25 março 2020

Introdução ao Estudo das Sagradas Escrituras (Parte 02): Autoria Bíblica, Inspiração e Verdade Bíblica, Interpretação Bíblica, Comentário geral dos 73 livros canônicos

CRISTO – PALAVRA ÚNICA DA SAGRADA ESCRITURA

Na condescendência de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens fala-lhes em palavras humanas. (CIC 101, cit. DV13)
Nos Livros Sagrados o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. (CIC 104, cit. DV 21)
Através de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo Único, no qual se expressa por inteiro. (CIC 102)
A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como venera também o Corpo do Senhor; sobretudo na sagrada liturgia, ela não cessa de apresentar e distribuir aos fiéis o Pão da Vida, tanto da Mesa da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo. (CIC 103, cit. DV 21)

INSPIRAÇÃO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA

Deus é o autor da Sagrada Escritura. (CIC 105)
As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo. Escritos sob a Inspiração do Espírito Santo, eles tem Deus como autor. (CIC 105, DV 11)
Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. (CIC 106)
Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e através deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e aquilo que ele próprio quisesse. (CIC 106, cit. DV 11)
Os livros inspirados ensinam a verdade. (CIC 107)
Já que tudo o que os autores inspirados afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros de Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras. (CIC 107, cit. DV 11)
Para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições da época e da cultura deles, os gêneros literários em uso na época, os modos de sentir, falar e narrar correntes na época. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão. (CIC 110, cit. DV 12)

O ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DA ESCRITURA

Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles. (CIC 110, DV 12)
A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita. (CIC 111, cit. DV 12)

“O que vem do Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito.”
Orígenes, Homilia in Ex. 4,5

Resultado de imagem para Bíblia em pergaminhoHá três critérios para interpretar a Escritura conforme o Espírito que a inspirou:

         ·         Prestar muita atenção ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira; (CIC 112, cit. DV 12)
·         Ler a Escritura dentro da Tradição viva da Igreja inteira; (CIC 112, cit. DV 12)
·         Estar atento à analogia da fé, a coesão das verdades entre si e no projeto total da Revelação (CIC 112, cit. DV 12)

Distingue-se dois sentidos da Sagrada Escritura: o literal e o espiritual. (CIC 116)

                  ·         O sentido literal é o sentido significado pelas palavras e descoberto pela exegese, seguindo as regras da correta interpretação. (CIC 116)
                 ·         O sentido espiritual: é o sentido em que as realidades e acontecimentos de que fala o texto sagrado podem ser sinais. O sentido espiritual é subdividido em:
§  O sentido alegórico: é a compreensão profunda das realidades e acontecimentos reconhecendo a significação em Cristo.
§  O sentido moral: é o justo agir apontado pelas realidades e acontecimentos relatados na Escritura.
§  O sentido anagógico: é a significação eterna das realidades e acontecimentos. (CIC 117)

“A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que deves crer;
a moral, o que deves fazer; a anagogia, para onde deves caminhar.”
Dístico medieval

É dever dos exegetas esforçar-se, dentro destas diretrizes, por entender e expor com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que preparatório, amadureça o julgamento da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem à maneira de interpretar a Escritura estão sujeitas em última instância ao juízo da Igreja, que exerce o divino mandamento do ministério do guardar e interpretar a Palavra de Deus. (CIC 119, cit. DV 12)

“Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica”.
Santo Agostinho
Contra epistulum Manichæi quam vocant fundamenti, 5,6: PL 42,176

O CÂNON DAS ESCRITURAS

A Tradição apostólica fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. Esta lista completa é denominada Cânon das Escrituras, comportando 46 livros para o Antigo Testamento e 27 para o Novo. (CIC 120, cit. DV 8)
A historicidade do Cânon das Escrituras é evidenciada nos primeiros séculos por documentos como o Cânon de Muratori e o Cânon de Marcião.
O ANTIGO TESTAMENTO
É parte inalienável da Sagrada Escritura. A economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo. Embora contenham ciosas imperfeitas e transitórias, os livros do Antigo Testamento dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Nos seus ensinamentos está latente o mistério da nossa salvação. (CIC 122, DV 15).


O NOVO TESTAMENTO
A Palavra de Deus, que é a força de Deus para a salvação de todo crente, é apresentada e manifesta o seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento. (CIC 124, cit. DV 17)
Estes escritos fornecem-nos a verdade definitiva da Revelação divina.
Seu objeto central é Jesus Cristo. (CIC 124, cit. DV 20)
Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, uma vez que constituem o principal testemunho sobre a vida e a doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador. (CIC 125, cit. DV 18)

A UNIDADE ENTRE O ANTIGO TESTAMENTO E O NOVO TESTAMENTO

A Igreja, nos tempos apostólicos, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graças à tipologia. Esta discerne nas obras da Antiga Aliança prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu Filho.
Por isso os cristãos lêem o Antigo testamento à luz de Cristo. Essa leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Também o Novo Testamento exige ser lido à luz do Antigo.

