Com a Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério desejamos proporcionar a você o "Depósito da Fé", herdado e transmitido por todas as gerações do Cristianismo. Forte Abraço
24 setembro 2010
O que está por trás dos ataques a Ratzinger?
setembro 23rd, 2010 Por Antonio Gaspari e Carmen Elena Villa
“A única coisa que não se perdoa a Ratzinger é que tenha sido eleito papa…”: assim termina o livro “Ataque a Ratzinger. Acusações, escândalos, profecias, complôs contra Bento XVI”, escrito por Paolo Rodari e Andrea Tornielli, cuja edição em italiano foi publicada por Piemme.
Rodari, vaticanista do jornal Il Foglio, e Tornielli, vaticanista do jornal Il Giornale, reconstroem, enriquecendo com informações inéditas, o fato de como a imprensa internacional se enfureceu contra Bento XVI. Ambos estiveram no curso The Church up Close (A Igreja de perto), que se realizou na Pontifícia Universidade da Santa Cruz de Roma, de 6 a 12 de setembro, e nele falaram sobre este tema aos presentes.
Para aprofundar neste assunto, ZENIT entrevistou um dos autores, Andrea Tornielli, que escreveu, entre outros livros, Pio XII. Un uomo sul trono di Pietro (Pio XII, um homem no trono de Pedro), Mondatori 2007, e Paolo VI. L’audacia di un Papa (Paulo VI, a audácia de um Papa), Mondatori 2009. Também é autor do blog Sacri palazzi (Sagrados palácios): http://blog.ilgiornale.it/tornielli/.
O que você acha que está por trás dos ataques ao Papa?
Andrea Tornielli: Não acho que os ataques venham de uma só direção nem que seja um complô. Acho que são vários grupos, várias realidades soltas e diferentes entre si, que têm um interesse comum: transformar a Igreja em uma seita protestante qualquer, porque os ensinamentos da Igreja incomodam.
Não me refiro somente – como muitos poderiam pensar – aos temas da ética ou da sexualidade, mas também aos temas da globalização, do desenvolvimento, da defesa do ambiente, da política multilateral, entre outros. Esses grupos não necessariamente agem usando uma única orientação, mas é claro que criticam publicamente e que atacam o Papa. Penso que têm todo um interesse em enfatizar os problemas da Igreja, como, por exemplo, o escândalo da pedofilia.
Por que o atacam? Por que o impediram de falar na Universidade Sapienza de Roma em janeiro de 2008?
Andrea Tornielli: Certas campanhas midiáticas são determinadas pela “fome” negativa do preconceito consolidado e não correspondem à realidade exposta primeiro pelo cardeal Ratzinger e depois pelo Papa Bento XVI. Querem que ele seja visto como um retrógrado conservador, antiliberal e antidemocrático.
O caso da Sapienza é exemplar porque não foi causado só por minúsculos grupos de estudantes ideologizados, mas também por pesquisadores e professores que “julgaram” Ratzinger, partindo da base de uma citação errada que foi tomada da Wikipédia – aliás, isso deveria nos dizer algo sobre o nível das nossas universidades.
O poder secularizado teme o anúncio de uma verdade irredutível; há lobbies e grupos de poder para os quais a moral cristã e o ensinamento ético da Igreja são incômodos. Em certas situações, a voz da Igreja permanece como o único baluarte de uma consciência não anestesiada.
Você diz que há ataques externos. Acha que também existem ataques internos?
Andrea Tornielli: Claro que sim! Isso é determinado por um fenômeno que nós chamamos de dissidência interna da Igreja, ou seja, teólogos e inclusive bispos que criticam abertamente alguns aspectos do magistério de Bento XVI. O fim último não são os ataques inconscientes, porque são queridos por alguma maquinaria curial, que facilita algumas crises que poderiam ter sido evitadas, mas que, no entanto, cresceram e se converteram em um problema maior.
Continuando com o tema, durante o voo a Portugal, em 11 de maio, o Papa disse que “hoje vemos isso de maneira realmente assustadora: a maior perseguição da Igreja não procede dos inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”. Quais são estes pecados aos quais o Papa se refere e quais são os grupos e pessoas que criam inimizades no interior da Igreja?
Andrea Tornielli: A pergunta foi formulada com referência explícita aos escândalos de pedofilia que dizem respeito a expoentes do clero. A resposta do Papa foi dramática. Bento XVI explicou que o ataque mais forte acontece no interior, é o pecado da Igreja. No fundo, a história nos ensina que, nos ataques externos à Igreja, sempre existe no final uma saída reforçada, talvez depois de longos períodos de dificuldade ou de perseguição. Já o ataque interno a destrói.
