03 abril 2021

Jesus de Nazaré: O Cordeiro que é o Leão!

 

Jesus de Nazaré: O Cordeiro que é o Leão!

Por Cássio José

À luz da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo e tendo como pressuposto a teologia bíblica da cruz, analisada por Joseph Ratzinger, em seu livro Introdução ao Cristianismo,(ver págs. 208-217) podemos declarar que Jesus de Nazaré morreu como cordeiro, mas ressuscitou como o leão. Dessa forma, deixou cruz e túmulo vazios e ocupou o Trono Celeste. Por tanto, Jesus de Nazaré é o Cordeiro que é o Leão.

1. Início de Conversa

As duas figuras são atribuídas a Jesus de Nazaré: cordeiro e leão! Vejamos os pressupostos!

É até estranho rotular o título de cordeiro ao Senhor Jesus já que, muitas vezes, cultivamos apenas os títulos de grandeza e força: Mestre, Deus, Salvador, Rei, etc.

Mas as Escrituras apontam que Jesus de Nazaré em sua crucificação trilhou a postura de cordeiro ao derramar sangue e doar-se livremente e por inteiro.

Veja o que diz Isaías 53, 3 sobre Jesus, o Servo sofredor, quando Ele estava sob o madeiro:

Nem tinha beleza a atrair o olhar, não tinha aparência. Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem de sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar.

Em Is 53, 7 a Bíblia vai nos dizer que Jesus foi oprimido, se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca.

Durante 03 anos ministeriais, Jesus Cristo arrebatou para si multidões e cumpriu o que diz a Sagrada Escritura acerca o Messias, onde cheio do Espírito Santo traz o Reino de Deus. A gente vê e fica maravilhado ao ler os 04 evangelhos.

Como resumo, podemos trazer o que diz Atos dos Apóstolos 2, 22; 10, 38 sobre o seu ministério messiânico:

Jesus de Nazaré foi um homem credenciado por Deus junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio dele.

Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Por toda a parte, ele andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominador pelo diabo; pois Deus estava com ele.

No fim de seu projeto de messiânico, Jesus vai a Jerusalém, morre numa cruz e aparenta fracassar no tocante ao seu ideal. Seus discípulos se dispersam e preferem viver amedrontados e trancados diante desse fato!   

 No entanto, vemos nas Escrituras que a cruz não foi capaz de prendê-lo nem os pregos tiveram força para segurá-lo. O sepulcro também não teve poder suficiente para mantê-lo preso por mais de 03 dias.

Na verdade, Jesus venceu a morte e ressuscitou: Lc 24, 5-6. 34; Jo 20, 6-9; At 13, 32-33; I Cor 15, 3-4; Ap 1, 17-18... Dessa forma, ressuscitado e regressando à direita de Deus, onde exerce senhorio sobre todas as coisas e tornando-se o nosso advogado (16, 19; At 2, 32-36; Fl 2, 6-11; I Jo 2, 1-2), Jesus de Nazaré assume a postura de leão, conforme nos diz Apocalipse 5, 5:

 Então, um dos Anciãos me falou: Não chores! O Leão da tribo de Judá, o descendente de Davi achou meio de abrir o livro e os sete selos.

 

2. Jesus de Nazaré: o Cordeiro de Deus!

Já conhecemos a figura ou terminologia Cordeiro de Deus, da qual o apóstolo São João, é o responsável, pelas Sagradas Escrituras, ao atribuir à pessoa de Jesus de Nazaré tal expressão. Para você ter uma ideia, em Apocalipse, essa palavra é usada 28 vezes (Ap 5, 6a. 6d.7. 8. 12. 13; 6, 1. 12; 7, 9. 10. 14. 17; 8, 1; 13, 8; 14, 1. 4b. 4c. 10; 15, 3; 19, 7. 9; 21, 9. 14. 22. 23. 27; 22, 1. 3)!

Em outros livros do N. T. (como, por exemplo, em Atos e nas cartas de São Pedro) Jesus é comparado ao cordeiro. Em João não! Ele de fato afirma que Jesus de Nazaré é o Cordeiro de Deus!

Vemos exemplo disso claramente em João 1, 29 e 36; quando Jesus está caminhando e João Batista declara para os seus discípulos quem Jesus É o Cordeiro de Deus:

Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!

 Entendemos a figura do cordeiro atribuída à pessoa de Jesus de Nazaré, sobretudo, quanto à imolação do cordeiro pascal, quando já desde o A.T. no episódio anterior à Travessia do Mar Vermelho, naquela madrugada, os judeus (Cf. em Êxodo 12, 1-14), celebravam na Páscoa, a sua saída do Egito em detrimento à esperança de uma terra onde corre leite e mel.