“Novum in Vetere latet et in Novo Vetus patet.“
(O Novo no Antigo se esconde e no Novo o Antigo é desvendado)
Santo Agostinho Quæstiones in Heptateucum, 2,73, PL 34,623

A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA

É tão grande o poder e a eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza de fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual. (CIC 131, cit. DV 21)
É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiéis. (CIC 131, cit. DV 22)
Que o estudo das Sagradas Páginas seja como que a alma da Sagrada Teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente floresce o ministério da palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia litúrgica. (CIC 132, cit. DV 24)
A Igreja exorta com veemência e de modo peculiar todos os fiéis cristãos... a que, pela freqüente leitura das divinas Escrituras, aprendam a “eminente ciência de Jesus Cristo” (Fl 3,8). (CIC 133, cit. DV 25)



“Porquanto ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.”
                                                                                                                    São Jerônimo



LIVROS DA BÍBLIA
PENTATEUCO
Conjunto dos cinco primeiros de livros, tradicionalmente agrupados, mas não absolutamente. Pelo tema — promessa e cumprimento — o relato começaria com Abraão (depois de uma breve pré-história) e se concluiria com Josué e a repartição da terra prometida para as doze tribos de Israel, alternativa chamada Hexateuco. Pela forma o Deuteronômio revela pertencer como uma grande abertura ao corpo narrativo seguinte, desde a entrada na terra prometida até a saída do exílio — Josué, Juízes, I e II Samuel e I e II Reis alternativa chamada Tetrateuco. Quatro fontes deram origem ao Pentateuco, chamadas pelos exegetas de Javista (J), Eloísta (E), Deutoronomista (D) e Sacerdotal (P).

GÊNESIS
É o livro das origens: origem do mundo, origem do mal, origem das culturas, da dispersão dos povos, da pluralidade de línguas, origem da salvação, origem dos patriarcas. Tenta dar uma resposta histórica a grandes enigmas do homem: o cosmo, a vida e a morte, o bem e o mal, o indivíduo e a sociedade, a cultura e a religião.

ÊXODO
É o livro da libertação povo judeu do Egito e da aliança com seu código, dos primeiros passo no deserto e da elaboração do instrumental de culto.

LEVÍTICO
Compilação de leis sacerdotais, de redação tardia, pós-exílio, como a lei de santidade e algumas com elementos muito antigos, como as proibições alimentares.

NÚMEROS
Chamado pelos judeus de “No deserto”, descreve a transladação dos israelitas do Sinai, passando em torno a Cades, até os campos de Moab. Contém um recenseamento do povo judeu.

DEUTERONÔMIO
É uma recapitulação dos três livros anteriores, com muito de código legal, na forma de um longo discurso de Moisés.
LIVROS HISTÓRICOS

Livros provindos de uma grande história narrativa pré-existente — chamado pelos exegetas de História Deuteronomista que abrangia desde a entrada na terra prometida até a saída do exílio da Babilônia, onde o Deuteronômio era o grande prólogo e chave teológica dessa história.

JOSUÉ
História da conquista da terra prometida, no século XIII a.C., favorecida pelo enfraquecimento dos impérios Egípcio, Assírio e Hitita na região. Tem como protagonista a figura de Josué.

JUÍZES
História da organização política do povo, por pessoas de prestígio na sociedade, o Juízes. Intenta encher o vazio histórico que transcorre em Canaã antes da monarquia.

RUTE
Uma das obras-primas da narrativa hebraica, relata a história de Noemi, Rute e Booz, em quatro cenas centrais. A simplicidade é um dos atrativos do relato.

I E II SAMUEL
Implantação da monarquia em Israel, sob a guia de Samuel como juiz e profeta. Tem como objetivo mostrar que a monarquia está submetida a palavra profética. Relata os reinados de Saul e Davi.

I E II REIS
História dos reis, até a cisma em dois reinos, onde o reino do norte institucionaliza a idolatria enquanto o reino do sul permanece fiel. Continua a história da monarquia começada com Saul e Davi. Mostra que a monarquia não foi uma experiência de todo boa: poucos monarcas responderam a sua missão religiosa e política. Evidencia a decadência do reinado, conduzindo uma narrativa paralela dos dois reinos, até a catástrofe sucessiva de ambos.

I E II CRÔNICAS
Repetição quase textual de livros anteriores (Js, Jz, Sm, Rs). O que copia de outros ocupa metade da obra, as listas ocupam quase a metade do resto, com vários discursos no espaço remanescente.



ESDRAS
História do regresso do primeiro grupo para Israel após a deportação para a Babilônia (586 a.C.) até a reconstrução do templo entre 538-516 a.C. (Ed. 1- 6). Mostra a atividade de Ageu e Zacarias, com a repatriação de importância capital, em 538 a.C., que descreve a continuidade do povo e de sua história.

NEEMIAS
História do regresso do segundo grupo para Israel, separada por um intervalo de um século da primeira, e encontro dos habitantes que haviam ficado na terra, os samaritanos. Mostra a reorganização religiosa com Esdras e a reorganização social com Neemias entre 458 e 420 a.C.

