O QUE É A RCC-RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA?
Muitas pessoas se perguntam o que é a RCC, e encontramos, infelismente, muitos católicos desconhecidos da sua doutrina e dos outros movimnentos que a Igreja Católica possui afirmando por aí que a RCC- RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA- é uma igreja dentro da Igreja Católica ou se comporta como tal. Não quero aqui dá um tapa na cara dessas pessoas, mas apenas esclarecer que a própria Igreja nos dá todo um aval(para nós da RCC), a prova disso é que nóis temos duais comunidades(frutos da RCC) que hoje são reconhecidas pelo VATICANO!!!
Surpreendeu-me a quantidade razoável de comentários nas duas últimas postagens sobre a Renovação Carismática e, especificamente, a Canção Nova.
Surpreendeu-me em quantidade, mas não no conteúdo das postagens.
Então resolvi escrever alguma coisa mais detalhada sobre a RCC. Dividi em três partes e esta é a primeira parte.
Com essa primeira parte, pretendo dar as bases do argumento da RCC e da sua oposição natural ao ensinamento da Igreja bem como ao da própria natureza da Igreja.
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Muitos carismáticos não sabem ou fingem não conhecer as origens desse movimento. Creio que se conhecessem plenamente não seriam carismáticos, por isso os grandes articuladores do movimento fazem de tudo para esconder sua raiz.
Falando à Agência Zenit, o Pe. Raniero Cantalamessa, pregador do Papa (João Paulo II e Bento XVI) deixa-nos escapar:
“(...)Quero dizer aos fiéis, aos bispos, aos sacerdotes, que não tenham medo. Desconheço por que há medo. Talvez em alguma medida porque esta experiência começou entre outras confissões cristãs, como pentecostais e protestantes”.
Muito bem, se você é católico, pressupõe-se que assuma integralmente a doutrina católica. Aceita também a Igreja e “toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos”. (cf. Lumen Gentium, 14). Como católico você crê firmemente que a Igreja Católica “peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação” (cf. ibid.).
Como católicos nós sabemos que Cristo fundou uma só Igreja, que é a Igreja Católica. Não há subdivisões na Verdadeira Igreja, tampouco há uma diferença sensível (histórica ou material) ou invisível (espiritual) entre Igreja de Cristo e a Igreja Católica. Ambas são a mesma Igreja que confessamos no Credo Apostólico; ambas são uma só, plena e substancialmente não havendo pluralidade eclesial.
Se Cristo fundou uma só Igreja, como sabemos e professamos, então Ele a encheu com os diversos dons para a Salvação do homem. Esses dons são conhecidos como sacramentos e seu número é sete, não seis, não oito; apenas sete!
Todos os dons para nossa santificação e salvação estão plenamente presentes na Igreja Católica e “embora nem todos os sacramentos sejam conferidos a cada um dos fiéis, eles são necessários para a salvação dos que crêem em Cristo, porque conferem as graças sacramentais, o perdão dos pecados, a adoção de filhos de Deus, a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja. O Espírito Santo cura e transforma aqueles que os recebem” (cf. CIC 1129). Poderia, pergunto eu, Jesus Cristo conceder um dom “extra”, inteiramente novo, a uma comunidade que não vive dentro da Sua Igreja, que é Seu Corpo Místico?
Pergunto ainda se esse dom “superlativo”, originado no seio da heresia, poderia ser tão necessário para a vida da Igreja verdadeira, que vive plenamente com sete sacramentos verdadeiros?
Como católicos é evidente e quase automático que dizemos não! A Igreja é detentora de todos os meios de santificação e salvação deixados por Cristo através da Sua vida e da Sua dolorosa Paixão. Não há nada “extra ecclesiae” que a Igreja deseje pois ela detém todos os tesouros do mundo!
Por isso como católicos que somos, não podemos acreditar que a RCC é um dom genuíno de Deus, porque ela começou “entre outras confissões cristãs, como pentecostais e protestantes”ou seja, ela teve sua gênese, sua origem, fora da verdadeira Igreja. A Igreja condenou o protestantismo como heresia e seria impossível um dom tão precioso surgir do seio da heresia. Seria um filho bastardo.
“A origem dos pentecostais se prende à denominação protestante Metodista. O Metodismo que tendia a reavivar o anglicanismo (...). Julgando que os episcopalianos haviam perdido seu fervor, John Wesley desejava lhes dar um novo método de vida espiritual.(...). No século XIX surgiu dentro do metodismo um novo movimento de renovação dito ‘Holiness’ (santidade). Esse movimento ensinava que, depois da conversão (necessária para a salvação), o cristão deve passar por uma segunda bênção ou uma nova e mais profunda experiência religiosa, que era chamada ‘batismo no Espírito Santo’”. Bettencourt, Dom Estevão Tavares in Crenças, Religiões, Igrejas & Seitas: quem são? Pág. 46, Ed. Mensageiro de Santo Antonio VIª Edição.
