14 abril 2010

O mundo moderno e seus “valores” eternos.

Vladimir Lachance

Há uma mania da mentalidade do homem dos nossos dias de transformar em valores eternos invenções recentissimas, estabelecendo com estas invenções uma relação de necessidade forçosa, como se não fosse possível conceber uma humanidade, uma idéia de mundo, em que não houvessem tais coisas.

Itens completamente desconhecidos por mais de vinte séculos de ocidente, são tomados como realidades que não só se aplicam aos dias correntes, mas servem para explicar porque nas épocas anteriores as pessoas se comportavam de determinada maneira.

Um exemplo muito claro disto se dá com a televisão: item de primeira necessidade na maior parte dos lares brasileiros, ao qual se ainda não se prestam cultos públicos, parece não está muito distante o dia em que irá acontecer. Certos comentários, que costumamos encarar levianamente demonstram este vício do “ad aeternum”.

Por certo, a maioria de nós já ouviu a explicação de que antes, as pessoas tinham muitos filhos por que não havia televisão para distraí-las; na falta do que fazer, elas procriavam… Sim, a explicação pode ser encarada como uma brincadeirinha, um dito que se repete para distender os animos; mas, não se pode deixar de notar a presença da tendência que descrevemos acima. Há uma projeção exagerada de uma realidade que não chega a ter nem 100 anos e que acaba sendo estendida para uma interpretação das realidades familiares de mais de 2000 anos.

A singela análise sociológica que deveria ser utilizada num sentido inverso, é utilizada para absolutizar aquilo que é efêmero: no caso, a televisão. Ou seja, a explicação poderia relacionar o fato da brusca diminuição da prole com o fenômeno recente da televisão, e não o contrário: dizer que pela falta dele, as famílias eram numerosas. E mesmo esta relação entre tv e diminuição do número de filhos não poderia explicar-se simplesmente pela idéia de que surgiu uma “distração”, como se a união dos conjuges só se desse como forma de entretenimento, idéia esta também que só ganha corpo nos nossos tempos – de onde se vê mais uma vez esta tendência de “ad aeternum” do homem moderno.
Outra reivindicação moderna nos leva ao assunto da moral e Igreja: o uso de preservativo. É costumeiro ouvir protestos do tipo: “É absurdo que a Igreja queira impor seus valores morais para o mundo, ainda mais impedindo que as pessoas usem preservativo, como se vivessemos no séc. XIX!“. E o argumento se repete. O mundo desconheceu o preservativo por séculos e séculos; a Igreja nunca precisou condenar tal uso pois ele nem sequer existia. Ela limitou-se a condenar uma invenção que também não chega aos 100 anos, provando que o mundo passou muito bem sem os preservativos por um longo período. O que, para os indignados com a postura da Igreja, é absurdo ser imposto, na verdade é o que sempre existiu. Eles pensam: “é impossível viver sem eles (os preservativos)!”, voltando a eternizar aquilo que só é caro e afeito à sua própria mentalidade.
É este homem moderno que não se apega a dogmas, é ele que não tem preconceitos, é ele que grita aos quatro cantos que não se pode impor nenhuma regra moral, cultura e religião; este homem não consegue entender a moral, cultura e religião que forjou a ele mesmo; não consegue respeitar a tradição da qual ele é fruto.

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