22 fevereiro 2013

“Cansado de buscar igreja sem pecadores”, peregrinou por grupos protestantes e decidiu voltar à Igreja Católica. Um testemunho.


Fonte: Fernando de Navascues /  religionenlibertad.com
José Luis Vela era um grande conhecedor da Bíblia. Disse que o zelo religioso ofuscou seu amor, buscou igrejas mais puras, caiu no fanatismo… até que aprendeu a perdoar.
José Luis Vela é um mexicano formado na fé católica. Não era um homem que tivesse descuidado de suas crenças por outros deuses; não era uma pessoa “de um montão”, de fé rotineira e aborrecida; de fé sonolenta e complacente. Não.
Era um homem comprometido com a Igreja Católica.
Era um apóstolo, uma pessoa convencida e, também, convincente.

Um apaixonado por Cristo, com vastos conhecimentos sobre a Bíblia. No entanto, algo cruzou por seu caminho e derrubou todos estes princípios: a soberba.
Vanglória e zelo sem amor
Durante muito tempo tinha se dedicado ao estudo da doutrina católica e aprofundar no conhecimento da Bíblia.
De fato pertencia a um movimento dedicado a trabalhar nesta pastoral. Com o tempo, longe de afundar no verdadeiro amor a Jesus, sucedeu justamente o contrário: “Este conhecimento havia provocado em mim sentimentos de jactância, arrogância, vaidade, etc. Sabia -explica Vela- ‘tudo’ o necessário para defender a Igreja”.
“Então o véu da vanglória cobriu minha face e me esqueci do perdão e da misericórdia. O zelo religioso ofuscou o amor. A misericórdia fugiu de mim. E surgiu o juiz”.
E claro, não só já afloravam os erros nas demais pessoas, em seus grupos, nos hereges, mas descobriu uma Igreja Católica cheia de erros e equívocos.
Por uma igreja “perfeita”
“O rancor se apoderou de mim, tinha deixado de crer na boa vontade da Igreja Católica fundada por Jesus. Acreditava que a Igreja tinha me enganado porque eu queria uma Igreja perfeita, sem mancha, nem ruga, quase celestial.
Não tinha podido assimilar a paciência da Igreja Católica para com os fracos e os que não têm conhecimentos bíblicos. Tinha me convertido em um fariseu letrado e sem misericórdia”.
Logicamente, abandonou a Igreja.
Depois de três anos de se alimentar unicamente da Bíblia e sem pisar em nenhum templo católico ou protestante, e após sofrer uma depressão, José Luis optou por buscar um lugar onde pudesse compartilhar seus conhecimentos.
Rechaçou as clássicas seitas como as Testemunhas de Jehová, Mórmons, Sabatistas, Cientologia, Luz do Mundo, etc., e começou a buscar seu lugar nas igrejas protestantes.
Estas eram legiões… cada uma com seu estilo, com sua forma, com seus costumes, com suas liberdades e diferentes entendimentos da Palavra de Deus.
Na primeira igreja em que caiu chegou a ser o ajudante principal do Pastor. No entanto, o idílio durou pouco. Durou até que por discrepâncias doutrinais e de costumes teve que abandonar o grupo.