Percebam a dinâmica do protestantismo. Só nesta pequena citação de Dom Estevão temos 2 divisões (Anglicanismo -> (1) Metododismo -> (2) Pentecostalismo) e três denominações diferentes entre si. Essa é a dinâmica daqueles que não possuem respostas e meios plenos de santificação; essas denominações não conseguem manter a unidade interna justamente porque lhes faltam um fator gravitacional, algo que aglutine verdadeiramente, algo que é plenamente presente na Igreja Católica: Jesus Cristo.
Temos, então, a origem do movimento pentecostal (protestante) e um padre carismático afirmando que essa renovação surgiu “entre outras confissões cristãs, como pentecostais e protestantes”.
Já no século XIX, como atesta Dom Estevão, o movimento pentecostal pregava uma subversão da verdadeira eficácia do batismo tradicional. Não bastava apenas o batismo, que é válido nas confissões como o Metodismo, era preciso um novo meio, uma “segunda bênção”, para renovar a vida dos cristãos.
Aqui há a pretensão “genética” dos protestantes de achar que tudo precisa ser reformado e renovado, a cada minuto. No caso deles, penso, isso seja verdadeiro. No caso da Igreja Católica é falso.
Toda a renovação na história da Igreja teve uma direção diferente. A verdadeira renovação (positiva) é descendente, isto é, vem de cima para baixo. Vem de Deus para a Igreja, como resposta imediata às orações dos santos que clamam. Foi assim com São Francisco de Assis; Deus chama o jovem para “reconstruir sua Igreja que está em ruínas”. Não foi uma pretensão de São Francisco, mas algo que lhe foi confiado, algo que veio de cima e desceu até ele. Outros santos tiveram esse “chamado”, ora de forma bem objetiva ora de forma não tão milagrosa quanto a de Francisco, e partiram para a Renovação da Igreja. São João da Cruz e Santa Teresa, Santo Inácio de Loyola e Dom Bosco são exemplos desse movimento divino.
A renovação negativa é ascendente, vai do chão até o alto e tenta alcançar Deus. É obra meramente humana e só encontra um resultado: cisão, divisão e desagregação do Povo de Deus. É a pretensão de se chegar ao céu por vias humanas e pelos próprios braços; é como a construção de uma nova Torre de Babel.
Batismo no Espírito Santo
A essa “segunda bênção” deram o nome de “batismo no Espírito Santo”. Então compreendemos que o contexto desse “batismo” não é católico, nem se integra com a doutrina católica. Ele é o resultado de um “movimento” dentro do “movimento”, colocando em xeque a própria validade do batismo legitimamente instituído por Jesus Cristo.
O batismo “perdoa o pecado original, todos os pecados pessoais e as penas devidas ao pecado; faz participar na vida divina trinitária mediante a graça santificante, a graça da justificação que incorpora em Cristo e na Igreja; faz participar no sacerdócio de Cristo e constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos; confere as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. O batizado pertence para sempre a Cristo: com efeito, é assinalado com o selo indelével de Cristo” (cf. CIC Compêndio, 263).
Uma pretensão do “batismo no Espírito Santo” é a de infundir no fiel novos dons do Espírito Santo.
Vemos que, pela doutrina professada pela Igreja Católica, o batismo já insere os dons do Espírito Santo na alma do batizado. Assim o “batismo no Espírito Santo” como forma de imbuir essa característica perda a razão de ser; confunde-se novamente com outro sacramento instituído por Cristo, a crisma ou confirmação que “é a efusão especial do Espírito Santo, como no Pentecostes. Tal efusão imprime na alma um caráter indelével e traz consigo um crescimento da graça batismal: enraíza mais profundamente na filiação divina; une mais firmemente a Cristo e à sua Igreja; revigora na alma os dons do Espírito Santo; dá uma força especial para testemunhar a fé cristã” (cf. Ibid, 268)
Vimos até aqui que o Batismo no Espírito Santo não é, de fato, um sacramento ou algo da Igreja Católica. Tampouco encontra qualquer necessidade quando falamos em matéria sacramental.
“Em 1900 o pastor metodista Charles Parham aderia às concepções do Holiness. (...). Lendo At 2, 1-12; 10, 44-48; 19,17 chegaram a conclusão (Parham e seus alunos, nt) que o sinal característico do batismo no Espírito Santo é o dom das línguas (glossolalia). Então grande entusiasmo se apoderou do grupo que se pôs a rezar ininterruptamente durante vários dias e noites, pedindo a vinda do Espírito Santo”. (cf. Bettencourt, Dom Estevão Tavares, in op. Cit.)
