Por Cássio José*
1. INTRODUÇÃO.
No estudo de hoje, nos deteremos a esses 3 (três) assuntos relacionados
ao bloco temático INTRODUÇÃO ÀS SAGRADAS ESCRITURAS. Todo livro, tem sua
autoria, isto é, quem o escreveu.
No caso da Bíblia, todos os autores pelas quais foram usados por Deus
para escreverem os livros que a compõem, não escreveram o que quiseram!
Registraram, no entanto, por inspiração bíblica. Sob a ação do
Espírito Santo é que se deu o processo de trazer a mensagem que a Escritura
Sagrada hoje registra. Claro que isso, de acordo com os vários gêneros
literários que a Bíblia se apresenta.
2. AUTORIA/INSPIRAÇÃO
E VERDADE BÍBLICAS.
A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua
forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não
se deve interpretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor
dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração
poética, mas de autoridade divina.
Muitos homens e mulheres foram escolhidos pelo Senhor para escrever as
Sagradas Escrituras. Gente de muitas partes, culturas e realidades. Homens que
viajaram muito e outros que não saíram de sua terra. Pessoas cultas e
analfabetas contribuíram para a composição das Sagras Escrituras. Todos
eles tiveram um Encontro Pessoal com Deus e mudaram de vida. Dessa forma, foram
inspirados pelo Espírito de Deus para escreverem os Livros Sagrados. Claro,
antes, a Revelação era transmitida através da Tradição Oral. De geração a
geração a Palavra de Deus, os acontecimentos vivenciados pelo povo de Israel
eram narrados para os filhos e os filhos dos filhos, e assim por diante.
2.1. ENTENDENDO A INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA:
Assim escreveu Paulo a Timóteo: "Toda Escritura é divinamente
inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para
instruir em justiça" (2Tm 3,16). Em outras palavras, o texto sagrado do
Antigo Testamento foi "soprado por Deus" (gr., theopneustos) e,
por isso, dotado da autoridade divina para o pensamento e para a vida do
cristão. A passagem correlata de 1Coríntios 2,13 realça a mesma verdade.
Disto também falamos", escreveu Paulo, "não com palavras de
sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas
espirituais com as espirituais."
Quaisquer palavras ensinadas pelo Espírito Santo são palavras
divinamente inspiradas. Em 2Pedro 1,21. "Pois a profecia nunca foi
produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus falaram
movidos pelo Espírito Santo." Em outras palavras, os profetas eram homens
cujas mensagens não se originaram de seus próprios impulsos, mas foram
"sopradas pelo Espírito". Pela revelação, Deus falou aos profetas de
muitas maneiras (Hb 1,1): mediante anjos, visões, sonhos, vozes e milagres.
Inspiração é a forma pela qual Deus falou aos homens mediante os
profetas. Mais um sinal de que as palavras dos profetas não partiam deles
próprios, mas de Deus é o fato de eles sondarem seus próprios escritos a fim de
verificar "qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que
estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a
Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam" (l Pe 1,11).
O autor principal é um só: Deus. Deus se serviu de
diversos autores humanos (hagiógrafos) para escrever a Bíblia. São homens e
mulheres, jovens e idosos, pais e mães de família, sacerdotes, profetisas e
profetas, agricultores e pastores, artesãos e pescadores, justos e pecadores.
Junto com Deus, o autor da Bíblia é o povo.
Os autores bíblicos não se isolaram em seus “escritórios” e, diantedo
seu “computador”, redigiram seus livros. Os textos bíblicos antesde serem
escritos, foram memória oral durante muito tempo. Antes de virar texto, a
experiência de Deus era contada, celebrada, atualizada a novos tempos. Aos
poucos, essa memória oral foi sendo colocada por escrito. Nesse processo todo,
muitas pessoas, até gerações inteiras, deram sua contribuição. De fato, a
Bíblia é um livro que é fruto de um grande mutirão.
Os autores costumam atribuir suas obras a personagensimportantes do
passado: Moisés, Davi, Salomão, Isaías, Paulo...
O Catecismo da Igreja Católica, citando a Dei Verbum afirma sobre
a Inspiração e Verdade da Sagrada Escritura nos parágrafos 105,
106, 107 e 108:
CIC, nº 105:
Deus é o autor da Sagrada Escritura. "As coisas
divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada
Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo".
"A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e
canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com
todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles
têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria
Igreja."
CIC, nº 106:
Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.. "Na redação dos livros
sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas
próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por
meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele
próprio queria."