TOBIAS
História de Tobit. O autor o situa na Assíria, entre os desterrados, por volta do século VIII a.C. É um relato francamente didático, com montagem paralela, quase cinematográfica. Custou a afirmar-se como livro canônico.

JUDITE
História de Judite salvando uma cidade da conquista babilônica. Judite é personagem de uma história fictícia, eficazmente camuflada em história real, para animar a resistência e a rebelião de Israel frente à ameaça do helenismo crescente e a Antíoco VI Epífanes, líder dos Selêucidas e grande inimigo do povo judeu, a quem o livro de Judite parece se referir.

ESTER
História de Ester e Mardoqueu, evitando a morte do povo judeu na diáspora judaica da Pérsia, sob Xerxes. Tem caráter sapiencial, didático e espiritual, neutro no texto hebraico original e mais saliente nos acréscimos em grego, caráter escatológico, referindo-se ao julgamento definitivo, e caráter de etiologia festiva, justificando a festa popular chamada Purim. Pertence aos livros deuterocanônicos.

I E II MACABEUS
O primeiro livro é o relato da resistência de um grupo de judeus à repressão deflagrada por Antíoco IV, primeiro passiva até o martírio, depois abandonando as cidades e por fim com a revolta a mão armada. A independência veio no reinado do asmoneu João Hircano, época do primeiro livro, com a intenção de exaltar a memória dos combatentes e justificar a situação de sacerdote-rei do monarca. O segundo livro é um resumo da obra de Jasão de Cirene sobre Judas Macabeu e a resistência a Antíoco IV, até o ano 160 a.C., contada de forma teatral. Aponta vários valores doutrinais como a fé na ressurreição, a valentia dos mártires, a proteção divina como resposta a oração confiante e o triunfo do bem sobre o mal.
LIVROS SAPIENCIAIS

Cinco dos livros — Jó, Provérbios, Eclesiastes, Eclesiástico e Sabedoria — possuem forma sapiencial, formados por ditados, máximas e aforismos. Salmos e Cântico dos Cânticos têm características próprias.

JÓ
Criação poética que discute o sentido do sofrimento humano, numa clara oposição a doutrina tradicional da retribuição. De autoria de um gênio anônimo que viveu provavelmente no desterro, com um prólogo e um epílogo em dois planos: o celeste e o terrestre.

SALMOS
Livro de orações, em cinco coleções desiguais, como uma espécie de pentateuco da oração: 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150. A melhor classificação é por gêneros literários: hinos e ação de graças, súplica comunitária, súplica individual de perseguido ou de doente ou de inocente falsamente acusado, cantos de confiança, salmos litúrgicos, salmos penitenciais, salmos sapienciais meditacional ou histórico, e salmos reais por ou para o rei.

PROVÉRBIOS
Livro de preceitos para a vida moral, formado por uma coleção de pequenas coleções. Tem três eixos principais: sensato/néscio no plano sapiencial, honrado/perverso no plano moral, bem sucedido/fracassado no plano material. Tem caráter anônimo e unidades minúsculas.

ECLESIASTES
O autor (Coelét), formado em uma escola e tradição sapienciais, desenvolve uma crítica ao exercício da sabedoria, procurando compreender o sentido da vida.

CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Poesia sobre a sublimidade do amor. Numa coleção de canções de amor, desenvolve o tema tanto em forma pessoal como em forma transcendente. Rico em imagens e comparações.

SABEDORIA
Último livro do Antigo Testamento, é um tratado sobre teologia política. Tem coincidências notáveis com o Eclesiástico. A sabedoria ocupa no livro posição altíssima, mas a justiça é o tema dominante do começo ao fim.

ECLESIÁSTICO
Sabedoria de Jesus Bem Sirac, muito lido na Igreja antiga. Tem com tema convencer que o máximo da sabedoria é o respeito ou reverência a Deus, o que se traduz no cumprimento da lei.


LIVROS PROFÉTICOS

Os profetas viveram juntamente com o povo, principalmente no reinado, cisma e deportação. Seus oráculos proféticos vão se reunindo em coleções menores que depois formarão os livros proféticos, sempre compostos por compiladores. Há três períodos proféticos bem demarcados pelo exílio babilônico. A palavra de ordem dos profetas antes do exílio fora Castigo, durante o exílio passa a ser Consolação, e após o exílio se torna Restauração.

ISAÍAS
O livro é dividido em 3: proto-Isaías, deutero-Isaías e trito-Isaías. No proto- Isaías capítulos 1 a 39 o profeta exerce seu ministério nos reinados de Joatão, Acaz e Ezequias, antes do exílio Assírio. O deutero-Isaías — capítulos 40 a 55 é obra de um profeta anônimo, com uma mensagem de esperança entre os desterrados no final do exílio da Babilônia. O trito-Isaías
— capítulos 56 a 66 —, obra ou do mesmo autor do deutero-Isaías ou um discípulo dele, tem como tema o desencanto e o decaimento da fidelidade após o exílio.

