóstolos, 3.
parábolas, 4. instruções à comunidade, 5. escatológico), introduzidos por fatos
escolhidos para prepará-los. Soma-se uma introdução da infância e o desfecho da
paixão e ressurreição, totalizando sete partes.
MARCOS
Escrito
para convertidos de língua grega, a quem é preciso explicar termos e costumes
judaicos. Seu tema é a pessoa de Jesus e a reação do povo a sua pessoa,
preocupando-se menos com seu ensinamento e referindo poucas palavras suas.
Apresenta Jesus incompreendido e rejeitado pelos homens (família, concidadãos,
discípulos, poder religioso e político), mas enviado e triunfante por Deus.
Apresenta o tema do segredo messiânico, com Jesus cercando de silêncio seus
milagres e sua pessoa. O estilo é de leitura fácil, mas por trás da
simplicidade há contrapontos que escondem expressões simbólicas do mistério. O
livro se divide em 1. introdução, 2.
ministério na Galiléia, 3. intermédio na Fenícia e Cesaréia, 4. caminhada para Jerusalém, 5. acolhida
em Jerusalém e discurso
escatológico, 6. paixão e
ressurreição.
LUCAS
Escrito
em um grego mais aprimorado, oferece
uma mensagem acessível a leitores pagãos.
Usa Jerusalém como centro
espacial, de onde tudo começa e para onde se dirige, na grande viagem ascensional: é
o livro do caminho. A pesquisa pessoal do autor lucano trouxe uma rica
contribuição à mensagem evangélica. Como tema destaca-se a universalidade (genealogia remontando Adão, pregação
aberta aos pagãos, personagens romanas), a misericórdia, a alegria, o papel
saliente das mulheres, a ternura com os pecadores, a ação do Espírito Santo. Possui um estilo cativante, elaborado, de
qualidade excelente. É rico em doutrina.
O livro apresenta, após um prólogo, 1. uma introdução notável em blocos paralelos, 2. ministério na
Galiléia, 3. grande viagem
ascensional, 4 . em Jerusalém,
paixão, ressurreição e ascensão. É o único evangelho que relata a ascensão.
JOÃO
Originado em
um ambiente judaico-cristão, quer dar a entender
o sentido da vida, gestos e palavras de Jesus. Domina a encarnação do Verbo, que se passa
no tempo, mas tem suas raízes
na eternidade. Nos pontos
essenciais tem semelhança com a
pregação querigmática, mas é obra complexa com
caráter cultual e sacramental. As festas litúrgicas judaicas são elementos estruturais do relato. Os
acontecimentos da vida de Jesus são sinais
para confirmar sua missão, mas
também carregam uma dimensão espiritual evidenciando os mistérios divinos. Os
sacramentos aparecem por referências oblíquas. Na composição do livro podem ser observados duas séries de dias (as duas semanas
de João) e um ciclo de festas. O livro, após o
prólogo, pode ser dividido em duas partes: o livro dos Sete Sinais
(capítulos 2 a 12) e o livro da Hora de Jesus
(capítulos 13 a 20). No livro dos Sete Sinais distinguem-se três
blocos: 1. em Caná e de Caná (capítulos 2 a 4), na semana
inicial (sinais: vinho, filho do funcionário real), 2. ciclo de festas
(capítulos 5 a 10), com quatro
festas (Pentecostes talvez, Páscoa, Tendas e Dedicação do Templo, sinais:
paralítico, pães, caminhar sobre o
mar, cego), 3. último sinal e começo
da semana final (capítulos 11 a 12),
em Jerusalém (sinal: Lázaro).
No livro da Hora de Jesus, distinguem-se também três blocos: 1. grande despedida no cenáculo (capítulos
13 a 17), 2. paixão (capítulos 18 a
19), 3. ressurreição
(capítulo 20). Segue um
acréscimo posterior
(capítulo 21).
ATOS DOS APÓSTOLOS
ATOS DOS APÓSTOLOS
Continuação
do Evangelho de Lucas, possui os mesmos destinatários e as mesmas
características (vocabulário, gramática e estilo). O relato que une as duas obras é a ascensão.
É a continuação do caminho.
Tem com objetivo narrar a história das origens do
Cristianismo. Exibe uma constância sacramental e litúrgica da Igreja nascente.
Dois protagonistas dividem a obra: Pedro (capítulos 1 a 12) e a Igreja de
Jerusalém e Paulo (capítulos 13 a 28) e sua viagens
missionárias, mas o verdadeiro protagonista do livro todo é o Espírito Santo agindo na sua Igreja. A expansão geográfica é
evidente, partindo de Jerusalém. Mostra também um desprender-se, não pretendido, do judaísmo. O estilo da obra é
narrativo, sobressaindo os relatos com discursos inclusos, gênero único no Novo Testamento.
EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO
As epístolas de Paulo são
escritos ocasionais, não tratados de teologia, mas respostas a situações
concretas. Vê-se nelas, na sua ordem cronológica, a evolução contínua de sua teologia. Escritos posteriores,
atribuídos inicialmente a Paulo pela Tradição, revelaram-se posteriormente
escritos de discípulos pertencentes à escola paulina, recorrendo à pseudonímia.
As epístolas Proto-Paulinas são seguramente
autênticas, de autoria do Apóstolo
Paulo, e são aceitas
por todos os estudiosos (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses, Filemon).
As Deutero- Paulinas não tem autenticidade segura, sendo negada
por um certo número de estudiosos (Efésios,
Colossenses, II Tessalonicenses). A Trito-Paulinas dificilmente seriam de
Paulo, pois usam uma linguagem
diversa e tratam de problemas que
existiam nas comunidades no final do I século (I Timóteo, II Timóteo, Tito).
ROMANOS
Escrita
aos cristãos em Roma, cuja situação Paulo tem conhecimento através de Prisca e Áquila em Corinto,
em sua 2ª viagem. Escrita
por ocasião da 3ª viagem
(57-58 d.C.), em Corinto. Tem como
tema a gratuidade da salvação pela fé em Jesus Cristo e não pela observância da
Lei. Esta salvação se dirige a todas
as pessoas: judeus e não-judeus. Aborda de maneira serena, ordenada e
aprofundada o tema já abordado de
maneira polêmica na carta aos Gálatas.
I
CORÍNTIOS
Escrita
aos cristãos de Corinto, comunidade fundada por ele por ocasião de sua
2ª viagem. Escrita na Páscoa de 57, em
Éfeso, na sua 3ª viagem, onde
recebe más notícias daquela comunidade. Escreve uma primeira carta, hoje
perdida, e com a chegada de outras más notícias, esta carta. Tem com tema
a superação dos conflitos na comunidade (conduta ética, unidade ante a divisão, caso de incesto,
prática de prostituição, dúvidas sobre o matrimônio,
virgindade e escravidão, celebrações agitadas, o lugar da mulher na comunidade,
mau uso dos dons, cristãos que acreditavam na ressurreição apenas como a
sobrevivência da alma). Opõe Cristo, sabedoria de Deus, à vã sabedoria do mundo. Acima reina soberano o amor.
II CORÍNTIOS
É
considerada uma compilação de bilhetes escritos aos cristãos de Corinto, de
autoria paulina. Presume-se que, pouco depois da Páscoa de 57 d.C. uma crise em
Corinto o obrigou a uma rápida visita, com promessa de retorno, anunciado quase
como ameaça. Mas uma grave ofensa fê-lo substituir
a visita por uma severa carta “em lágrimas”, onde os capítulos 10 a 13 parecem
ser uma parte. Os capítulos iniciais, com tom de ternura confiante, destoam do
tom violento dos capítulos 10 a 13, e supõe-se ser a carta conciliadora escrita
em fins de 57 d.C. após, por meio de Tito, na Macedônia, saber do feliz
resultado de sua carta “em lágrimas”, e então renunciar à sua terceira visita.
Supõe-se que a perícope 6,13–7,1, por sua posição violenta, tema e estilo, seja
um fragmento da carta perdida mencionada em 1ª Cor. Os capítulos 8 e 9 são
provavelmente um ou dois bilhetes sobre a coleta para a Igreja pobre de
Jerusalém.
GÁLATAS
Escrita na Páscoa de 57, em Éfeso,
na sua 3ª viagem,
após receber notícias da região gálata, percorrida em sua 2ª
e 3ª viagens. Tem com tema a
passagem da escravidão (lei) para a liberdade (fé), com a gratuidade da salvação pela fé em Jesus Cristo e
não pela observância da Lei, contra os judaizantes que queriam obrigar o
seguimento da lei mosaica.
EFÉSIOS
Escrita entre os anos 80 a 100, atribuída à escola paulina.
Conjectura-se ser uma
carta circular à todas as igrejas, da qual restou
o manuscrito com esses
destinatários. Tem como tema a Igreja universal, povo de Deus, esposa do Messias, corpo em
crescimento, não mais a soma de igrejas locais. É eclesiológica. O
desenvolvimento não é claro, mas é coerente.
FILIPENSES
Escrita
aos cristãos de Filipos, primeira comunidade européia fundada por ele por
ocasião de sua 2ª viagem. Escrita em 54, durante uma prisão em Éfeso, não
mencionada nos Atos. É um escrito pouco doutrinal, antes uma troca de notícias.
