20 fevereiro 2021

O desafio de estar (ser) solteiro.

A vida de solteiro e solteira é um fenômeno social que afeta muitas pessoas. E quando se prolonga, muitas vezes é uma fonte de sofrimento.

Como tais dificuldades podem ser assumidas e superadas? Explicação de Dominique de Monléon Cabaret, autor de “Deus, não me esqueceu: perspectivas para pessoas solteiras”. ( Capa da edição em Francês, acima) Casada aos 45 anos de idade em 1994, ela, que permaneceu solteira durante muito tempo, é testemunha dessa expectativa que era sua e da maneira como a vivia. Um testemunho que pode ajudar muitas pessoas solteiras.

O que você acha mais difícil em ser solteiro?

A constante, me parece, é a solidão. É um teste: “Não é bom para o homem estar sozinho” (Gn 2:18). A esse sofrimento às vezes se soma o sentimento de que aqueles que o rodeiam têm o tempo de um solteiro: “Tudo o que você tem que fazer é cuidar dos seus pais, meus filhos…” (Gn 2:18). Isso também é verdade na vida profissional: “Você pode trabalhar aos sábados, você que está solteiro!”

Na medida em que a liberdade não é visivelmente nem oficialmente cometida, ela pode ser negada. O solteiro não é realmente percebido como um adulto. Enquanto ele tem que dirigir seu barco sozinho! Impostos, contas, tarefas domésticas, compras diversas, bricolagem, etc. É pesado!

Além disso, o solteiro nem sempre tem o direito de sofrer: “Ele só tem que cuidar de si mesmo! “Como se o sofrimento pudesse ser medido ou comparado… Família e amigos precisam encontrar uma causa para este celibato. Daí as observações, os conselhos, em forma de dúvidas: não é ele (ela) muito difícil, muito egocêntrico, muito ativista? Ele ou ela não é surdo aos chamados de Deus?

Qual é a grande luta da pessoa solteira?

A imaginação se desenvolve mais facilmente na solidão, arrisca-se a ampliar e dramatizar as minúcias do cotidiano, que encontrariam uma medida justa na conversa com o cônjuge. Mas isso não é uma constante entre os solteiros. Muitos vivem muito bem no momento presente: eles se entregam totalmente. Este é o melhor antídoto para a fantasia.

Como viver a castidade sem repressão?

De acordo com a lógica do mundo, os solteiros oscilam entre dois erros: ou estão presos, ou se consolam em aventuras fugazes. Alguns deles se envolvem e entram em relacionamentos que não têm futuro.

Mas a sexualidade não pode ser reduzida ao corpo: é todo o ser humano que é sexualizado. Um celibatário solteiro casto, se pensa nos outros e se entrega generosamente, abandona sua virilidade ou sua feminilidade menos do que aquele que cede a aventuras egoístas.

O medo de se dar e a crise de compromisso são as únicas causas do aumento do número de solteiros?

Se você não se ama, é difícil amar o outro. Se você se retrai em si mesmo, é difícil conhecer alguém. Por outro lado, se você se torna obcecado pelo casamento, todo mundo foge… Mas às vezes não há causas objetivas. Pessoas casadas não são necessariamente mais equilibradas, mais bonitas, mais dedicadas do que outras!

É possível dizer a alguém que tem a vocação matrimonial quando não conhece “o escolhido”?

Dizer a alguém que têm um chamado ao casamento não me parece imprudente. Às vezes é uma coisa positiva. Tal discernimento pode ajudar a preparar para um compromisso, para ganhar autoconfiança. Mas também é necessário indicar a atitude correta a ser adotada.

Cuidado para não tomar esse tipo de discernimento por um caminho irremediavelmente traçado! Sempre se pode cumprir a vocação humana e cristã. E viver a complementaridade de homem e mulher de outra forma que no casamento. Esta é uma realidade social.

Você acha que devemos esperar pelo desejado, ou devemos procurá-lo?

A resposta não pode ser absoluta. Algumas pessoas se registram em sites de encontros: por que não, se eles são bem escolhidos? Mas você tem que ficar livre e não depender de isso! Quando surge confusão, ansiedade ou preocupação, torna-se necessário se distanciar do processo.

E é importante saber se divertir, organizar passeios, jantares, para a única alegria de se reencontrar. Seria desproporcional concentrar todos os pensamentos, atividades e relacionamentos na busca do outro… Uma vez mais, o que conta e o que faz a pessoa feliz é se entregar.

Sem Deus, o celibato sofrido não acaba sendo revoltante?

A solidão só é aceitável na presença de Deus. Com toda a sua compaixão. É um mistério semelhante ao do Getsêmani: em sua agonia, Cristo carregou o fardo da solidão para todos aqueles que são sobrecarregados por ela.

A grande luta pela liberdade – pode ser muito difícil – é dizer sim a essa presença, acreditar que Deus tem um plano para a felicidade de cada pessoa, continuar dando um passo na frente do outro, por menor que seja. No seu próprio ritmo. Um ato de fé, de esperança, de oferta!

Qual é a especificidade do testemunho de um solteiro?

Há solteiros realizados, apesar de sofrerem com a ausência de um cônjuge. Desta forma, eles testemunham a verdadeira natureza da felicidade. Numa sociedade que quer garantir toda a segurança, seu testemunho mostra como é possível florescer em uma certa pobreza social e emocional. Sua alegria de viver refere-se à natureza da felicidade: saber que eles são amados por Deus e desejar servi-Lo.

Qual é o segredo da alegria deles?