JEREMIAS
Profeta do período anterior ao exílio da Babilônia, exerce seu ministério nos reinados de Josias, Joacaz, Joaquim, Jeconias e Sedecias. Acaba levado a força para o Egito. Tem como tema a conversão, a não rebelião a fim de evitar uma segunda deportação, e a idolatria no templo. Seu livro é composto de oráculos em verso, narrações e discursos deuteronomistas.

LAMENTAÇÕES
Poesia alfabética de lamentações sobre a destruição de Jerusalém pelos babilônicos, em cinco partes, atribuída a Jeremias.



BARUC
Secretário, porta-voz e companheiro de Jeremias. O livro é um escrito pseudônimo, deuterocanônico, cujo original hebraico é desconhecido, com três partes bem definidas: oração penitencial, reflexão sobre a sabedoria e promessa de retorno à pátria.

EZEQUIEL
Contemporâneo de Jeremias, profeta das visões, exerce seu ministério sete anos antes da queda de Jerusalém, continuado no exílio babilônico. Possui um estilo marcadamente sacerdotal. O livro possui duas partes: a primeira com tarefa de destruir sistematicamente a falsa esperança, seguido de um entreato de silêncio forçado, e a segunda formada por uma mensagem de pura esperança.

DANIEL
Livro escrito em três línguas (hebraico, aramaico e com adições em grego), com duas divisões distintas: relatos (capítulos 1 a 6) e visões (capítulos 7 a 12). Composto durante a perseguição de Antíoco IV Epífanes (cf. detalhes do capítulo 11), destina-se a infundir alento e esperança aos judeus perseguidos, de maneira velada. Apresenta um personagem heróico chamado Daniel, ambientado na época de Nabucodonosor, provavelmente inspirado em um personagem bondoso e sábio da antiguidade (Dan’el, cf. poemas ugaríticos de Aqhat, a lenda de Dan’el, de XIV a.C.). No cânon judeu, o livro não é considerado profético, e sua posição é entre Ester e Esdras, nos “escritos”.

OSÉIAS
Profeta acusador, exerce seu ministério no reino do Norte, no reinado de Jeroboão II. O tema é a infidelidade ao Senhor, em forma de símbolo conjugal, apresentada como fornicação, prostituição e adultério.

JOEL
Profeta ligado ao culto. O livro possui duas partes: a praga de gafanhotos com a liturgia penitencial de luto e súplica (capítulos 1 e 2) e o julgamento das nações em estilo apocalíptico (capítulos 3 e 4). A unidade é a referência ao “Dia do Senhor”. A profecia da efusão do espírito profético sobre todo o povo de Deus (3,1-5) o faz o profeta de Pentecostes.

AMÓS
Contemporâneo de Oséias, era vaqueiro e agricultor, e exerce seu ministério também no reino do Norte, no reinado de Jeroboão II. É um profeta de vibrantes denúncias. O livro possui uma disposição um tanto confusa, mas termina em tom de esperança.

ABDIAS
O livro é o mais curto dos profetas, com apenas 21 versículos. Tem como tema a tensa relação entre Israel e Edom. Profetizou contra Edom pouco depois de 586 a.C., por ocasião da colaboração dos edomitas com as tropas de Nabucodonosor para sitiar Jerusalém.

JONAS
Livro provavelmente escrito após o exílio, no século V a.C., apresenta um antiprofeta, que não quer ir aonde o Senhor lhe envia, nem dizer o que o Senhor lhe ordena. O estilo do livro é a narração em prosa considerada pelos exegetas com uma das melhores dos clássicos hebreus. O tema do livro é a misericórdia, porém não aos judeus, mas aos pagãos babilônicos, povo que era símbolo de crueldade, opressão e agressão contra Israel. Deixa claro que Deus não é somente o Deus dos judeus, é também o Deus dos pagãos.

MIQUÉIAS
De origem camponesa como Amós, exerce seu ministério nos reinados de Acaz e Ezequias, antes e depois da tomada de Samaria em 721 a.C. e talvez até o cerco de Jerusalém por Senaqueribe em 701 a.C.. É, em parte, contemporâneo de Oséias e, por mais tempo, de Isaías. No livro se alternam ameaça e promessa. Anuncia com segurança a desgraça do povo. É dele a profecia da origem do Messias em Belém de Éfrata.

NAUM
Descreve com exaltada paixão a queda do império assírio, após Assurbanipal, o último rei importante desse império. As profecias do livro são pouco anteriores à queda de Nínive (612 a.C.), capital da Assíria. O autor é considerado um grande poeta.

HABACUC
Contemporâneo a Naum, exerce seu ministério no decênio 622 a.C. – 612 a.C., época da Assíria decadente e Babilônia renascente, um tempo de opressão e violência, em que Israel pode se tornar joguete dos impérios. O livro é escrito em forma de um diálogo dramático entre o profeta e Deus, num jogo de ver e escutar.



SOFONIAS
Vive à sombra do seu contemporâneo Jeremias, exercendo seu ministério no reinado de Josias, denunciando o retorno do povo ao sincretismo pagão após a morte inesperada de seu rei. Pressente a queda de Jerusalém, apresentando o tema do dia da cólera — o Dia de Iahweh — onde só se salvará um resto,

AGEU
Exerce seu ministério no reinado de Dario da Pérsia, de agosto a dezembro de 520 a.C., reavivando as energias de um povo desencorajado de reconstruir seu país em ruínas, no retorno do exílio babilônico. O livro consta de quatro breves oráculos, sobre o tema do templo e a irrupção da era escatológica que virá com a sua reconstrução.