Entre os temas, ressalta-se uma advertência contra os maus operários e um apelo
a unidade na humildade, com o admirável hino da aniquilação de Cristo (2,6-11),
testemunho da fé primitiva na pré- existência divina de Jesus. Conjectura-se
ser o conjunto de diversos bilhetes.
COLOSSENSES
Atribuída à escola paulina,
escrito não se sabe ao certo onde e quando.
Falta conceitos paulinos, como fé, lei, justiça, salvação e revelação. O
autor se encontra preso. Tem como
tema o perigo de um grave desvio
doutrinal causado por gnosticismos e religiões mistéricas. Desenvolve uma cristologia avançada, de caráter cósmico:
Cristo é a imagem do Deus invisível.
I TESSALONISSENSES
Escrita
no ano 51, em Corinto, na sua 2ª
missão, aos cristãos de Tessalônica, após enviar Timóteo à comunidade, que
voltou trazendo boas notícias e uma questão teológica. Após a ação de graças
pela fé, esperança e amor na comunidade, do desejo
voltar para completar a formação dos Tessalonicenses, trata do problema
teológico da parusia
iminente. No tema, expõe como vai ser a ressurreição dos corpos.
II TESSALONISSENSES
Escrita
em Corinto, logo após a primeira
carta, aos mesmos destinatários, por causa das conseqüências abusivas da
primeira carta (interpretaram que não valia a pena trabalhar e ocupar-se
com os assuntos da vida terrena). O tema é novamente
a parusia, agora
não mais iminente, e o fim deste mundo. Os cristãos devem trabalhar e
esperar, e não especular sobre o assunto.
I E II TIMÓTEO, TITO
São
atribuídas a escola paulina, escritas no final do primeiro século, com conteúdo, forma e contexto
estreitamente relacionados. O grego é helenístico, faltam palavras típicas do
vocabulário paulino. São escritos de caráter pessoal, com personagens ilustres
como destinatários, com responsabilidades
frente às comunidades cristãs. Têm como tema garantir as igrejas com instituição, conservar o ensinamento
tradicional e defender- se das
ameaças de desvio doutrinal, com o
combate velado ao gnosticismo (através de enunciados contrários aos seus
princípios) e ao culto ao imperador (atribuindo a Cristo seus títulos).
O ímpeto de evangelizar se torna esforço por manter. A 1ª Timóteo, ao bispo de Éfeso, traz recomendações de como ele deve
se comportar frente a comunidade. A
2ª Timóteo é uma exortação mais pessoal, onde Paulo recorda seu ministério e prepara-se para morrer. A
de Tito, jovem bispo de Creta, na
Grécia, sobressai entre os conselhos as duas doutrinas cristológicas.
FILÊMON
Pequena jóia de Paulo,
foi escrita na prisão de Roma nos anos 61 a 63 d.C., a Filêmon, cristão de Colossas, dono de um escravo (Onésimo)
convertido por Paulo no cativeiro em Roma.
Revela o coração delicado de Paulo, que superpõe o amor e a fraternidade cristã
às relações jurídicas.
HEBREUS
De autor desconhecido, é anterior à destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.). O texto supõe leitores versados na antiga Aliança, convertidos do
judaísmo ou desejosos de se converter
(daí o título ‘aos Hebreus’ atribuído no século II). Em língua grega mais pura e elegante que a de Paulo, traz os ensinamentos
do Apóstolo, com a utilização ostensiva de referências ao Antigo Testamento; a
maneira de citar, porém, não é paulina. Falta o endereço e o preâmbulo das suas
cartas. Vários pontos são apresentados
de forma diversa dos ensinamentos de Paulo, embora não o contradiga: a concepção da fé, a atitude menos
dura perante a lei, a Cristologia. O objetivo
é cristológico. O tema central é o sacerdócio de Jesus Cristo e o conseqüente
culto cristão, em oposição ao antigo
culto. Segue uma exortação final à constância da fé, aduzindo personagens como modelos.
EPÍSTOLAS CATÓLICAS
Sete epístolas reunidas bem cedo numa mesma coleção, não obstante suas origens diversas. Seu
título muito antigo de católicas (universais) provavelmente se deu pelo fato de a maioria delas não ser dirigida a comunidades ou pessoas em
particular, mas visar os cristãos em geral.
TIAGO
Obra
pseudônima de autor incerto, escrita no final do século I. Trata de assuntos bem cristãos: a relação fé e obras, a regeneração pela palavra e a
lei da liberdade. Possui relação estreita com
I Pd. O estilo é sapiencial, pródigo em
imperativos. Demorou a ser aceita
com canônica. Tem como temas:
paciência nas provações, fé e obras,
domínio da língua, sabedoria, cobiça e inveja, maledicência, oração.