É preciso deixar claro que até aqui estamos abordando apenas o protestantismo, mas somente por falta de coerência ou muita hipocrisia para não notarmos a semelhança entre a Renovação Carismática Metodista e a “Católica”. Ambas, como salientou frei Cantalamessa, têm a mesma origem.
O Batismo de Parham e o Dom de Oznam
Foi na experiência de Parham que surgiu a “oração em línguas”. Essa experiência é fruto da leitura seletiva e subjetiva da Bíblia. Procurava-se uma característica bíblica para o batismo no Espírito Santo, um sinal visível de uma realidade invisível.
Agnes Oznam, aluna do circulo bíblico montado por Parham, foi a primeira “imergida” pelo dom de línguas. Foi a senhora Oznam que, subjetivamente, criou o famoso “shiralalala” que hoje nos é tão comum. Não foi Pedro, Tiago ou João, mas Agnes Oznam que começou a falar em línguas através do “batismo” no Espírito Santo.
É evidente que Oznam não fora tocada pelo Espírito Santo. Então, não conhecendo nenhum idioma além do inglês (sua língua materna), inventou o “shiralalala” como forma de simular um suposto dom bíblico. A “teologia” que defende essa corrente da oração em línguas se desenvolveu de forma a justificar ou tentar sustentar a incompreensibilidade da oração.
Essa justificativa está presente na máxima: “No dom de línguas, estamos falando a Deus, não aos homens” (cf. “Flavinho”, in Acampamento de Pentecostes, 02 de maio de 2008). Nesse diálogo entre homem e Deus não cabe, segundo essa nova teologia, espaço para interpretações de terceiros, ou seja, quem ouve não precisa necessariamente entender. Contudo, não raramente nem mesmo o próprio indivíduo que ora em línguas sabe o que “disse”. Assim a oração apresenta-se oculta até mesmo para o próprio indivíduo.
“Mas os homens precisam que a mensagem lhes seja anunciada” (cf. “Flavinho”, ibid). De fato a mensagem evangélica precisava e precisa ser anunciada. “E ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (cf. I Cor. 9, 16).
Mas para ser anunciada ela precisa ser, primeiramente, compreendida. E isso se faz por dois canais intrínsecos: a compreensão metalingüística e a compreensão interpretativa.
Como compreensão metalingüística temos a leitura do texto e a compreensão das suas palavras. Para tal é preciso que a mensagem esteja codificada num conjunto acessível ao receptor; é preciso que o texto esteja em nossa língua ou numa língua que compreendamos. De nada adiantaria anunciar o Evangelho em idioma Tupi para um carioca! É preciso, nesse exemplo, que o texto esteja em português. Assim se dá a primeira “integração” do evangelho em nossa vida.
A compreensão interpretativa é reservada, no caso dos católicos, ao Magistério da Igreja. A leitura da bíblia deve ser feita na Igreja, não me referindo aqui apenas ao lugar físico, mas sim ao contexto. A bíblia deve ser lida e interpretada na Igreja, segundo a Tradição Apostólica e o Magistério dos Papas.
É aqui que o dom de línguas diverge da finalidade bíblica e da apostólica. O dom de línguas é inútil para o anúncio do Evangelho e, por conseqüência, não é o mesmo dom de línguas inspirado verdadeiramente pelo Espírito Santo em Pentecostes.
“Tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio de céu um ruído como o agitar de um vendaval impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que repartiam e que pousavam sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimirem”. (cf. At 2, 1-4)
O dom de línguas não foi dado, primeiramente, a todos os discípulos. No capitulo 1, versículo 15, há a referência dos cento e vinte discípulos. Mas na descida do Espírito Santo só os doze foram agraciados. A figura da língua se repartindo é sinal de que um mesmo espírito pousou sobre eles e não doze espíritos diversos.
Mas qual seria a finalidade do dom de línguas? O autor dos Atos deixa muito claro em seguida:
“Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos, vindos de todas as nações que há debaixo do céu. Com o ruído que se produziu a multidão acorreu e ficou perplexa, pois cada qual os ouvia falar em seu próprio idioma”. (cf. At 2, 5-6).
Um dom do Espírito é sempre algo positivo e, principalmente, útil à obra Evangélica. Os judeus piedosos ficaram perplexos porque os apóstolos falavam e, por milagre, eles entendiam em sua própria língua. Os judeus dessa passagem vinham de diversas partes do mundo e tinham línguas diferentes.