CIC, nº107:
Os livros inspirados ensinam a verdade. "Portanto, já que tudo o que
os autores inspirados (ou hagiógrafos) afirmam deve ser tido como afirmado pelo
Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com
certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista de nossa salvação
quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras."
CIC, nº 108:
Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião
da "Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do
Verbo encarnado e vivo". Para que as Escrituras não permaneçam letra
morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo, pelo Espírito Santo
nos "abra o espírito à compreensão das Escrituras".
3. DIVISÃO
BÍBLICA (ORGANIZAÇÃO DA BÍBLIA).
A Bíblia é formada pelos seguintes livros:
·
Antigo Testamento: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes,
Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias,
Tobias, Judite, Ester, 1Macabeus, 2Macabeus, Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes (ou Coélet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (ou
Sirácida), Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias,
Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias.
·
Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, Romanos,
1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,
1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus,
Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João, Judas e Apocalipse.
Portanto, o Antigo Testamento é formado por 46 livros e
o Novo Testamento reúne 27 livros.
A Bíblia foi escrita em três línguas diferentes: o hebraico, o aramaico
e o grego (Koiné). Quase a totalidade do Antigo Testamento foi redigida em
hebraico, embora existam algumas palavras, trechos ou livros em aramaico e
grego. Quanto ao Novo Testamento, este foi completamente redigido em grego - a
única exceção parece ser o livro de Mateus, originariamente escrito em
aramaico, contudo esse original foi perdido de maneira que resta-nos hoje a
versão em grego.
3.1. A BÍBLIA HEBRAICA
A Bíblia hebraica compreende 39 livros, escritos
antes de Cristo, sendo subdividida em três seções:
Torah ou Lei: compreende os cinco livros, Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
Profetas anteriores: compreende os livros de Josué, Juízes, 1-2 Samuel e 1-2 Reis.
Profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e doze profetas menores, isto é, de Oseias
a Malaquias.
Escritos: Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações,
Eclesiastes (Qoelet), Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1-2 Crônicas.
3.2.A BÍBLIA CRISTÃ
A Bíblia Católica possui 73 livros (a bíblia protestante possui 66
livros apenas, dado que Martinho Lutero adotou tão somente o Cânon da
Palestina), estando 46 deles no Antigo Testamento (AT) e 27 no Novo Testamento
(NT). O que separa o Antigo Testamento do Novo Testamento é a Encarnação de
Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador do mundo. Todo o Antigo Testamento
irá antever e preparar a vinda do Messias, do Salvador dos homens. Já o Novo
Testamento retrata todo o ensinamento de Jesus e perpetua toda a sua revelação.
O Antigo Testamento é um livro que se formou num período de tempo de
aproximadamente 1250 anos. Era a Bíblia de Jesus e seus Apóstolos. Mas no tempo
de Jesus o AT ainda não tinha sido fixado na sua extensão definitiva. Só no
Sínodo judaico da Jammia (cerca do ano 100 d.C.) chegou-se a formação do cânon
veterotestamentário (AT).
O AT, além de ser a parte mais importante da literatura hebraica,
pertence aos documentos mais veneráveis da humanidade. Não pode ser
compreendido se se prescinde da história do povo de Israel, da legislação que
regulava sua vida e das suas formas de expressão. Nele está uma variedade de
literaturas. Contém 46 livros divididos em 4 grandes grupos:
1. PENTATEUCO: Palavra grega
que significa cinco livros. São chamados também de Torá (Lei)porquecontém a Lei
da Antiga Aliança. Fazem parte do Pentateuco os seguintes Livros Sagrados:Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
2. LIVROS HISTÓRICOS: São 16
livros que narram a história do povo e seus líderes: Josué, Juízes,
Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias,
Judite, Ester, I e II Macabeus.
3. LIVROS SAPIENSIAIS OU DE
SABEDORIA E POÉTICOS: São 7 livros que encontramos a expressão da sabedoria
e dos sentimentos do Povo: ditados, poesias, cantos, orações, hinos,
provérbios, nos quais o povo registra seu sentimentos e expressa sua sabedoria
tirada da experiência da vida. São eles: Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos cânticos, Sabedoria, Eclesiástico.
4. LIVROS PROFÉTICOS: São 18
livros que trazem a vida e a mensagem de Deus pelos profetas, narram a formação
do povo da Bíblia com a vida, nome, lutas e a fé de seus heróis e do próprio
povo. São: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel,
Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias e Malaquias.
O Antigo Testamento era o livro lido por Jesus e pelas primeiras comunidades
cristãs.
No Novo Testamento temos:
· Evangelhos:
Mateus, Marcos, Lucas e João.
· Atos
dos Apóstolos.
· Cartas
Paulinas: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus*.