Para o antigo Israel, o cordeiro identificava-se como o sacrifício, e o sacrifício é uma das formas mais primitivas de adoração¹. Com a construção do Templo de Jerusalém, por volta dos anos 960 a.C., Israel passou a oferecer os sacrifícios cotidianos ao Deus todo-poderoso em ambiente majestoso. Todos os dias, os sacerdotes sacrificavam dois cordeiros, um de manhã e um à noite, para expiar os pecados da nação. O grande dia de sacrifício continuou a ser a festa da Páscoa, quando até dois milhões e meio de pessoas peregrinavam a Jerusalém. Josefo relata que na Páscoa de 70 d. C. – apenas alguns meses antes de os romanos destruírem o Templo e cerca de quarenta anos depois da ascensão de Jesus – os sacerdotes ofereceram mais de um quarto de milhão de cordeiros no altar do Templo – 255.600, para ser exato ².  

Os judeus acreditavam que os rituais feitos com o derramar de sangue dos animais no templo de Jerusalém eram capazes de perdoar os seus pecados. (Hb 9, 21) No entanto, Deus em sua infinita misericórdia envia Jesus de Nazaré para derramar um sangue inocente, puro e sem mancha no alto de uma cruz, pois ele é o verdadeiro Cordeiro de Deus, esse sim, capaz de tirar o pecado do mundo (Rm 3, 25; 5, 9; I Pd 1, 19; 2, 24; Ap 5, 9). 

O sacrifício de Jesus realizou o que todo o sangue de milhões de ovelhas, touros e bodes jamais conseguiu: pois é impossível que o sangue de touros e bodes elimine pecados (Hb 10,4). Jesus foi o único que foi capaz de abolir o pecado com o seu próprio sacrifício (Hb 9, 26). A teologia católica nos ensina que na cruz, Jesus foi a vítima, o sacerdote e o altar ao mesmo tempo!

Joseph Ratzinger, atual Papa emérito Bento XVI, analisa a cruz diferente do que os judeus a viram em sua época. Sabemos a cruz era sinal de salvação. Ratzinger traz um entendimento de teologia bíblica da cruz. Entendamos:

Em muitas religiões pagãs antigas, era o homem que procurava a Deus para a reconciliação com diversos sacrifícios e práticas ritualísticas, pois elas sugerem um sentimento de culpa do home em relação a Deus. No Cristianismo temos o inverso: é Deus que se dirige com seus dons ao homem: Deus em Cristo reconciliava o homem consigo (2 Cor 5,19).³

            De fato, lemos na Bíblia essa atitude maravilhosa da parte de Deus:

Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. O pai enviou seu Filho como salvador do mundo.  

(I João 4, 10.14)

No parágrafo 608 do Catecismo da Igreja Católica a fé cristã professa que:

 Jesus de Nazaré é o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira páscoa (Jo 19, 32; I Cor 5, 7).

            Para concluirmos esse entendimento, podemos pegar o comentário exegético da Bíblia Teb de estudo acerca de João 1, 29 quando trata de Jesus de Nazaré como o Cordeiro de Deus. Observe:

O texto evoca a morte expiatória de Jesus, amalgando duas imagens tradicionais: por um lado, a do servo sofredor (Is 52, 13-53,12) que assume os pecados da multidão e que, inocente, se oferece como cordeiro; por outro lado a do cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel (Ex 12, 1-28; Jo 19, 14. 36; I Cor 5,7; Ap 5, 6.12)

Foi dessa maneira (ver Jo 3, 16-21; Ef 2, 4-5; I Jo 4, 10.14), como nos diz Joseph Ratzinger, nosso Papa emérito Bento XVI, quando ainda era cardeal, no seu livro Introdução ao Cristianismo, pág. 209: A cruz representa nela a radicalidade do amor que se entrega sem reservas.

 

3. Jesus de Nazaré é o Leão da tribo de Judá

            Sabemos pelo contexto histórico (até o dia de hoje ninguém foi capaz de encontrar o corpo morto de Jesus de Nazaré em algum túmulo) e pelo registro das Sagradas Escrituras (Ex.: Mc 16, 6; II Cor 5, 14-15; I Ts 4, 14; I Pd 1,3), sobretudo no final de cada um dos quatro evangelhos (Mt 28, Mc 16, Lc 24, Jo 20) que Jesus de Nazaré não foi vencido pela morte.