O evangelista Lucas vê nesse dom (de línguas) a reunificação da Babel perdida com todos os símbolos presentes: a unidade de compreensão restaurada e os povos com diversas línguas presentes em Jerusalém. Essa era a antecipação da missão dos apóstolos, que depois partiram para diversos cantos do mundo conhecido.
Eis a finalidade precisa do dom de línguas: a restauração de Babel e a missão universal da Igreja nascente. Nenhuma barreira, agora, poderia restringir o evangelho a uma determinada nação, pois o Espírito tinha queimado nos corações dos apóstolos o dom das línguas!
Vemos que o dom de línguas oriundo do “batismo no Espírito Santo” não tem essa finalidade fundamental e universal.
Respostas de Dom Alberto Taveira sobre o Dom de Oznam
Recentemente o bispo Dom Alberto Taveira, chefe da CNBB para a RCC, foi interpelado por outro bispo a respeito do suposto dom de línguas. Sua resposta será analisada abaixo:
“‘Benefícios’ da oração em línguas: Os carismas, sejam extraordinários ou humildes, são graças do Espírito Santo que têm, direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial, ordenados como são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo. Carismas são ‘manifestações do Espírito para proveito comum’. São dons úteis, instrumentos de ação, para servir à comunidade”. (cf. Taveira, Dom Alberto, in Esclarecimentos sobre alguns pontos da RCC à CNBB).
Sem qualquer dúvida Dom Alberto precisa exatamente a finalidade de qualquer dom do Espírito Santo. Poderíamos sintetizar que os verdadeiros dons do Espírito têm “direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial”.
Contudo, Dom Alberto desvia perigosamente da sua tese inicial.
“É um dom de oração cujo valor, enquanto 'linguagem de louvor', não depende do fato de que um lingüista possa ou não identificá-lo como linguagem no sentido corrente do termo". É uma linguagem a-conceitual, que se "assemelha" às línguas conceituais” (cf. ibid)
Dom Alberto exprime, da mesma forma como fez “Flavinho” acima, que a oração em línguas não é feita em linguagem conceitual (entenda-se num idioma real), mas numa “linguagem de louvor”. Diz também que “vale a intenção que está em nosso coração”.
Dom Alberto justifica o uso de uma linguagem não inteligível como um fato espiritual manifestando-se sobre a realidade corpórea do indivíduo:
“Quando o homem está de tal maneira repleto do amor de Deus que a própria língua e as demais formas comuns de se expressar se revelam como que insuficientes, dá plena liberdade à inspiração do Espírito, de modo a "falar uma língua" que só Deus entende”.
Por certo que há um limite em nossa realidade física e material. Contudo, se tal limite fosse atingido, como propõem Dom Alberto, e a “própria língua e as demais formas comuns de se expressar se revelam como que insuficientes”,então julgo que qualquer oração sonora seria igualmente insuficiente. Explico-me.
Se a oração consciente, numa língua conhecida, revela-se insuficiente, como propõe Dom Alberto, para louvar o Senhor, então a oração em línguas desconhecidas revelar-se-ia ainda mais incompetente para tal função.
A Oração
Santo Afonso de Ligório explica em seu tratado sobre a Oração que esta deve ser um pedido insistente e perseverante a Deus, pois “quem reza se salva, que não reza se condena”. Para Santo Afonso, como para Tomás de Aquino e Agostinho, a oração compreende, materialmente, um pedido. Para se pedir é necessário, obviamente, formularmos o pedido e saber o que estamos pedindo.
A oração encontra-se em duas formas diferentes, mas semelhantes: a oração vocal e a mental. Nenhuma é superior a outra, mas a oração mental pressupõe um grau de liberdade altíssimo, porque vem do fundo da alma e não encontra obstáculos materiais ou limitações lingüísticas.
Contudo, mesmo quando ordinariamente pensamos nós raciocinamos em “língua conhecida”. A maior liberdade da oração mental consiste em aliar a consciência a todos os outros sentidos.
Na oração vocal, com palavras, nos dirigimos a Deus e a Ele rogamos. A primeira condição para a oração é rezar por nós mesmos e pelo próximo. A segunda é pedir perseverança ao Senhor, sem a qual, por intervenção divina, não poderíamos alcançar os méritos da oração.
Como vimos, a oração vocal, tal como a mental, pressupõe consciência. Pressupõe que saibamos firmemente o que estamos fazendo, dizendo ou pedindo. Nesse contexto a oração em línguas se desloca dessa finalidade primordial da oração cristã.
