Formação ministrada para os pregadores da Diocese de Tianguá em 20 de outubro de 2020, através da plataforma Google Meet.
1. Pressupostos
Iniciais.
Tendo isso como pressuposto, achamos por bem tomar o que o próprio Catecismo da Igreja Católica e documentos como a Dei Verbum nos diz para esboçarmos a formação de hoje.
A Pontifícia Comissão Bíblica do Vaticano, no seu pronunciamento documental, intitulado por A Interpretação da Bíblia na Igreja, afirma que a própria Bíblia contém textos compreensíveis, mas também textos de difícil compreensão. E o problema da interpretação da Bíblia não é dos tempos modernos como muitos pensam.
2. O que a própria Bíblia diz sobre a Interpretação
Bíblica
A Bíblia mesma atesta que sua interpretação apresenta dificuldades. Ao lado de textos límpidos, ela comporta passagens obscuras. Lendo certos oráculos de Jeremias, Daniel se interrogava longamente sobre o sentido deles (Dn 9,2). Segundo os Atos dos Apóstolos, um etíope do primeiro século encontrava-se na mesma situação a propósito de uma passagem do livro de Isaías (Is 53,7-8) e reconhecia ter necessidade de um intérprete (At 8,30-35). A segunda carta de Pedro declara que « nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular » (2 Pd 1,20) e ela observa, de outro lado, que as cartas do apóstolo Paulo contêm « alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para sua própria perdição » (2 Pd 3,16).
A Igreja ao longo dos tempos educou o seu povo quanto à interpretação da Bíblia. Muitos métodos científicos de interpretação surgiram. O grande problema é que esses métodos eram contrários à Doutrina Cristã. Mas uma evolução positiva surgiu, marcada por uma série de documentos pontifícios, desde encíclica Providentissimus Deus de Leão XIII (18 novembro 1893 até a encíclica Divino afflante Spiritu de Pio XII (30 setembro 1943), e ela foi confirmada pela declaração Sancta Mater Ecclesie (21 abril 1964) da Pontifícia Comissão Bíblica e sobretudo pele Constituição Dogmática Dei Verbum do Concilio Vaticano II (18 novembro 1965).
Apesar de numerosos cristãos julgarem deficiente do ponto de vista da fé e em discussão, o método científico mais divulgado para o estudo e a interpretação bíblica é o que se chama de método histórico-crítico. Ele é praticado na exegese, inclusive na exegese católica. Como o seu próprio nome indica, esse método se atenta com a evolução histórica dos textos ou das tradições através dos tempos.
Vemos muitos espetáculos no âmbito do Cristianismo pelo fato de terem incoerência de interpretação bíblica. Isso faz com que o povo de Deus não acolha a genuína mensagem da salvação em detrimento de vãs, falsas e mentirosas pregações que passam longe de serem bíblicas ou cristãs. O Documento do Vaticano Interpretação da Bíblia na Igreja aponta alguns problemas dessa prática:
* Procura na Bíblia de um
Cristo pessoal;
* Satisfação da religiosidade
espontânea ou coletiva;
* Leitura dita espiritual, guiada unicamente pela inspiração pessoal subjetiva e que alimente esta inspiração pessoal e subjetiva;
* Numerosas seitas porpõe como única verdadeira uma interpretação da qual elas afirmam terem tido a inspiração.
De antemão, vale a pena
ressaltarmos e seguirmos o que nos diz a Dei
Verbum, n. 12 sobre a Interpretação da Sagrada Escritura:
Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem ser tidos também em conta, entre outras coisas, os «gêneros literários». Com efeito, a verdade é proposta e expressa de modos diversos, segundo se trata de gêneros histéricos, proféticos, poéticos ou outros. Importa, além disso, que o intérprete busque o sentido que o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretendeu exprimir e de fato exprimiu servindo se os gêneros literários então usados. Com efeito, para entender retamente o que autor sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos modos nativos de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer àqueles que costumavam empregar-se frequentemente nas relações entre os homens de então.