· Cartas
Católicas (ou universais): Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas.
· Apocalipse
de São João (Livro da Revelação).
Aceita-se a seguinte divisão para fins didáticos:
1. LIVROS
HISTÓRICOS: 4 Evangelhos + Atos dos Apóstolos.
2. LIVROS
DOUTRINAIS: 21 Epístolas (Paulo, Tiago, Pedro, João e Judas).
3. LIVRO
PROFÉTICO: Apocalipse.
3.3.OS DOIS TESTAMENTOS (A.T./N.T.) E
A SUA UNIDADE EM CRISTO JESUS
Estudiosos cristãos frisaram a unidade existente entre esses dois
testamentos da Bíblia sob o aspecto da Pessoa de Jesus Cristo, que declarou ser
o tema unificador da Bíblia.1 Agostinho dizia que o Novo Testamento acha-se
velado no Antigo Testamento, e o Antigo, revelado no Novo. Outros autores
disseram o mesmo em outras palavras: "O Novo Testamento está no Antigo
Testamento ocultado, e o Antigo, no Novo revelado". Assim, Cristo se
esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo.
4. GÊNEROS
LITERÁRIOS E SUA IMPORTÂNCIA
A mensagem da salvação, da qual a Bíblia se faz porta-voz, vem proposta
e expressa nos textos sob variadas formas: indo de relatos históricos a textos
poéticos, de cânticos de vitórias a lamentações proféticas, de textos jurídicos
a hinos litúrgicos, das parábolas às genealogias, de trechos dogmáticos a
exortações fraternas.
Essas diversas “técnicas” expressivas são chamadas pelos estudiosos de
gêneros literários. Trata-se de antigas formas linguísticas ligadas às
diferentes maneiras de informar; os cânticos de vitórias; os códigos legais.
Fazendo uma classificação sumária, podemos distinguir dois grandes gêneros
literários: poesia e prosa. Dentre eles, são classificados outros gêneros
menores.
4.1. Textos em poesia
Dentre eles, distinguem-se poemas de amor (por exemplo, o Cântico dos
Cânticos), as bênçãos, os cânticos de agradecimento, as súplicas, as
lamentações, os hinos de louvor, os oráculos proféticos. Cada gênero adota uma
linguagem específica a ser decifrada à luz do contexto específico: um trecho
poético apresentado no Cântico dos Cânticos é diferente de uma lamentação
profética. A este gênero pertence também a literatura sapiencial, cujo objetivo
é transmitir às gerações futuras a reflexão e a experiência dos sábios. É
expressa por adágios, ditos populares, sentenças, poemas temáticos, pequenos
tratados.
4.2. Texto em prosa.
A classificação dos textos em prosa é mais ampla e complexa. Encontramos
documentos de caráter histórico, como os anais; as crônicas; as genealogias; os
evangelhos; as narrações didáticas, como as parábolas; as cartas, como as de
Paulo, Pedro, Tiago, João, Judas; tratados teológicos; os relatos dos milagres;
os relatos da infância e os discursos proféticos, nos quais mensagens
singulares, em nome de Deus, remetem a destinatários preciosos com alocuções,
vaticínios, palavras fortes.
Cada gênero literário comunica uma mensagem precisa. É quando o ato de
escrever torna-se uma arte. O tema pode ser o mesmo, ou seja, um assunto pode
ser tratado por um filósofo, um poeta, um historiador, um cientista. Cada uma
dessas áreas aborda um mesmo tema com linguagem específica, recortando-o a seu
modo, conferindo a ele uma característica particular.
Os gêneros literários não podem ser ignorados no aprendizado da arte da
escrita e de sua leitura.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta entre
outras coisas, também os gêneros literários. Pois a verdade é apresentada e
expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos,
proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão (Dei Verbum,
12).
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* Graduado com Licenciatura Plena em Letras – Português pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Especialista em Língua Portuguesa com Ênfase em Literatura Brasileira pela Universidade da Aldeia de Carapicuíba, FALC. É também graduado em Pedagogia pela Uniderp – Anhaguera. Cursando Especialização em Língua Portuguesa e Filosofia pela FACIBA, Fortaleza. Membro da Renovação Carismática Católica de Camocim, servo do Grupo de Oração Renascer. Faz parte do ministério de Pregação e é Ministro da Palavra da Diocese de Tianguá.
REFERÊNCIAS:
- Bíblias: de Jerusalém, Bíblia TEB de estudo, Tradução da CNBB, Bíblia Ave Maria;
- Catecismo da Igreja Católica;
- Constituição Dogmática Dei Verbum.
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