Outra modalidade apresentada por Dom Alberto é a oração em línguas como canto. Na citação o Bispo usa uma passagem de Santo Agostinho, cujo núcleo destacamos nessa frase:
“Não busques palavras, como se pudesses dar forma a um canto que agrade a Deus. Canta com júbilo! Que significa cantar com júbilo? Entender sem poder explicar com palavras o que se canta com o coração. Se não podes dizer com tuas palavras, tampouco podes calar-te. Então,resta-te cantar com júbilo, se modo que te entregues a uma alegria sem palavras e a alegria se dilate no júbilo”
A frase, a princípio, parece resolver todos os enigmas da “oração em línguas” e dá a essa nova modalidade um invólucro consistente. Contudo, ela se desmonta quando isolamos a frase: resta-te cantar com júbilo, se modo que te entregues a uma alegria sem palavras.
A citação agostiniana pede que se cante, com júbilo, mas “sem palavras”. A oração em línguas como disse Dom Alberto “é uma linguagem a-conceitual, que se "assemelha" às línguas conceituais”. Ou seja, ela usa uma linguagem, ainda que não conceitual ou identificável; não é o que pede Santo Agostinho: “sem palavras”.
Santo Agostinho fala fundamentalmente do canto, do som sem palavras; da vocalização apenas das notas musicais, sem fonemas.
Profecia em Línguas
Talvez a mais grave tese de Dom Alberto venha sob a forma de “profecia carismática” como uma das manifestações “bíblicas” do dom de línguas.
“Uma terceira modalidade do dom das línguas é aquela de uso essencialmente público, que quando é acompanhado do seu complemento, o dom da interpretação, tem como seu propósito a edificação dos fiéis e a convicção dos descrentes. Aqui o falar em línguas não assume o caráter de oração, mas de uma mensagem em línguas, dirigida à assembléia e não aDeus, como é o caso da oração, e que portanto requer o exercício do outro dom apontado por Paulo, o dom da interpretação. O Espírito dá a alguém a inspiração de "falar em línguas" em alta voz. Suas palavras contém uma mensagem espiritual para um ou mais ouvintes. A mensagem permanece incompreensível, enquanto não for interpretada. A mensagem interpretada assume, regularmente, as características de uma profecia carismática, que,segundo S. Paulo, edifica, exorta e consola a assembléia. Autores há que, em vista de maior clareza, dão outro nome a esta forma de falar em línguas. Chamam-na de "mensagem em línguas", ou ainda de "profecia em línguas". Em oposição ao "falar em línguas" durante a oração, este dom não está livremente à disposição da pessoa. Exige-se uma inspiração peculiar. Muitas vezes, ela está acompanhada de outra inspiração, a saber, num dos ouvintes que então "interpreta" a mensagem e a traduz em linguagem comum, para a comunidade. O dom de "falar mensagem em línguas" é um dom transitório manifestado vez ou outra nas reuniões de oração; e o Senhor pode servir-se ora deste, ora daquele, enquanto que o dom da interpretação geralmente é considerado permanente; é dom que pode ser pedido na oração”. (cf. Taveira, Dom Alberto, in ibid.)
Os dons do Espírito Santo são: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus. Certamente, pressupondo uma nova benção, um “batismo no Espírito Santo”, pressupõe-se também a infusão dos dons do Espírito ao batizado. Um desses dons é o do entendimento que, segundo Dom Alberto, possibilita a interpretação da “profecia carismática”. Contudo, esse dom exige “uma inspiração peculiar”.
Segundo Dom Alberto a “oração em línguas” não é passível de interpretação, mas a “profecia em línguas (carismática)” sim, pois é “dirigida à assembléia e não aDeus”. Ambas, entretanto, apresentam a mesma característica e a mesma materialidade: sons incompreensíveis ou “uma linguagem a-conceitual, que se "assemelha" às línguas conceituais”. Dom Alberto não esclarece, como propõe sua nota, como se dá a diferenciação entre ambas (oração e profecia), mas deixa ao critério (criteria) do “intérprete”. Pois nesses casos de “profecias carismáticas” é um “dos ouvintes que então "interpreta" a mensagem e a traduz em linguagem comum, para a comunidade”.
Evidentemente isso abre o precedente para o caráter subjetivo. O tradutor, sentindo-se tocado pelo Espírito Santo, coloca-se a interpretar o que se “ouviu” em línguas desconhecidas. O mesmo acontece, por exemplo, em Medjugorje ou com as mensagens de Cristo diretamente à senhora Vassula Ryden; tudo é experiência pessoal e interpretação inspirada diretamente pelo Espírito, sem qualquer outro critério mais consistente.
Essa arbitrariedade e subjetividade da suposta “profecia” assemelham-se a tese de Lutero da inspiração direta do Espírito Santo sobre o leigo.