Agora, não são somente os gigantes, inclusive os “espantosos” episódios do abominável crime da pedofilia. Existe também o crescimento de um pensamento não-católico no interior da Igreja Católica: uma realidade denunciada com extrema lucidez desde o Papa Paulo VI, que hoje infelizmente ainda persiste. Fiquei surpreso, por exemplo, com certas reações contra a decisão de Bento XVI de liberar a Missa antiga. Reações públicas, vindas inclusive de bispos. Os exemplos seriam muitos.
O Papa, na homilia da Missa que encerrou o Ano Sacerdotal, no dia 11 de junho, falou num tom muito específico sobre heresias e sobre a necessidade de usar o cajado contra os lobos que querem afugentar o rebanho. A que ele se referia?
Andrea Tornielli: No nosso livro, analisamos a crise dos primeiros cinco anos do pontificado do Papa Ratzinger, não fazemos uma lista de possíveis heresias. Eu gostaria de recordar que, infelizmente, hoje se difundem – de maneira mais ou menos subterrânea – ideias ou interpretações que acabam destruindo a fé das pessoas simples.
Neste sentido, como explicava o então cardeal Ratzinger no começo do seu mandato como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Magistério tem o dever de proteger a fé dos simples, daqueles que não escrevem nos jornais nem vão falar na televisão.
O Magistério tem um dever – dizia ele – “democrático”. Acho que uma mudança radical que o Papa pede a todos é a de ser conscientes de que a Igreja não foi “feita” por nós, não pode ser considerada uma empresa, nem tudo pode ser reduzido a reivindicações sobre funções e ministérios, sua vida não pode estar planificada somente com estratégias pastorais. Se aprendêssemos desse constante apelo do Papa, talvez muitos opositores abertos e ocultos compreenderiam que o Papa não é um monarca absoluto, mas alguém que obedece Jesus Cristo na transmissão do depositum fidei.
Voltemos ao tema dos ataques que vêm de fora da Igreja: Ratisbona, preservativos, Williamsom, abusos sexuais. O que eles têm em comum?
Andrea Tornielli: Acho que a única verdade que têm em comum é a de ter desviado a atenção do que o Papa verdadeiramente queria dizer ou fazer. Por exemplo, em Ratisbona, o Papa não estava falando contra o Islã, e sim fazendo um discurso sobre a fé e a razão. Este discurso passou a um segundo plano do ponto de vista midiático. Depois, pouco a pouco se estendeu ao diálogo com os intelectuais islâmicos.
O preservativo é um tema que o Papa nunca tocou nos discursos que deu na África. Esta foi uma viagem belíssima: atenção das pessoas, participação na liturgia, mensagem importante no que diz respeito ao trabalho do Sínodo e aos aspectos importantes do desenvolvimento na África, mensagem importantes sobre o desenvolvimento de uma teologia africana. Tudo esquecido…
Assim, no caso de Williamsom, uma iniciativa como levantar a excomunhão, que era de um gesto de reconciliação, foi explicada como uma grande crise nas relações com o mundo judaico. O elemento comum é que não se transmite a verdadeira mensagem do Papa.
Como o livro apresenta o caso de Williamsom?
Andrea Tornielli: No livro, tentamos evidenciar que houve um problema que sempre pode ocorrer: a informação, que foi expedida da Suécia, quando foi transmitida a entrevista, não chegou a tempo ao Vaticano. Quando se decidiu concluir e levantar a excomunhão, naquele momento nem o Papa nem seus colaboradores conheciam a entrevista.
O problema, do meu ponto de vista, é o que aconteceu depois, isto é, que naqueles 4 dias que passaram entre a publicação da entrevista e o anúncio oficial, o decreto já havia sido entregue. E naquele período não se fez nada. Poderiam ter dito aos lefebvristas: “Não o publiquemos, esperemos um mês”; poderiam ter explicado o decreto por um cardeal como Kasper ou inclusive como o secretário de Estado, que dissesse em nome do Papa que estas coisas que Williamsom disse são inaceitáveis, que a Igreja não acreditou nelas nem acreditará nunca, que o gesto de levantar a excomunhão não tem nada a ver com estas ideias. A culpa é mais nossa – refiro-me a nós, os jornalistas -, mas o Vaticano poderia ter agido melhor.
E no caso de Murphy, mostram a forma como o New York Times manipulou a informação?
Andrea Tornielli: O problema existe, não são casos falsos, mas verdadeiros, ainda que tenham a ver com o passado. É algo gravíssimo, mas acho que em muitos casos houve falta de competência e de vontade para entender a totalidade dos fatores e se quis, de maneira direta e um pouco gratuita, chegar rápido ao Papa, dizer que ele foi o culpado por esta situação e por este fato, porque o caso dos documentos do New York Times foram traduzidos com o google translator e não correspondiam em inglês ao que na verdade estava escrito em latim. Não estou julgando os outros meios, mas é verdade que houve uma campanha que pretendia levar a responsabilidade ao Papa e que era necessário envolvê-lo nesta matéria.
Como analisam as reações do Papa frente a estas informações distorcidas?
