Jesus
de Nazaré: O Cordeiro que é o Leão!
Por
Cássio José
À luz da paixão,
morte e ressurreição de Jesus Cristo e tendo como pressuposto a teologia
bíblica da cruz, analisada por Joseph Ratzinger, em seu livro Introdução ao Cristianismo,(ver págs.
208-217) podemos declarar que Jesus de Nazaré morreu como cordeiro, mas
ressuscitou como o leão. Dessa forma, deixou cruz e túmulo vazios e ocupou o
Trono Celeste. Por tanto, Jesus de Nazaré é o Cordeiro que é o Leão.
1.
Início de Conversa
As duas figuras são
atribuídas a Jesus de Nazaré: cordeiro e leão! Vejamos os pressupostos!
É até estranho rotular o
título de cordeiro ao Senhor Jesus já que, muitas vezes, cultivamos apenas os
títulos de grandeza e força: Mestre, Deus, Salvador, Rei, etc.
Mas as Escrituras
apontam que Jesus de Nazaré em sua crucificação trilhou a postura de cordeiro
ao derramar sangue e doar-se livremente e por inteiro.
Veja o que diz Isaías
53, 3 sobre Jesus, o Servo sofredor, quando Ele estava sob o madeiro:
Nem tinha beleza a
atrair o olhar, não tinha aparência. Era o mais desprezado e abandonado de
todos, homem de sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente
desvia o olhar.
Em Is 53, 7 a Bíblia
vai nos dizer que Jesus foi oprimido, se
rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante
do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca.
Durante 03 anos
ministeriais, Jesus Cristo arrebatou para si multidões e cumpriu o que diz a
Sagrada Escritura acerca o Messias, onde cheio do Espírito Santo traz o Reino
de Deus. A gente vê e fica maravilhado ao ler os 04 evangelhos.
Como resumo, podemos
trazer o que diz Atos dos Apóstolos 2, 22; 10, 38 sobre o seu ministério
messiânico:
Jesus de Nazaré foi um
homem credenciado por Deus junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que
Deus realizou por meio dele.
Jesus de Nazaré foi
ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Por toda a parte, ele andou
fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominador pelo diabo; pois Deus
estava com ele.
No fim de seu projeto
de messiânico, Jesus vai a Jerusalém, morre numa cruz e aparenta fracassar no
tocante ao seu ideal. Seus discípulos se dispersam e preferem viver amedrontados
e trancados diante desse fato!
No entanto, vemos nas Escrituras que a cruz
não foi capaz de prendê-lo nem os pregos tiveram força para segurá-lo. O sepulcro
também não teve poder suficiente para mantê-lo preso por mais de 03 dias.
Na verdade, Jesus
venceu a morte e ressuscitou: Lc 24, 5-6. 34; Jo 20, 6-9; At 13, 32-33; I Cor 15, 3-4; Ap 1,
17-18... Dessa forma, ressuscitado e regressando à direita de
Deus, onde exerce senhorio sobre todas as coisas e tornando-se o nosso advogado
(16, 19; At 2, 32-36; Fl 2, 6-11; I Jo 2, 1-2), Jesus de Nazaré assume a
postura de leão, conforme nos diz Apocalipse 5, 5:
Então, um dos Anciãos me falou: Não chores! O Leão
da tribo de Judá, o descendente de Davi achou meio de abrir o livro e os sete
selos.
2.
Jesus de Nazaré: o Cordeiro de Deus!
Já conhecemos a figura
ou terminologia Cordeiro de Deus, da qual o apóstolo São João, é o responsável,
pelas Sagradas Escrituras, ao atribuir à pessoa de Jesus de Nazaré tal
expressão. Para você ter uma ideia, em Apocalipse, essa palavra é usada 28
vezes (Ap 5, 6a. 6d.7. 8. 12. 13; 6, 1. 12; 7, 9. 10. 14. 17; 8, 1; 13, 8; 14,
1. 4b. 4c. 10; 15, 3; 19, 7. 9; 21, 9. 14. 22. 23. 27; 22, 1. 3)!
Em outros livros do N.
T. (como, por exemplo, em Atos e nas cartas de São Pedro) Jesus é comparado
ao cordeiro. Em João não! Ele de fato afirma que Jesus de Nazaré é o Cordeiro
de Deus!
Vemos exemplo disso claramente
em João 1, 29 e 36; quando Jesus está caminhando e João Batista declara para os
seus discípulos quem Jesus É o Cordeiro de Deus:
Eis
o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!
Entendemos a figura do cordeiro atribuída à
pessoa de Jesus de Nazaré, sobretudo, quanto à imolação do cordeiro pascal,
quando já desde o A.T. no episódio anterior à Travessia do Mar Vermelho, naquela
madrugada, os judeus (Cf. em Êxodo 12, 1-14), celebravam na Páscoa, a sua saída do Egito em detrimento à esperança
de uma terra onde corre leite e mel.