ZACARIAS
Profeta inspirador da reconstrução do templo, exerce seu ministério até os anos de 518 a.C., como seu contemporâneo Ageu. O livro compõe-se de duas partes diferentes em estilo, conteúdo e intenção, o que leva a crer em dois autores: a primeira se ocupando do templo, num livro de visões, e a segunda prescindindo dele, num livro de oráculos.

MALAQUIAS
Autor desconhecido, Malaquias significa Mensageiro do Senhor. Por indícios presume-se ser do século V a.C., posterior à reconstrução do templo, mas anterior à reforma de Esdras e Neemias. O livro é escrito na forma diálogo com os ouvintes, e tem como tema as faltas cultuais e os matrimônios mistos. Sobre a era messiânica, profetiza sobre o Precursor.


EVANGELHOS

Os Evangelhos meditam sobre fatos da vida de Jesus. Mateus, Marcos e Lucas são muito semelhantes, podendo ser abarcados com um olhar, ao contrário de João. A gênese literária dos três primeiros, conhecida por Questão Sinótica, admite entre eles interdependências diretas e fontes comuns, além de redações intermediárias. o último, o consenso é de uma redação autônoma, com alguma interdependência com o evangelho de Lucas, onde há relações estreitas. Indiscutível, no entanto, são a origem apostólica direta ou indireta dos quatro evangelhos e seu valor histórico.



MATEUS
Escrito para judeus-cristãos, não explica usos e tradições judaicas, antes os respeita, estima e explora. Aduz com freqüência textos do Antigo Testamento (mais de sessenta) que se cumprem em Jesus. Apresenta Jesus como antítipo de Moisés e superior a ele. Chama de igreja a comunidade cristã, para ele continuadora legítima do Israel histórico. Insiste no tema do Reino de Deus (= dos Céus). O livro distingue-se pela clareza de composição e exposição, num tom didático. Divide-se em cinco livrinhos, como novo Pentateuco, composto de cinco discursos centrais (1. sermão da montanha, 2. missão dos apóstolos, 3. parábolas, 4. instruções à comunidade, 5. escatológico), introduzidos por fatos escolhidos para prepará-los. Soma-se uma introdução da infância e o desfecho da paixão e ressurreição, totalizando sete partes.

MARCOS
Escrito para convertidos de língua grega, a quem é preciso explicar termos e costumes judaicos. Seu tema é a pessoa de Jesus e a reação do povo a sua pessoa, preocupando-se menos com seu ensinamento e referindo poucas palavras suas. Apresenta Jesus incompreendido e rejeitado pelos homens (família, concidadãos, discípulos, poder religioso e político), mas enviado e triunfante por Deus. Apresenta o tema do segredo messiânico, com Jesus cercando de silêncio seus milagres e sua pessoa. O estilo é de leitura fácil, mas por trás da simplicidade há contrapontos que escondem expressões simbólicas do mistério. O livro se divide em 1. introdução, 2. ministério na Galiléia, 3. intermédio na Fenícia e Cesaréia, 4. caminhada para Jerusalém, 5. acolhida em Jerusalém e discurso escatológico, 6. paixão e ressurreição.

LUCAS
Escrito em um grego mais aprimorado, oferece uma mensagem acessível a leitores pagãos. Usa Jerusalém como centro espacial, de onde tudo começa e para onde se dirige, na grande viagem ascensional: é o livro do caminho. A pesquisa pessoal do autor lucano trouxe uma rica contribuição à mensagem evangélica. Como tema destaca-se a universalidade (genealogia remontando Adão, pregação aberta aos pagãos, personagens romanas), a misericórdia, a alegria, o papel saliente das mulheres, a ternura com os pecadores, a ação do Espírito Santo. Possui um estilo cativante, elaborado, de qualidade excelente. É rico em doutrina. O livro apresenta, após um prólogo, 1. uma introdução notável em blocos paralelos, 2. ministério na Galiléia, 3. grande viagem ascensional, 4 . em Jerusalém, paixão, ressurreição e ascensão. É o único evangelho que relata a ascensão.