Subjetividade
“Ao encararmos o movimento pentecostal protestante, verificamos algumas das suas características, que nos sugerem uma reflexão: 1) a emoção não raro prepondera sobre a razão em tais correntes religiosas; 2) nelas há uma propensão forte aos fenômenos tidos como extraordinários, que fazem vibrar, aplaudir, gritar, dificultando o raciocínio e o senso crítico; 3) há aí pouco estudo profundo da Bíblia. Está é interpretada em chave fundamentalista, que, por insegurança ou medo de perverter a fé, toma a Bíblia ao pé da letra, mesmo quando ela exige entendimento diverso, de acordo com o gênero literário do respectivo livro; 4) nesse ritmo os pentecostais se afastam cada vez mais do genuíno cristianismo. Tendem a fazer da religião um serviço ao homem, e não a Deus; o antropocentrismo predomina, ainda que veladamente. Os seus templos se transformam mais e mais em salões de proclamação da bíblia e pregação, com a realização de milagres correspondentes. Tais milagres deveriam ser submetidos a sério exame cientifico, que revelaria quanto de sugestão e histeria há nesses fenômenos (...)” (cf. Bettencourt, Dom Estevão Tavares, in op. Cit.)
As características apresentadas acima, por Dom Estevão, referem-se aos movimentos protestantes pentecostais. Novamente, a semelhança ou mesmo total identificação com a Renovação Carismática “Católica” não é fruto do acaso ou mera coincidência.
O movimento pentecostal leva adiante a reforma de Lutero no quesito subjetividade. Agora não apenas a Bíblia é interpretada livremente, sob a chave da inspiração direta do Espírito sobre o indivíduo, mas também todo e qualquer fenômeno supostamente sobrenatural deve ser analisado sob essa perspectiva subjetiva, como apontou Dom Alberto.
A Igreja, como vontade divina e autêntica intérprete, perde todo o seu sentido; converte-se, como apontou Dom Estevão, em “salões de proclamação” ou, para os católicos, “rincões de pregação”.
Por essa semelhança entre pentecostalismo protestante e “católico”, há sempre o perigo freqüente de se relativisar a natureza da Igreja e do sincretismo religioso que no Brasil é tão visível. Para entendermos isso, vamos analisar alguns pequenos fragmentos:
“Este é o tema das minhas aulas de hoje e amanhã na Faculdade Dehoniana. Vendo a força das igrejas pentecostais ou da RCC, podemos pensar que ser carismático é coisas de nossos dias. Na verdade identifiquei já no judaísmo tardio e helenizado uma forma de literatura sapiencial, apocaliptica e carismática. Eles não tinham mais a estrutura institucional do templo, perdida pela diáspora. Restava a convicção espiritual que unia judeus do mundo inteiro em uma grande família. Paulo é um fariseu, poetanto um espiritual, que não conheceu o Jesus histórico. Restava-lhe o Cristo da fé. Falava grego também. Tinha sensibilidade helênica, portanto carismática. Sua carta aos coríntios é o suficiente para verificar o efeito desta sensibilidade sobre a mensagem do jovem galileu que nunca falou grego nem latim. O cristianismo espalhou-se pelo mundo nestas duas línguas” (cf. Joãozinho, Padre SCJ, in Ondas Carismáticas do Cristianismo disponível em http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/2007/09/24/ondas-carismaticas-do-cristianismo).
Primeiramente notamos que o padre “Joãozinho” não faz qualquer distinção entre “igrejas pentecostais” e “RCC”. Ambas são, como evidencia, uma “convicção espiritual”. Qualquer pretensão em diferenciar os pentecostais protestantes dos carismáticos católicos redunda em nada.
O trecho acima, além de intuir uma não-necessidade da “instituição” ou do “templo”, tenta ligar o movimento pentecostal, originado com Parham e Oznam, com o judaísmo. Como é claro para nós o judaísmo não admite a existência do Espírito Santo, portanto não poderia ter um movimento pentecostal como o carismático, por exemplo, pois o mesmo é uma “efusão do Espírito”. Também é ridícula e teologicamente risível a ligação entre a mentalidade “judaico-helênica” com o movimento carismático.
O texto de Pe. Joãozinho termina com o seguinte parágrafo:
“Santo Irineu, no século II já se opunha a cristinismo (sic) gnóstico, que chamava de “espirituais”. Depois, vieram os adeptos de Montano que acreditava em um cristianismo totalmente puro e espiritual, sem instituição. Foi condenado pela Igrejca (sic) como heresia. As ondas continuaram. Mas a mais forte, sem dúvida, foi da de Joaquim de Fiore, abade calabrês, que previu por volta do ano 1.170 uma Era do Espírito. Alguns franciscanos entenderam que Francisco seria este retorno prometido de Elias. Nele haveria chegado a “nova era”. A New Age de hoje não é tão nova assim. A sensibilidade pentecostal não está criando nada de tão novo. É o carisma que tem seu “setor livre” como dizia Congar… ou melhor, o Espírito que sopra onde quer, como disse o próprio Jesus!”