Mas, como a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita, não menos atenção se deve dar, na investigação do reto sentido dos textos sagrados, ao contexto e à unidade de toda a Escritura, tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé. Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo de algum modo preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a palavra de Deus.
3. Alguns pontos importantes no Catecismo da Igreja
Católica: parágrafos 109 a 119: O Espírito Santo, intérprete da Escritura e os
Sentidos da Escritura.
O
ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DA ESCRITURA: Parágrafos 109 a 114.
109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Portanto, para bem interpretar a Escritura, é necessário prestar atenção ao que os autores humanos realmente quiseram dizer, e àquilo que aprouve a Deus manifestar-nos pelas palavras deles (DV 12).
110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados, é preciso ter em conta as condições do seu tempo e da sua cultura, os «gêneros literários» em uso na respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar correntes naquele tempo. «Porque a verdade é proposta e expressa de modos diversos, em textos históricos de vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de outros gêneros de expressão» (DV 12).
111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada, existe outro princípio de interpretação reta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura seria letra morta: «A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita» (DV 12).
O Concílio do Vaticano II indica três critérios para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito que a inspirou (DV 12):
112. 1. Prestar grande atenção «ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura». Com efeito, por muito diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa (df. Lc 24, 25-27.44-46).
«Por coração (Sl 22,15) de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a conhecer o coração de Cristo. Este coração estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência, discernem o modo como as profecias devem ser interpretadas» (São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21,11).
113.
2. Ler a Escritura na «tradição viva de toda a Igreja». Segundo uma
sentença dos Padres,«Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae
quam in materialibus instrumentis scripta» – «A Sagrada Escritura está
escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos materiais» (cf. Santo
Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium Imperatorem 9: CSEL 65,204;
São Jerônimo, Commentarius in epistulam ad Galatas I 1,11-12: PL
26,347). Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da
Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da
Escritura («secundum spiritualem sensum quem Spiritus donat Ecclesiae» «segundo
o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à Igreja») (Orígenes, Homiliae
in Leviticum 5,5: SC 286,228).
114. 3. Estar atento «à analogia da fé» (cf. Rm 12,6). Por «analogia da fé» entendemos a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.
v OS SENTIDOS DA ESCRITURA: Parágrafos 115 a 119.
115.
Segundo uma antiga tradição, podemos
distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido
espiritual, subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e
anagógico. A concordância profunda dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à
leitura viva da Escritura na Igreja:
116. O sentido literal. É o expresso pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese segundo as regras da reta interpretação. «Omnes sensus fundantur super litteralem» – «Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal» (São Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q.1, a.10, adI).
117. O sentido espiritual. Graças à unidade do desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas também as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais.
1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e, assim, do Batismo (cf. 1Cor 10,2).
2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo. Foram escritos «para nossa instrução» (1Cor 10,11; cf. Hb 3-4,11).
3. O
sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos no seu
significado eterno, o qual nos conduz (em grego: «anagoge») em direção à nossa
Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da Jerusalém celeste (cf. Ap
21,1-22,5).
118.
Um dístico medieval resume a
significação dos quatro sentidos:
«Littera gesta docet, quid credas allegoria.
Moralis quid agas, quo tendas anagogia».
«A letra ensina-te
os fatos (passados), a alegoria o que deves crer,
a moral o que
deves fazer, a anagogia para onde deves tender» (Agostinho de Dácia, Rotulus
pugillaris, I).
119. «Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais profundamente o sentido da Sagrada Escritura, para que, mercê deste estudo, de algum modo preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus» (DV 12):
«Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas» – «Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja católica» (Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam vocant fundamenti 5,6: CSEL 25,197).
BIBLIOGRAFIA
(Observação: Não está de acordo com as normas da
ABNT)
Bíblias: Ave Maria, CNBB, Pastoral,
Bíblia de Jerusalém e Bíblia TEB de Estudo;
Carta Encíclica Divino Afflante
Spiritu do Papa Pio XII;
Constituição Dogmática Dei Verbum
sobre a Revelação Divina;
Documento do Vaticano A Interpretação
da Bíblia na Igreja.
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