JOÃO
Originado em um ambiente judaico-cristão, quer dar a entender o sentido da vida, gestos e palavras de Jesus. Domina a encarnação do Verbo, que se passa no tempo, mas tem suas raízes na eternidade. Nos pontos essenciais tem semelhança com a pregação querigmática, mas é obra complexa com caráter cultual e sacramental. As festas litúrgicas judaicas são elementos estruturais do relato. Os acontecimentos da vida de Jesus são sinais para confirmar sua missão, mas também carregam uma dimensão espiritual evidenciando os mistérios divinos. Os sacramentos aparecem por referências oblíquas. Na composição do livro podem ser observados duas séries de dias (as duas semanas de João) e um ciclo de festas. O livro, após o prólogo, pode ser dividido em duas partes: o livro dos Sete Sinais (capítulos 2 a 12) e o livro da Hora de Jesus (capítulos 13 a 20). No livro dos Sete Sinais distinguem-se três blocos: 1. em Caná e de Caná (capítulos 2 a 4), na semana inicial (sinais: vinho, filho do funcionário real), 2. ciclo de festas (capítulos 5 a 10), com quatro festas (Pentecostes talvez, Páscoa, Tendas e Dedicação do Templo, sinais: paralítico, pães, caminhar sobre o mar, cego), 3. último sinal e começo da semana final (capítulos 11 a 12), em Jerusalém (sinal: Lázaro). No livro da Hora de Jesus, distinguem-se também três blocos: 1. grande despedida no cenáculo (capítulos 13 a 17), 2. paixão (capítulos  18  a  19),  3. ressurreição  (capítulo  20).  Segue  um acréscimo posterior (capítulo 21).


ATOS DOS APÓSTOLOS

ATOS DOS APÓSTOLOS
Continuação do Evangelho de Lucas, possui os mesmos destinatários e as mesmas características (vocabulário, gramática e estilo). O relato que une as duas obras é a ascensão. É a continuação do caminho. Tem com objetivo narrar a história das origens do Cristianismo. Exibe uma constância sacramental e litúrgica da Igreja nascente. Dois protagonistas dividem a obra: Pedro (capítulos 1 a 12) e a Igreja de Jerusalém e Paulo (capítulos 13 a 28) e sua viagens missionárias, mas o verdadeiro protagonista do livro todo é o Espírito Santo agindo na sua Igreja. A expansão geográfica é evidente, partindo de Jerusalém. Mostra também um desprender-se, não pretendido, do judaísmo. O estilo da obra é narrativo, sobressaindo os relatos com discursos inclusos, gênero único no Novo Testamento.



EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO

As epístolas de Paulo são escritos ocasionais, não tratados de teologia, mas respostas a situações concretas. Vê-se nelas, na sua ordem cronológica, a evolução contínua de sua teologia. Escritos posteriores, atribuídos inicialmente a Paulo pela Tradição, revelaram-se posteriormente escritos de discípulos pertencentes à escola paulina, recorrendo à pseudonímia. As epístolas Proto-Paulinas são seguramente autênticas, de autoria do Apóstolo Paulo, e são aceitas por todos os estudiosos (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses, Filemon). As Deutero- Paulinas não tem autenticidade segura, sendo negada por um certo número de estudiosos (Efésios, Colossenses, II Tessalonicenses). A Trito-Paulinas dificilmente seriam de Paulo, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I século (I Timóteo, II Timóteo, Tito).

ROMANOS
Escrita aos cristãos em Roma, cuja situação Paulo tem conhecimento através de Prisca e Áquila em Corinto, em sua viagem. Escrita por ocasião da 3ª viagem (57-58 d.C.), em Corinto. Tem como tema a gratuidade da salvação pela em Jesus Cristo e não pela observância da Lei. Esta salvação se dirige a todas as pessoas: judeus e não-judeus. Aborda de maneira serena, ordenada e aprofundada o tema já abordado de maneira polêmica na carta aos Gálatas.

I  CORÍNTIOS
Escrita aos cristãos de Corinto, comunidade fundada por ele por ocasião de sua 2ª viagem. Escrita na Páscoa de 57, em Éfeso, na sua 3ª viagem, onde recebe más notícias daquela comunidade. Escreve uma primeira carta, hoje perdida, e com a chegada de outras más notícias, esta carta. Tem com tema a superação dos conflitos na comunidade (conduta ética, unidade ante a divisão, caso de incesto, prática de prostituição, dúvidas sobre o matrimônio, virgindade e escravidão, celebrações agitadas, o lugar da mulher na comunidade, mau uso dos dons, cristãos que acreditavam na ressurreição apenas como a sobrevivência da alma). Opõe Cristo, sabedoria de Deus, à vã sabedoria do mundo. Acima reina soberano o amor.

II  CORÍNTIOS
É considerada uma compilação de bilhetes escritos aos cristãos de Corinto, de autoria paulina. Presume-se que, pouco depois da Páscoa de 57 d.C. uma crise em Corinto o obrigou a uma rápida visita, com promessa de retorno, anunciado quase como ameaça. Mas uma grave ofensa fê-lo substituir a visita por uma severa carta “em lágrimas”, onde os capítulos 10 a 13 parecem ser uma parte. Os capítulos iniciais, com tom de ternura confiante, destoam do tom violento dos capítulos 10 a 13, e supõe-se ser a carta conciliadora escrita em fins de 57 d.C. após, por meio de Tito, na Macedônia, saber do feliz resultado de sua carta “em lágrimas”, e então renunciar à sua terceira visita. Supõe-se que a perícope 6,13–7,1, por sua posição violenta, tema e estilo, seja um fragmento da carta perdida mencionada em 1ª Cor. Os capítulos 8 e 9 são provavelmente um ou dois bilhetes sobre a coleta para a Igreja pobre de Jerusalém.