I PEDRO
Escrita
para pagãos convertidos, a autoria tem discussão indefinida. Pode ter sido
Pedro, ancião e prisioneiro, próximo da morte, escrevendo uma espécie de
testamento, portanto próximo de 67 d.C.; ou é pseudônima, de um autor do
círculo de Pedro, com traços hábeis
para tornar verossímil, em tempos difíceis,
para animar outros
fiéis na perseguição de Domiciano (95 a
96 d.C.). A linguagem e o estilo grego são impróprios
para um pescador galileu. Faltam lembranças pessoais de um companheiro íntimo de Jesus.
A carta muda de tema sem avisar.
Seus temas são: esperança cristã,
conduta moral, Cristo pedra viva, vida cristã, casais, paciência, morte e
ressurreição de Cristo, batismo, hostilidade do mundo, anciãos e jovens.
II PEDRO
Escrita
para pagãos convertidos, é seguramente de autor pseudônimo, devido as repetidas
vezes que o autor se trai, ao estilo
de sabor helenístico, e a evidente
semelhança com Jd, que foi modelo
para essa carta. É datado do
final do século I. Tem com temas: o atraso da parusia, as heresias, a exortação
à paciência e à esperança.
I JOÃO
Escrito
para uma comunidade constituída, mista de pagãos e judeus convertidos,
certamente da Ásia, acredita-se ser o
próprio apóstolo João o autor, dada as semelhanças de vocabulário, estilo e
doutrina com o evangelho de João. Pela semelhança de doutrina, presume-se uma redação próxima a
do evangelho, opinião não completamente aceita. É doutrinal, cristológica. O
tema do livro são os cismáticos ou
apóstatas, e os critérios para discerni-los. Os ensinamentos são: Deus é luz, é amor,
é Pai de Jesus, que é seu Filho feito homem, é o Messias que desfaz o pecado; o
Espírito nos unge, habita em nós, faz
confessar, dá testemunho.
II E III JOÃO
A autenticidade da autoria foi uma dúvida
na antiguidade, não compartilhada
atualmente. Presume-se que a redação se deu
no final do século I. A brevidade as coloca como bilhetes. O problema da
segunda é doutrinal, cristológico. O problema da terceira é de organização,
pela ambição de um rival.
JUDAS
Escrito pseudônimo do final do século I. Possui citações a apócrifos, levando a
crer num judeu helenista como autor. O tema é contra falsos
mestres, com recomendações aos fiéis. A carta não é atraente, recrimina sem argumentar.
APOCALIPSE
APOCALIPSE
Escrito
para as sete igrejas da Ásia, de um autor
chamado João, provavelmente não o evangelista, mas não pseudônimo. No desterro,
tem como objetivo prevenir e antecipar a grande perseguição que se avizinha. A maioria dos comentaristas se
inclina a datar a redação na época do imperador Domiciano (81 a 96 d.C.).
É o livro da esperança
cristã. O gênero é
apocalíptico, com elementos típicos
do gênero: números, cores, imagens, intérprete, recurso ao Antigo Testamento,
construção. Permeiam o texto hinos minúsculos, e uma grande liturgia celeste. O
tema, passadas as sete cartas às igrejas, é a luta da Igreja com os poderes hostis. A obra assume uma
construção numérica (introdução, 7 selos, 7 trombetas, 7 visões da mulher, do
dragão e das feras, 7 visões do Cordeiro e dos anjos, 7 taças, 7 visões da
queda da Babilônia, 7 visões da batalha e vitória final, epílogo) e uma construção geométrica concêntrica ABCDCBA
(A. introdução, B. julgamento da comunidade, C. sete selos e sete trombetas, D. perseguição e perseverança, C. sete taças e sete visões
da Babilônia, B. julgamento,
salvação e nova criação, A. epílogo)
BIBLIOGRAFIA:
·
Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum” [DV], de 18 de novembro
de 1965;
·
Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1ª ed, São Paulo, Vozes, 1993;
·
A Bíblia de Jerusalém, 7ª ed., São Paulo, Paulus,
1995 — Introduções;
·
Bíblia do Peregrino, 1ª ed, São Paulo: Paulus, 2002,— Introduções;
·
Bíblia Sagrada Edição Pastoral, 1ª ed, São Paulo, Paulus, 1990 —
Introduções;
· Material
de aula de “Introdução as Sagradas Escrituras”, Irmão
Albino Affonso Ludwig, EFAP-RE1, São Carlos, 2004;
· Material
de aula de “Historicidade Bíblica”, João
Virgílio Tagliavini, EFAP-RE1, São Carlos, 2004;
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