02 dezembro 2009

PURGATÓRIO?

Desde os primórdios a Igreja, assistida pelo Espírito Santo (cf. Mt 28,20; Jo 14,15.25; 16,12´13), acredita na purificação das almas após a morte, e chama este estado, não lugar, de Purgatório. Ao nos ensinar sobre esta matéria, diz o nosso Catecismo:



“Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu” (CIC, §1030).



Logo, as almas do Purgatório “estão certas da sua salvação eterna”, e isto lhes dá grande paz e alegria.



Falando sobre isso, disse o Papa João Paulo II:



“Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, porque sabe que pertence para sempre ao seu Deus.” (Alocução de 03 de julho de 1991; LR n. 27 de 07/7/91).



O Catecismo da Igreja ensina que:



“A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório principalmente nos Concílios de Florença (1438´1445) e de Trento (1545´1563)” (§ 1031).



“Este ensinamento baseia-se também sobre a prática da oração pelos defuntos de que já fala a Escritura Sagrada:



‘Eis porque Judas Macabeus mandou oferecer este sacrifício expiatório em prol dos mortos, a fim de que fossem purificados de seu pecado’ (dois Mac 12,46).



Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em favor dos mesmos, particularmente o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus.



A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos “(§1032).



Devemos notar que o ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus, cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus.



Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés.



Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados.



O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas:



“ Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s).



Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé.



Todo homem foi criado para participar da felicidade plena de Deus (cf. CIC, §1), e gozar de sua visão face-a-face. Mas, como Deus é “Três vezes Santo”, como disse o Papa Paulo VI, e como viu o profeta Isaías (Is 6,8), não pode entrar em comunhão perfeita com Ele quem ainda tem resquícios de pecado na alma.



A Carta aos Hebreus diz que: “sem a santidade ninguém pode ver a Deus” (Hb 12, 14).



Então, a misericórdia de Deus dá-nos a oportunidade de purificação mesmo após a morte. Entenda, então, que o Purgatório, longe de ser castigo de Deus, é graça da sua misericórdia paterna.



O ser humano carrega consigo uma certa desordem interior, que deveria extirpar nesta vida; mas quando não consegue, isto o leva a cair novamente nas mesmas faltas.



Ao confessar recebemos o perdão dos pecados; mas, infelizmente, para a maioria, a contrição ainda encontra resistência em seu íntimo, de modo que a desordem, a verdadeira raíz do pecado, não é totalmente extirpada. No purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, e a alma chega à santidade perfeita, podendo entrar na comunhão plena com Deus, pois, com amor intenso a Ele, rejeita todo pecado.



Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.



O fogo neste texto tem sentido metafórico e representa o juízo de Deus (cf. Sl 78, 5; 88, 47; 96,3).



O purgatório não é de fogo terreno, já que a alma, sendo espiritual, não pode ser atingida por esse fogo. No purgatório a alma vê com toda clareza a sua vida tíbia na terra, o seu amor insuficiente a Deus, e rejeita agora toda a incoerência a esse amor, vencendo assim as paixões que neste mundo se opuseram à vontade santa de Deus. Neste estado, a alma se arrepende até o extremo de suas negligências durante esta vida; e o amor a Deus extingue nela os afetos desregrados, de modo que ela se purifica. Desta forma, a alma sofre por ter sido negligente, e por atrasar assim, por culpa própria, o seu encontro definitivo com Deus. É um sofrimento nobre e espontâneo, inspirado pelo amor de Deus e horror ao pecado.



Pensamentos Consoladores sobre o Purgatório



O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567-1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório.



Ele ensinava, já na idade média, que “é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório”.



Eis o que ele nos diz:



1. As almas alí vivem uma contínua união com Deus.



2. Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar´se no inferno a apresentar´se manchadas diante de Deus.



3. Purificam´se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.



4. Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.



5. São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.



6 Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.



7. São consoladas pelos anjos.



8. Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.



9. As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda



10. Se for infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.



11. O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor. (Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)



Fonte: http://areopagosvirtuais.com.br/downloads/purgatorio1.htm



APANHADO BÍBLICO QUE ENSINAM O PURGATÓRIO

O CÁRCERE – “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali NÃO SAIRÁS ANTES DE TERES PAGO O ÚLTIMO CENTAVO.”. “Eu vos digo: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos.” (São Lucas 16,9)



PECADOS PERDOADOS NA OUTRA VIDA – “Todo o que tiver falado contra o Filho do homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro.” (Mt 12,32)



PALAVRAS INÚTEIS – “Eu vos digo que de toda palavra inútil, que os homens disserem, DARÃO CONTA NO DIA DO JULGAMENTO” (Mt 12,36)



O SERVO IMPIEDOSO – “Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.” (São Mateus 18,34)



PASSANDO PELO FOGO – “… a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.” (1 Coríntios 3,13-15)



ATÉ QUE PAGASSE TODA A SUA DÍVIDA. ” (São Mateus 18, 32-35)



PENA MAIOR E PENA MENOR – “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, SERÁ AÇOITADO POUCAS VEZES” (Lc 12,47).



TABERNÁCULOS ETERNOS – “Eu vos digo: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos.” (São Lucas 16,9)



SALVO ATRAVÉS DO FOGO – QUEM PECA HÁ DE PAGAR – “Quem cometer injustiça, PAGARÁ PELO QUE FEZ injustamente; e não haverá distinção de pessoas.” (Colossenses 3,25)



SOMENTE SANTOS – SANTIDADE (perfeição) – “… procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, SEM A QUAL NINGUÉM PODE VER A DEUS”. (Hb 12,14)



ESPÍRITOS DETIDOS – “… mas [Cristo] foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que ERAM DETIDO NO CÁRCERE, àqueles que outrora, nos dias de Noé, TINHAM SIDO REBELDES…” (II São Pedro 3, 18-19)



PURIFICAÇÃO DE TODA MANCHA – “Nela (na Jerusalém Celeste) jamais entrará ALGO DE IMUNDO e nem os que praticam abominação e mentira” (Ap 21,27).



TESTEMUNHOS DA IGREJA PRIMITIVA – Bispo de Hierápolis (séc. II), na Frígia, Abércio mandou esculpir numa lápide os dizeres que recobriam o seu túmulo, dizeres que terminam com a seguinte advertência: “Estas coisas quem compreende, ORE POR ABÉRCIO, todo o que comunga com ele.”



No cemitério de Priscila, em Roma, foi gravada no séc. III a inscrição: “Rogo-vos irmãos, todas as vezes que aqui vindes A ORAR E REZAR INSTANTEMENTE ao Pai e ao Filho, LEMBRAI-VOS DA CARA ÁGAPE, a fim de que Deus Todo-Poderoso guarde Ágape pelos séculos”.



Em Alexandria, no Egito, foi encontrada uma inscrição com os dizeres: “Que o Senhor se recorde da dormição e do repouso de Makara, a muito meiga: QUE O LEITOR ORE POR ELA”. (P. 41).



Além disso, há os testemunhos patrísticos como São João Crisóstomo que disse: “OS APÓSTOLOS INSTITUIRAM A ORAÇÃO PELOS MORTOS…” (P. 42).



Além da Didaqué, etc…

http://caiafarsa.wordpress.com/purgatorio/

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