GÁLATAS
Escrita na Páscoa de 57, em Éfeso, na sua viagem, após receber notícias da região gálata, percorrida em sua 2ª e 3ª viagens. Tem com tema a passagem da escravidão (lei) para a liberdade (fé), com a gratuidade da salvação pela em Jesus Cristo e não pela observância da Lei, contra os judaizantes que queriam obrigar o seguimento da lei mosaica.

EFÉSIOS
Escrita entre os anos 80 a 100, atribuída à escola paulina. Conjectura-se ser uma carta circular à todas as igrejas, da qual restou o manuscrito com esses destinatários. Tem como tema a Igreja universal, povo de Deus, esposa do Messias, corpo em crescimento, não mais a soma de igrejas locais. É eclesiológica. O desenvolvimento não é claro, mas é coerente.

FILIPENSES
Escrita aos cristãos de Filipos, primeira comunidade européia fundada por ele por ocasião de sua 2ª viagem. Escrita em 54, durante uma prisão em Éfeso, não mencionada nos Atos. É um escrito pouco doutrinal, antes uma troca de notícias. Entre os temas, ressalta-se uma advertência contra os maus operários e um apelo a unidade na humildade, com o admirável hino da aniquilação de Cristo (2,6-11), testemunho da fé primitiva na pré- existência divina de Jesus. Conjectura-se ser o conjunto de diversos bilhetes.

COLOSSENSES
Atribuída à escola paulina, escrito não se sabe ao certo onde e quando. Falta conceitos paulinos, como fé, lei, justiça, salvação e revelação. O autor se encontra preso. Tem como tema o perigo de um grave desvio doutrinal causado por gnosticismos e religiões mistéricas. Desenvolve uma cristologia avançada, de caráter cósmico: Cristo é a imagem do Deus invisível.



I  TESSALONISSENSES
Escrita no ano 51, em Corinto, na sua 2ª missão, aos cristãos de Tessalônica, após enviar Timóteo à comunidade, que voltou trazendo boas notícias e uma questão teológica. Após a ação de graças pela fé, esperança e amor na comunidade, do desejo voltar para completar a formação dos Tessalonicenses, trata do problema teológico da parusia iminente. No tema, expõe como vai ser a ressurreição dos corpos.

II  TESSALONISSENSES
Escrita em Corinto, logo após a primeira carta, aos mesmos destinatários, por causa das conseqüências abusivas da primeira carta (interpretaram que não valia a pena trabalhar e ocupar-se com os assuntos da vida terrena). O tema é novamente a parusia, agora não mais iminente, e o fim deste mundo. Os cristãos devem trabalhar e esperar, e não especular sobre o assunto.

I E II TIMÓTEO, TITO
São atribuídas a escola paulina, escritas no final do primeiro século, com conteúdo, forma e contexto estreitamente relacionados. O grego é helenístico, faltam palavras típicas do vocabulário paulino. São escritos de caráter pessoal, com personagens ilustres como destinatários, com responsabilidades frente às comunidades cristãs. Têm como tema garantir as igrejas com instituição, conservar o ensinamento tradicional e defender- se das ameaças de desvio doutrinal, com o combate velado ao gnosticismo (através de enunciados contrários aos seus princípios) e ao culto ao imperador (atribuindo a Cristo seus títulos). O ímpeto de evangelizar se torna esforço por manter. A Timóteo, ao bispo de Éfeso, traz recomendações de como ele deve se comportar frente a comunidade. A 2ª Timóteo é uma exortação mais pessoal, onde Paulo recorda seu ministério e prepara-se para morrer. A de Tito, jovem bispo de Creta, na Grécia, sobressai entre os conselhos as duas doutrinas cristológicas.

FILÊMON
Pequena jóia de Paulo, foi escrita na prisão de Roma nos anos 61 a 63 d.C., a Filêmon, cristão de Colossas, dono de um escravo (Onésimo) convertido por Paulo no cativeiro em Roma. Revela o coração delicado de Paulo, que superpõe o amor e a fraternidade cristã às relações jurídicas.

HEBREUS
De autor desconhecido, é anterior à destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.). O texto supõe leitores versados na antiga Aliança, convertidos do judaísmo ou desejosos de se converter (daí o título ‘aos Hebreus’ atribuído no século II). Em língua grega mais pura e elegante que a de Paulo, traz os ensinamentos do Apóstolo, com a utilização ostensiva de referências ao Antigo Testamento; a maneira de citar, porém, não é paulina. Falta o endereço e o preâmbulo das suas cartas. Vários pontos são apresentados de forma diversa dos ensinamentos de Paulo, embora não o contradiga: a concepção da fé, a atitude menos dura perante a lei, a Cristologia. O objetivo é cristológico. O tema central é o sacerdócio de Jesus Cristo e o conseqüente culto cristão, em oposição ao antigo culto. Segue uma exortação final à constância da fé, aduzindo personagens como modelos.


EPÍSTOLAS CATÓLICAS

Sete epístolas reunidas bem cedo numa mesma coleção, não obstante suas origens diversas. Seu título muito antigo de católicas (universais) provavelmente se deu pelo fato de a maioria delas não ser dirigida a comunidades ou pessoas em particular, mas visar os cristãos em geral.