Veja o que o próprio Jesus disse em Apocalipse 1, 17-18:

Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades.

De fato, o anjo disse que não havia necessidade deles procurarem dentre os mortos aquele que estava vivo (Lc 24, 5-6). A morte não teve poder sobre a vida de Jesus, pois ela foi tragada pela vitória e perdeu o seu grilhão (I Cor 15, 54-55).

O evento histórico e transcendente da Ressurreição do Senhor se dá num desfecho muito claro: o túmulo vazio, a ausência do corpo, as aparições (como ressuscitado) com o corpo glorificado, a subida à direita de Deus...

No livro de Atos dos Apóstolos, mesmo em meio às perseguições sofridas por cauda do anúncio do Reino de Deus, os apóstolos nunca desanimavam por que sabiam que pregaram um Nome que está vivo e tem poder de ação no meio deles.

O fato é que Jesus de Nazaré foi capaz de anular o documento de maldição e condenação eterna que pesava sobre nós ao derramar seu sangue na cruz (Cl 2, 14-15). Foi também na cruz que Jesus de Nazaré nos justificou com o seu sangue, transferindo-nos de um império das trevas para o seu reino, onde recebemos a redenção e o perdão dos pecados (I Cor 6, 11; Cl 1, 13-14).

Já no A.T. vemos alusão à ressurreição do Senhor: Forte como a morte é o amor! (Ct 8,6).  

            Todas essas reflexões nos fazem defender que após a ressurreição Jesus assume a figura de um leão. Os cordeiros não são fortes, nem espertos, sagazes ou graciosos. Jesus O foi assim na cruz! Mas, os leões são majestosos, fortes e ágeis. Ninguém mexe com o rei dos animais. Jesus também O foi ao assumir a realeza, a glorificação, o senhorio de todo o universo, a majestade divina.

Veja: muitos cristãos gostam de ver Jesus apenas como o leão. Já outros cristãos veem Jesus apenas como o cordeiro. Mas, na verdade, Jesus é os dois ao mesmo tempo. Por isso que o título deste estudo é Jesus de Nazaré é o Cordeiro que é o Leão! Não haveria problema algum dizermos que Jesus de Nazaré é o cordeiro e o leão. Mas, para além disso, Jesus de Nazaré é o cordeiro que é o leão. O cordeiro é o leão e o leão é o cordeiro! Jesus de Nazaré é o cordeiro que é o leão.

4. Considerações Finais:

É engraçado, e já dissemos isso aqui, que só em Apocalipse, por exemplo, João afirma 28 vezes que Jesus de Nazaré é atribuído à figura de um Cordeiro! Só que podemos fazer, de forma resumida, 02 observações em Apocalipse, acerca desse cordeiro apontado por João:

·        O cordeiro governa e ocupa o trono de Deus (Ap 22,3);

·        É o cordeiro quem lidera um exército de centenas de milhares de homens e anjos, e acende o medo no coração dos ímpios (Ap 6, 15-16).

Ou seja: o texto bíblico chama Jesus de cordeiro, mas esse cordeiro se comporta como leão! Sejamos bem honestos: ocupar trono e liderar um exército de centenas de milhares de homens parece mais atribuição de um leão do que de um cordeiro. No entanto, Jesus foi até a cruz como o cordeiro de Deus e não como um leão. Após a ressurreição de Jesus de Nazaré, e tendo entendimento acerca das realidades da Parusia, é que o Apocalipse chama Jesus de Leão da tribo de Judá (Ap 5, 5).

Concluo dizendo que Jesus morre como o cordeiro de Deus, mas ressuscita como o leão da tribo de Judá. A cruz e o túmulo estão vazios, mas o trono está ocupado pelo Rei e Senhor do Universo: Jesus de Nazaré que é Cordeiro que é o Leão.

Graça e Paz de Cristo Jesus!

Cássio José, seu irmão remido pelo cordeiro.

 

5. Fontes e Referências:

1: O banquete do cordeiro, Scott Hahn, pág. 32.

2: O banquete do cordeiro, Scott Hahn, págs. 36 e 37.

3: Introdução ao Cristianismo: Joseph Ratzinger, páginas 208 a 2017.

Bíblias e livros usados:

Bíblia CNBB;

Bíblia Teb de Estudo;

Bíblia de Jerusalém;

Catecismo da Igreja Católica;

O Banquete do Cordeiro, Scoot Hahn;

Introdução ao Cristianismo, Joseph Ratzinger.

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