Para o antigo Israel, o
cordeiro identificava-se como o sacrifício, e o sacrifício é uma das formas
mais primitivas de adoração¹. Com a construção do Templo de Jerusalém, por
volta dos anos 960 a.C., Israel passou a oferecer os sacrifícios cotidianos ao
Deus todo-poderoso em ambiente majestoso. Todos os dias, os sacerdotes
sacrificavam dois cordeiros, um de manhã e um à noite, para expiar os pecados
da nação. O grande dia de sacrifício continuou a ser a festa da Páscoa, quando
até dois milhões e meio de pessoas peregrinavam a Jerusalém. Josefo relata que
na Páscoa de 70 d. C. – apenas alguns meses antes de os romanos destruírem o
Templo e cerca de quarenta anos depois da ascensão de Jesus – os sacerdotes
ofereceram mais de um quarto de milhão de cordeiros no altar do Templo –
255.600, para ser exato ².
Os judeus acreditavam
que os rituais feitos com o derramar de sangue dos animais no templo de
Jerusalém eram capazes de perdoar os seus pecados. (Hb 9, 21) No entanto, Deus
em sua infinita misericórdia envia Jesus de Nazaré para derramar um sangue
inocente, puro e sem mancha no alto de uma cruz, pois ele é o verdadeiro
Cordeiro de Deus, esse sim, capaz de tirar o pecado do mundo (Rm 3, 25; 5, 9; I
Pd 1, 19; 2, 24; Ap 5, 9).
O sacrifício de Jesus realizou o que todo o sangue de milhões de ovelhas, touros e bodes jamais conseguiu: pois é impossível que o sangue de touros e bodes elimine pecados (Hb 10,4). Jesus foi o único que foi capaz de abolir o pecado com o seu próprio sacrifício (Hb 9, 26). A teologia católica nos ensina que na cruz, Jesus foi a vítima, o sacerdote e o altar ao mesmo tempo!
Joseph Ratzinger, atual
Papa emérito Bento XVI, analisa a cruz diferente do que os judeus a viram em
sua época. Sabemos a cruz era sinal de salvação. Ratzinger traz um entendimento
de teologia
bíblica da cruz. Entendamos:
Em muitas religiões
pagãs antigas, era o homem que procurava a Deus para a reconciliação com
diversos sacrifícios e práticas ritualísticas, pois elas sugerem um sentimento
de culpa do home em relação a Deus. No Cristianismo temos o inverso: é Deus que
se dirige com seus dons ao homem: Deus em Cristo reconciliava o homem consigo (2
Cor 5,19).³
De fato,
lemos na Bíblia essa atitude maravilhosa da parte de Deus:
Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho
como oferenda de expiação pelos nossos pecados. O pai enviou seu Filho como
salvador do mundo.
(I
João 4, 10.14)
No parágrafo 608 do
Catecismo da Igreja Católica a fé cristã professa que:
Jesus de Nazaré é o cordeiro pascal, símbolo
da redenção de Israel por ocasião da primeira páscoa (Jo 19, 32; I Cor
5, 7).
Para
concluirmos esse entendimento, podemos pegar o comentário exegético da Bíblia
Teb de estudo acerca de João 1, 29 quando trata de Jesus de Nazaré como o
Cordeiro de Deus. Observe:
O
texto evoca a morte expiatória de Jesus, amalgando duas imagens tradicionais:
por um lado, a do servo sofredor (Is 52, 13-53,12) que assume os pecados da
multidão e que, inocente, se oferece como cordeiro; por outro lado a do
cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel (Ex 12, 1-28; Jo 19, 14. 36; I
Cor 5,7; Ap 5, 6.12)
Foi dessa maneira (ver
Jo 3, 16-21; Ef 2, 4-5; I Jo 4, 10.14), como nos diz Joseph Ratzinger, nosso
Papa emérito Bento XVI, quando ainda era cardeal, no seu livro Introdução ao Cristianismo, pág. 209: A
cruz representa nela a radicalidade do amor que se entrega sem reservas.
3.
Jesus de Nazaré é o Leão da tribo de Judá
Sabemos
pelo contexto histórico (até o dia de hoje ninguém foi capaz de encontrar o
corpo morto de Jesus de Nazaré em algum túmulo) e pelo registro das Sagradas
Escrituras (Ex.: Mc 16, 6; II Cor 5, 14-15; I Ts 4, 14; I Pd 1,3), sobretudo no
final de cada um dos quatro evangelhos (Mt 28, Mc 16, Lc 24, Jo 20) que Jesus
de Nazaré não foi vencido pela morte.