TIAGO
Obra pseudônima de autor incerto, escrita no final do século I. Trata de assuntos bem cristãos: a relação e obras, a regeneração pela palavra e a lei da liberdade. Possui relação estreita com I Pd. O estilo é sapiencial, pródigo em imperativos. Demorou a ser aceita com canônica. Tem como temas: paciência nas provações, e obras, domínio da língua, sabedoria, cobiça e inveja, maledicência, oração.

I  PEDRO
Escrita para pagãos convertidos, a autoria tem discussão indefinida. Pode ter sido Pedro, ancião e prisioneiro, próximo da morte, escrevendo uma espécie de testamento, portanto próximo de 67 d.C.; ou é pseudônima, de um autor do círculo de Pedro, com traços hábeis para tornar verossímil, em tempos difíceis, para animar outros fiéis na perseguição de Domiciano (95 a 96 d.C.). A linguagem e o estilo grego são impróprios para um pescador galileu. Faltam lembranças pessoais de um companheiro íntimo de Jesus. A carta muda de tema sem avisar. Seus temas são: esperança cristã, conduta moral, Cristo pedra viva, vida cristã, casais, paciência, morte e ressurreição de Cristo, batismo, hostilidade do mundo, anciãos e jovens.

II  PEDRO
Escrita para pagãos convertidos, é seguramente de autor pseudônimo, devido as repetidas vezes que o autor se trai, ao estilo de sabor helenístico, e a evidente semelhança com Jd, que foi modelo para essa carta. É datado do final do século I. Tem com temas: o atraso da parusia, as heresias, a exortação à paciência e à esperança.

I  JOÃO
Escrito para uma comunidade constituída, mista de pagãos e judeus convertidos, certamente da Ásia, acredita-se ser o próprio apóstolo João o autor, dada as semelhanças de vocabulário, estilo e doutrina com o evangelho de João. Pela semelhança de doutrina, presume-se uma redação próxima a do evangelho, opinião não completamente aceita. É doutrinal, cristológica. O tema do livro são os cismáticos ou apóstatas, e os critérios para discerni-los. Os ensinamentos são: Deus é luz, é amor, é Pai de Jesus, que é seu Filho feito homem, é o Messias que desfaz o pecado; o Espírito nos unge, habita em nós, faz confessar, dá testemunho.
II  E III JOÃO
A autenticidade da autoria foi uma dúvida na antiguidade, não compartilhada atualmente. Presume-se que a redação se deu no final do século I. A brevidade as coloca como bilhetes. O problema da segunda é doutrinal, cristológico. O problema da terceira é de organização, pela ambição de um rival.
JUDAS
Escrito pseudônimo do final do século I. Possui citações a apócrifos, levando a crer num judeu helenista como autor. O tema é contra falsos mestres, com recomendações aos fiéis. A carta não é atraente, recrimina sem argumentar.
APOCALIPSE
APOCALIPSE
Escrito para as sete igrejas da Ásia, de um autor chamado João, provavelmente não o evangelista, mas não pseudônimo. No desterro, tem como objetivo prevenir e antecipar a grande perseguição que se avizinha. A maioria dos comentaristas se inclina a datar a redação na época do imperador Domiciano (81 a 96 d.C.). É o livro da esperança cristã. O gênero é apocalíptico, com elementos típicos do gênero: números, cores, imagens, intérprete, recurso ao Antigo Testamento, construção. Permeiam o texto hinos minúsculos, e uma grande liturgia celeste. O tema, passadas as sete cartas às igrejas, é a luta da Igreja com os poderes hostis. A obra assume uma construção numérica (introdução, 7 selos, 7 trombetas, 7 visões da mulher, do dragão e das feras, 7 visões do Cordeiro e dos anjos, 7 taças, 7 visões da queda da Babilônia, 7 visões da batalha e vitória final, epílogo) e uma    construção   geométrica    concêntrica    ABCDCBA    

(A. introdução, B. julgamento    da    comunidade,    C. sete    selos    e    sete    trombetas, D. perseguição e perseverança, C. sete taças e sete visões da Babilônia, B. julgamento, salvação e nova criação, A. epílogo)

BIBLIOGRAFIA:


          ·    Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum” [DV], de 18 de novembro de 1965;
        ·   Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1ª ed, São Paulo, Vozes, 1993;
        ·   A Bíblia de Jerusalém, 7ª ed., São Paulo, Paulus, 1995 — Introduções;
        ·   Bíblia do Peregrino, 1ª ed, São Paulo: Paulus, 2002,— Introduções;
·    Bíblia Sagrada Edição Pastoral, ed, São Paulo, Paulus, 1990 — Introduções;
·    Material de aula de “Introdução as Sagradas Escrituras”, Irmão Albino Affonso Ludwig, EFAP-RE1, São Carlos, 2004;
·    Material de aula de “Historicidade Bíblica”, João Virgílio Tagliavini, EFAP-RE1, São Carlos, 2004;

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