O subjetivismo fica visível, ainda mais, com a contraposição entre Santo Irineu (um santo rigoroso e com uma fé ortodoxa) e a New Age. Ambos são arquétipos antagônicos; o primeiro a ortodoxia, o segundo a heterodoxia.
Pe. Joãozinho foi extremamente infeliz nessa comparação, pois une o pentecostalismo ao movimento da “nova era”. A infelicidade da sua comparação não tira, em absoluto, a veracidade da mesma.
A Nova Era é o movimento que busca a dissociação do humano com qualquer religião ou sistema religioso. Ela é o sincretismo (união de diversas práticas religiosas) puro e essencial e o culto da “energia cósmica”. A Nova Era é o paganismo ou neopaganismo europeu e em nada tem ligação com São Francisco, mas tem uma íntima relação com o movimento pentecostal.
Sendo a Nova Era (New Age) sincrética, ela é ontologicamente subjetiva porque o único critério é o bem-estar do “crente”. Na busca por esse bem-estar todas as crenças são planificadas (colocadas num mesmo nível) e o “crente” é livre para escolher o que bem lhe agrada: yoga, mantras, simpatias, exorcismos, etc. Essa subjetividade encontra-se no carismatismo, pois “é o carisma que tem seu ‘setor livre’”.
Dom Estevão disse, na citação acima, que no movimento pentecostal há “pouco estudo profundo da Bíblia. Está é interpretada em chave fundamentalista, que, por insegurança ou medo de perverter a fé, toma a Bíblia ao pé da letra”. Também no movimento carismático há esse estudo fundamentalista e irrefletido da bíblia. Algumas citações são tomadas para justificar o movimento pentecostal, tal como fez Parham no seu movimento “Holiness”. Uma dessas citações o padre Joãozinho nos coloca:
“(...) o Espírito que sopra onde quer, como disse o próprio Jesus!”
Não apenas as citações bíblicas são tiradas fora do contexto, mas qualquer fala dos Papas ou santos é imediatamente colocada sob um contexto favorável.
“João XXIII, que pediu um novo Pentecostes para a Igreja e a renovação dos sinais e prodígios da aurora da Igreja” (cf. Taveira, Dom Alberto, in ibid.)
Olhando, de forma crítica, vemos que o pedido de João XXIII jamais encontra resposta no Movimento Carismático, pois esse não é católico (mas sim metodista).
Mas não é importante analisar o sentido das palavras de João XXIII, tampouco seu contexto, o importe é que elas servem para dar certa aprovação ao movimento.
Estar aprovado
Esse sentimento de “aprovação” é importante, mas não significa em nada submissão ao magistério pontifício ou às admoestações dos bispos. Tanto que o Documento 53 da CNBB, os números 54-55 pedem que se evite “o uso da expressão ‘Batismo no Espírito’, ambígua, por sugerir uma espécie de sacramento”. Orientação rejeitada majoritariamente pelos carismáticos, que se autocomandam uma vez que é o “Espírito que sopra onde quer”.
RCC e Papas
Alguns carismáticos, como Prof. Felipe Aquino, empenham o movimento da RCC na aprovação repetida proferida pelo Papa João Paulo II em vários discursos, em datas diversas. De fato o Papa João Paulo II elogiou várias e várias vezes o movimento de “Renovação Espiritual”, entendido como uma “nova sede de santidade” nas próprias palavras do Papa. Os elogios do Papa são mais freqüentes na década de 80 e início da década de 90. Essa é a mesma época na qual João Paulo II também elogiava a “Teologia da Libertação”, mas tais elogios não impediram que essa forma de teologia (profundamente centrada no homem, no material e no factível) se transformasse, não muito mais tarde, “na maior heresia de todos os tempos” segundo o cardeal Ratzinger.
Em 1998 João Paulo II diz aos participantes do IX Congresso Internacional da Renovação Carismática: “Vocês pertencem a um movimento eclesial. A palavra eclesial implica numa tarefa precisa de formação cristã, envolvendo uma profunda convergência de fé e vida. A fé entusiástica que dá vida às suas comunidades deve ser acompanhada por uma formação cristã que seja abrangente e fiel ao ensinamento da Igreja.”(L’Osservatore Romano, nov 1998.)