Veja o que o próprio
Jesus disse em Apocalipse 1, 17-18:
Não temas! Eu sou o Primeiro
e o Último, o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos
séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades.
De fato, o anjo disse
que não havia necessidade deles procurarem dentre os mortos aquele que estava
vivo (Lc 24, 5-6). A morte não teve poder sobre a vida de Jesus, pois ela foi
tragada pela vitória e perdeu o seu grilhão (I Cor 15, 54-55).
O evento histórico e
transcendente da Ressurreição do Senhor se dá num desfecho muito claro: o
túmulo vazio, a ausência do corpo, as aparições (como ressuscitado) com o corpo
glorificado, a subida à direita de Deus...
No livro de Atos dos
Apóstolos, mesmo em meio às perseguições sofridas por cauda do anúncio do Reino
de Deus, os apóstolos nunca desanimavam por que sabiam que pregaram um Nome que
está vivo e tem poder de ação no meio deles.
O fato é que Jesus de
Nazaré foi capaz de anular o documento de maldição e condenação eterna que
pesava sobre nós ao derramar seu sangue na cruz (Cl 2, 14-15). Foi também na
cruz que Jesus de Nazaré nos justificou com o seu sangue, transferindo-nos de
um império das trevas para o seu reino, onde recebemos a redenção e o perdão
dos pecados (I Cor 6, 11; Cl 1, 13-14).
Já no A.T. vemos alusão
à ressurreição do Senhor: Forte como a morte é o amor! (Ct 8,6).
Todas
essas reflexões nos fazem defender que após a ressurreição Jesus assume a
figura de um leão. Os cordeiros não são fortes, nem espertos, sagazes ou
graciosos. Jesus O foi assim na cruz! Mas, os leões são majestosos, fortes e
ágeis. Ninguém mexe com o rei dos animais. Jesus também O foi ao assumir a
realeza, a glorificação, o senhorio de todo o universo, a majestade divina.
Veja: muitos cristãos
gostam de ver Jesus apenas como o leão. Já outros cristãos veem Jesus apenas
como o cordeiro. Mas, na verdade, Jesus é os dois ao mesmo tempo. Por isso que
o título deste estudo é Jesus de Nazaré é o Cordeiro que é o Leão!
Não haveria problema algum dizermos que Jesus de Nazaré é o cordeiro e o
leão. Mas, para além disso, Jesus de Nazaré é o cordeiro que é o leão. O cordeiro
é o leão e o leão é o cordeiro! Jesus de Nazaré é o cordeiro que é o leão.
4. Considerações Finais:
É engraçado, e já
dissemos isso aqui, que só em Apocalipse, por exemplo, João afirma 28 vezes que
Jesus de Nazaré é atribuído à figura de um Cordeiro! Só que podemos fazer, de
forma resumida, 02 observações em Apocalipse, acerca desse cordeiro apontado
por João:
·
O cordeiro governa e ocupa o trono de
Deus (Ap 22,3);
·
É o cordeiro quem lidera um exército de
centenas de milhares de homens e anjos, e acende o medo no coração dos ímpios (Ap
6, 15-16).
Ou seja: o texto
bíblico chama Jesus de cordeiro, mas esse cordeiro se
comporta como leão! Sejamos bem honestos: ocupar trono e liderar um exército
de centenas de milhares de homens parece mais atribuição de um leão do que de
um cordeiro. No entanto, Jesus foi até a cruz como o cordeiro de Deus e não
como um leão. Após a ressurreição de Jesus de Nazaré, e tendo entendimento acerca
das realidades da Parusia, é que o Apocalipse chama Jesus de Leão
da tribo de Judá (Ap 5, 5).
Concluo dizendo que
Jesus morre como o cordeiro de Deus, mas ressuscita como o leão da tribo de
Judá. A cruz e o túmulo estão vazios, mas o trono está ocupado pelo Rei e
Senhor do Universo: Jesus de Nazaré que é Cordeiro que é o Leão.
Graça
e Paz de Cristo Jesus!
Cássio
José, seu irmão remido pelo cordeiro.
5. Fontes
e Referências:
1:
O banquete do cordeiro, Scott Hahn, pág. 32.
2:
O banquete do cordeiro, Scott Hahn, págs. 36 e 37.
3:
Introdução ao Cristianismo: Joseph Ratzinger, páginas 208 a 2017.
Bíblias
e livros usados:
Bíblia
CNBB;
Bíblia
Teb de Estudo;
Bíblia
de Jerusalém;
Catecismo
da Igreja Católica;
O
Banquete do Cordeiro, Scoot Hahn;
Introdução
ao Cristianismo, Joseph Ratzinger.
Nenhum comentário:
Postar um comentário