Eles estão felizes no presente! Você tem que acolher o momento presente. Isto é inevitável para a pessoa solteira, porque lhe permite encontrar Deus a qualquer momento e receber a fecundidade espiritual. Cada dia pode ser frutífero: “Aquele que permanece em mim dará muitos frutos”.

Maryvonne Gasse


Fonte: Blog do Carmadélio - Comunidade Católica Shalom.

A eficácia do jejum em nossa vida de oração

O jejum traz mais eficácia a nossa oração

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A Igreja chama o jejum, a esmola e a oração de “remédios contra o pecado”, pois, cada uma dessas atividades, a seu modo, ajudam-nos a vencer o maior mal deste mundo, que é o pecado. A oração nos fortalece em Deus; a esmola (obras de caridade) “cobre uma multidão de pecados”; e o jejum fortalece o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito, nos liberta e abre para os valores superiores da alma.

O jejum fortalece o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito

“Ordenai um jejum” (cf. Jl 1,14). São as palavras que ouvimos na primeira leitura da Quarta-feira de Cinzas, quando começa a Quaresma. O jejum, no tempo quaresmal, é também a expressão da nossa solidariedade com Cristo, preso, torturado, flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte, crucificado e morto.

Ao jejuar, devemos concentrar-nos não só na prática da abstenção do alimento ou das bebidas, e sim no significado mais profundo dessa prática. O alimento e as bebidas são indispensáveis para o homem viver, disso se serve e deve servir-se, mas não lhe é lícito abusar, seja da forma que for. O jejum tem como finalidade nos levar a um equilíbrio necessário e ao desprendimento daquilo que podemos chamar de “atitude consumística”, característica da nossa civilização.

Satisfação e prazer momentâneo

O homem orientado para os bens materiais, muitas vezes, abusa deles. Hoje, busca-se, acima de tudo, a satisfação dos sentidos, a excitação que disso deriva, o prazer momentâneo e a multiplicidade cada vez maior de sensações. E isso acaba gerando um vazio no coração do homem moderno; pois sem Deus ele não pode se satisfazer. O barulho do mundo e o prazer das criaturas não conseguem preencher o seu coração.

A criança hoje (e também muitos adultos) vive de sensações, procura sensações sempre novas… E torna-se assim, sem se dar conta, escrava desta paixão atual; a vontade fica presa ao hábito, a que não sabe se opor.

A força do jejum em nós

O jejum nos ajuda a aprender a renunciar a alguma coisa. Ele nos faz capazes de dizer “não” a nós mesmos, e nos abre aos valores mais nobres de nossa alma: a espiritualidade, a reflexão, a vontade consciente. Essa prática nos coloca de pé e de cabeça para cima. Há muitos que caminham de cabeça para baixo; isso acontece quando o corpo comanda o espírito e o esmaga. É o prazer do corpo que o comanda e não a vontade do espírito.

É preciso entender que a renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é um fim em si mesmo, mas apenas um “meio” que deve apenas preparar o caminho para conquistas mais profundas. A renúncia do alimento deve servir para criar em nós condições para podermos viver os valores superiores. Por isso o jejum não pode ser algo triste, enfadonho, mas uma atividade feliz que nos liberta.

Os Padres da Igreja davam grande valor ao jejum. Diz, por exemplo, São Pedro Crisólogo (451): “O jejum é paz do corpo, força dos espíritos e vigor das almas” e ainda: “O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo” (Sermão VII: sobre o jejum, 3.1).

Santo Ambrósio (397) diz: “A tua carne está-te sujeita (…): Não sigas as solicitações ilícitas, mas refreia-as algum tanto, mesmo no que diz respeito às coisas lícitas. De fato, quem não se abstém de nenhuma das coisas lícitas, está também perto das ilícitas” (Sermão sobre a utilidade do jejum, III. V. VII). Até escritores que não pertencem ao Cristianismo declaram a mesma verdade. Esta é de alcance universal. Faz parte da sabedoria universal da vida.

O Mahatma Gandhi dizia: “O jejum é a oração mais dolorosa e também a mais sincera”. “Cada jejum é a oração intensa, purificação do pensamento, impulso da alma para a vida divina, a fim de nela se perder”. “O jejum é para a alma o que os olhos são para o corpo”. (Toschi, Tomas Gandhi mensagem para hoje, Editora mundo 3, pag. 97, SP, 1977).

O jejum confere à oração maior eficácia. Por ele o homem descobre, de fato, que é mais “senhor de si mesmo” e que se tornou interiormente livre. E se dá conta de que a conversão e o encontro com Deus, por meio da oração, frutificam nele.

Assim, essa atividade não é algo que sobrou de uma prática religiosa dos séculos passados, mas é também indispensável ao homem de hoje, aos cristãos do nosso tempo.

O que diz a Bíblia?

Bíblia recomenda muito o jejum, tanto o Antigo como o Novo Testamento; Jesus o realizou por quarenta dias no deserto antes de enfrentar o demônio e começar a vida pública; e muito o recomendou. “Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum” (Mt 17,20).

“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos” (Tb 12,8).

O nosso jejum deve ser acompanhado de mudança de vida, de conversão, de arrependimento dos pecados e volta para Deus. O profeta Isaías chamava a atenção do povo para isso:

“De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários”. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo” (Is 58,3-6).

Cada um de nós tem a própria individualidade; por isso, cada um deve realizar a forma de jejum que mais lhe seja adequada. Este livro prático do monsenhor Jonas Abib, sobre o jejum, ajudará você a buscar a forma correta de viver esta prática espiritual tão importante.


Fonte: Canção Nova, Prof. Felipe Aquino.

Cássio José: blog 100% Católico

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