Andrea Tornielli: Acho que há uma grande resposta do Papa: nunca foi a de defender-se atacando os demais, nem falando de uma campanha midiática da imprensa. Nunca se refugiou nas estatísticas, como fizeram seus colaboradores. Ele mostrou a toda a Igreja e nem toda a Igreja está atenta a ele.
Ele mostrou outro ponto de vista, que é o da fé; e disse que os maiores ataques vêm de dentro da Igreja. Ele afirma que este é um tempo de graça e de purificação. Diz que “devemos fazer penitência e mudar”. Acho isso muito cristão e muito bonito, do ponto de vista do Papa. Eu gostaria que esta atitude estivesse mais ao alcance de todos.
Como comunicar o mais belo da mensagem do Papa? Qual é a tarefa dos jornalistas católicos ao dar a conhecer o mais belo que ele diz, ao invés de ressaltar o que as outras notícias dizem?
Andrea Tornielli: Falo a partir da minha experiência pessoal. Eu escrevo em um jornal leigo. Acho que uma perspectiva justa é a de levar em consideração certas manchetes e também certas polêmicas, mas não esquecer jamais o coração da mensagem.
Também porque é necessário recordar que não é verdade que as pessoas não se interessam pelo coração da mensagem. Isso lhes interessa mais que qualquer coisa. Hoje há uma ignorância grandíssima de conteúdos religiosos. O problema está em que o conteúdo religioso deve ser exposto, comunicado de forma que seja interessante. Não é verdade que a religião não é o coração da mensagem para os leitores.
Como estes escândalos influenciam do ponto de vista do cidadão comum, que não necessariamente vai buscar a verdadeira mensagem do Papa no site do Vaticano?
Andrea Tornielli: Infelizmente, percebi algo que nunca tinha visto antes, durante os meses em que estive na Irlanda, porque na Itália a situação é diferente. Vi como uma comunicação incorreta por parte da mídia e de certas manchetes que contêm citações fora de contexto pode influenciar a fé das pessoas.
Isso me impressionou porque eu pensava que o erro de comunicação e a manchete equivocada manchavam um pouco a imagem do Papa, mas confiava em que isso ficaria nos círculos midiáticos e que as pessoas, cedo ou tarde, saberiam qual é a verdade. Mas o problema é que as pessoas não sabem! Todos veem a televisão ou leem o jornal e acabam acreditando que aquilo é verdade.
Então, sim, há uma responsabilidade grandíssima, porque uma mensagem equivocada pode tocar a fé das pessoas. Acho que é necessário que a Igreja também entenda isso.
Dou um exemplo banal: quando foi publicado “O Código Da Vinci”, dei várias conferências sobre o tema e havia muitas pessoas com várias perguntas. Conheci vários sacerdotes que frequentemente me diziam “Bom, é só uma novela”. Agora, vários anos depois, há pesquisas acadêmicas que demonstraram que na Itália, entre adolescentes do Ensino Médio, 25% deles têm certeza de que Jesus Cristo foi casado. E qual é a fonte desta informação? Não é o pároco, é a mídia!
É necessário perceber que certas mentiras devem ser combatidas um pouco com as mesmas armas; não com outras mentiras, mas sim com uma mensagem e com uma linguagem que busquem o mesmo nível de difusão, de clareza e de interesse.
Você escreveu dois livros sobre Pio XII, Paulo VI. Que relação você vê entre os ataques a esses papas e os ataques atuais?
Andrea Tornielli: Há algumas coisas em comum, ainda que eu também deva dizer que os ataques contra Pio XII vieram justamente depois da sua morte, por isso era algo completamente diferente. Em contrapartida, os ataques a Paulo VI foram duríssimos em comparação com Ratzinger. A situação hoje é muito melhor.
Os ataques contra Paulo VI eram ferozes, estavam dentro da Igreja e eram de uma maldade e uma força verdadeiramente devastadoras, tanto que ele, depois de ter escrito a encíclica Humane Vitae (1968), não pôde escrever mais encíclicas para não submeter um documento de tanta autoridade, como no caso de uma encíclica, a críticas tão fortes. Mas também é necessário ter uma visão histórica e acho que há muitas semelhanças, mas a época é diferente.
Hoje nos encontramos diante do fato de que, para Bento XVI, há um preconceito negativo, que é apresentado como retrógrado, como antidemocrático, antiliberal e contra a modernidade, e isso é, infelizmente, muito difícil de desmantelar.
Com relação ao caso de Pio XII, dizem que era amigo dos nazistas, que era antissemita. Você pode escrever o que quiser e mostrar todos os argumentos que quiser, mas é um trabalho dificílimo, de muitos anos, para mudar as ideias pouco a pouco. A sorte é que, enquanto Pio XII morreu sem poder defender-se, Bento XVI encontrou pessoas que, quando o escutam, percebem que o retrato que a mídia construiu não corresponde à realidade.
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