Certamente já ficava claro em 1998 que a RCC, com sua fé “entusiástica”, dava sinais claros de insubordinação “ao ensinamento da Igreja”, por isso a advertência.
Novamente em 1998, com o Prof. Felipe Aquino mostra em seu blog, o Papa João Paulo II insiste (certamente não sem motivo) na ligação fiel entre RCC e Hierarquia. Após os elogios, ele disse aos líderes da RCC na Itália:
“(...) Como líderes da Renovação Carismática Católica, uma de suas primeiras tarefas é a de preservar a identidade das comunidades carismáticas espalhadas pelo mundo inteiro, incentivando-as sempre a manter uma ligação estreita e hierárquica com os bispos e com o Papa.”
Está ligação não é obedecida pela Canção Nova, por exemplo, onde o “batismo no Espírito Santo” é ainda expressão corrente e freqüente, mesmo com a admoestação da CNBB. Nem nas paróquias e grupos carismáticos espalhados pelo Brasil, onde o “repouso no espírito” é praticado, mesmo com a recomendação expressa da Cúria Romana (Congregação para Doutrina da Fé, em 24/11/2006) para que cessassem.
Renovação no Espírito versus Renovação Carismática
Há ainda uma diferença capitular entre a “Renovação no Espírito” (elogiada pelo cardeal Ratzinger no livro “A Fé em Crise”) e a Renovação Carismática. A primeira é a percepção cada vez mais clara da importância da ação do Espírito Santo na vida cotidiana, uma redescoberta da realidade espiritual da vida cristã e a vivência dessa realidade. A segunda engloba diversas linhas heterodoxas, como analisamos até aqui, ou mesmo não-cristãs; é a percepção de uma subjetividade e de um relativismo com as coisas sagradas e a aplicação direta dessa percepção na vida cotidiana.
No mesmo livro de Ratzinger, citado por Prof. Felipe Aquino como forma de “endossar” o carismatismo com a figura do atual Papa (percebendo, certamente, o quanto é importante manter certa aparência de fidelidade) há:
“É preciso antes de tudo salvaguardar o equilíbrio, evitar uma ênfase exclusiva sobre o Espírito, que, como lembra o próprio Jesus, “não fala por si mesmo”, mas vive e age no interior da vida trinitária. Semelhante ênfase poderia levar a opor, a uma Igreja organizada sobre a hierarquia (fundamentada, por sua vez, em Cristo),uma outra Igreja “carismática”, baseada apenas na “liberdade do Espírito”, uma Igreja que se considere a si mesma como “acontecimento” sempre renovado”.
Essa advertência do cardeal Ratzinger não fica no escuro, uma vez que há sim essa “oposição” entre a Igreja fundamentada por Cristo (católica apostólica romana) e a “Igreja Carismática” baseada, como disse padre Joãozinho, no espírito que “sopra onde quer”.
A linguagem usada pelos carismáticos em seus encontros também dá a entender que essa igreja (tal como as protestantes) é um “acontecimento sempre renovado”.
É comum ouvirmos sempre a expressão: “foi um novo pentecostes” ou “Hoje a Igreja vai receber um novo pentecostes”. Isso certamente vem da essência do movimento protestante, mãe de todo pentecostalismo, que precisa ser constantemente renovado.
Esses milhares de “novos pentecostes” reduzem a importância do próprio Pentecostes do Novo Testamento a uma mera reunião onde os participantes se sentiram bem.
“Salvaguardar o equilíbrio significa também o justo relacionamento entre instituição e carisma, entre fé comum na Igreja e experiência pessoal. Uma fé dogmática sem experiência pessoal permanece vazia; uma mera experiência sem ligação com a fé da Igreja é cega. Enfim, não é o “nós” do grupo que conta, e sim o grande “nós ” da Igreja universal. Só esta pode oferecer o contexto adequado para “não extinguir o Espírito e manter o que é bom”, segundo a exortação do Apóstolo” (cf. FÉ EM CRISE? O Cardeal Ratzinger se interroga – Ed. E.P.U. – 1985, São Paulo)
Termino esta primeira parte com a seguinte resposta dada à Comunidade Dei Verbum, por ocasião dos 40 anos de RCC:
“Eu me sinto muito feliz com os 40 anos da RCC no Brasil e no mundo; porque de fato é um renovar do Pentecostes na vida da Igreja. Nesses tempos tristes de tantas heresias, seitas, relativismo religioso e moral, desrespeito e desobediência ao Papa e à Igreja, a RCC veio como um antídoto a tudo que atrapalha a verdadeira evangelização”
FONTE:http://igrejauna.blogspot.com/search?updated-min=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2010-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=50
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