 
Proibido celebrar Natal
O perambular posterior entre umas e outras igrejas evangélicas lhe demostrou como, quando entras em seu mundo, no princípio é tudo maravilhoso: a acolhida, a valorização das pessoas, a aprovação comunitária…
Mas com o tempo as coisas mudam: aumenta a obrigação de ir a mais e mais reuniões, e se inicia um processo de pressão psicológica encaminhada para fixar de forma estrita a maneira de vestir, a categoria de donativos, a proibição de celebrar algumas festas cristãs como o Natal (a “Saturnália”, como a denominam), a proibição de fazer a árvore de Natal…
O certo é que no caso de José Luis e sua família, o amor primeiro ia desaparecendo à medida que se implicavam mais e mais nas diversas igrejas nas quais buscavam Cristo.
José Luis recorda o fanatismo que lhes encaminhavam alguns pastores quando já estavam dentro: “Atirei ao lixo os brinquedos de meu filho pequeno, pois tinhía ouvido uma pregação contra os brinquedos das crianças. Meu filho de 9 anos inocentemente aceitou aquilo. O mesmo com os personagens de Walt Disney: Tudo era pecado”.
Que nos dêem seus donativos e que sejam felizes
Talvez uma das rupturas com estas igrejas que mais mal fez em José Luis foi aquela que sucedeu certo dia quando acompanhou o pastor para pregar em uma igreja irmã.
Após a pregação, “se aproximou uma velhinha com 80 anos, magra e pálida, com seu vestido desgastado pelo tempo e calçando uns sapatinhos velhos e rasgados. Ofereceu-me um pouquinho de dinheiro, umas moedas como ‘ajuda’ pois vínhamos de longe e ela tinha ouvido que eu era quase um pastor. Ela me entregou seu ‘dízimo”.
No entanto preferi não aceitá-lo, pois ela o necessitava infinitamente mais: ‘Não, irmãzinha -lhe disse-, não faça isto. Tome estas moedinhas e compre leite para você, e vá descansar, Jesus lhe ama”. Ainda recorda como lhe sorriu agradecida a senhora. Depois se aproximou do pastor que estava em outra parte daquele templo e este, em troca, ele aceitou o dinheiro.
De volta para casa, comentou com o pastor:
– Irmão, eu pus meu carro à serviço da igreja para sair para pregar, também pago a gasolina e os pedágios na estrada. Não necessitamos que nos deem para gastos. Por que você aceitou o dinheiro dessa velhinha que necessita mais que nós?
O pastor respondeu:
- Não te preocupes, eles se sentem felizes quando fazem isto, então faça-mo-los felizes!
Sua consciência não aguentou mais. Era o fim e se despediu: “Irmão, ore por mim, eu não posso mais seguir aqui. Talvez esteja equivocado, mas para mim é melhor seguir minha consciência que viver assim. Não quero que ninguém me siga e saia daqui. Eu não promovo seitas, brigas, nem divisão, então é melhor que eu me vá”.

Quando a religião se converte em negócio
Em pouco tempo se encontrou com um antigo irmão que lhe levou para sua igreja. Uma em que a alegria e a espontaneidade reinavam em toda parte. Onde se compartilhava a visão da palavra de Deus com total liberdade.
Por esta razão começaram a chegar pregadores errantes que iam de igreja em igreja, apregoando suas doutrinas. Logo anunciava a chegada de um “pregador muito ungido” que faz muita “oração e jejum”, com o qual despertava a confiança em todos os fiéis.
Na realidade é que se apresentavam todo tipo de iluminados, desde pregadores que enfatizam o fim del mundo ou a aparição do 666, até os que pregam contra os personagens da TV. Cada sucesso local, nacional ou mundial era usado para profetizar calamidades…
Então aparecia gente como Yiye, um homem de muita oração e jejum, em cuja revista se pedia dinheiro para sustentar sua obra evangélica e “poder mandar o Evangelho via satélite”; ou Morris Cerullo que vinha diretamente dos Estados Unidos e que “aceitava cartões de crédito”…; ou J. Miranda que tem grande “poder de Deus” pois “atira a pessoas ao solo”…
Evangelistas “internacionais” que rapidamente surgiam do nada e desapareciam da mesma forma mas com uma boa soma de dinheiro em seus bolsos.
E em qualquer caso, sempre, se procedia a coleta das “oferendas” de amor: “Necessitamos de umas pessoas que queiram oferecer tanto dinheiro e, agora as que podem outro tanto…”.
É um negócio porque não há amor
A religião se converteu em puro negócio (1 Tm 6, 10) e a fé em um “culto dos sentidos” onde o sentimentalismo e o messianismo profético eram os pilares de sua doutrina.
Ensinava-se que o pecado estava nos objetos: nas imagens, na música, na comida, etc.
Finalmente José Luis Vela decidiu ficar só com sua família e não mais participar de nenhuma outra igreja ou denominação.

“Recordo o medo, e a incerteza pela chegada do 666, a expectativa pelo “rapto” que até meu filhinho foi afetado pelo temor de ficar e não ser dos “escolhidos”. Apesar de meus estudos profissionais, do conhecimento da Bíblia adquirido por muitos anos e ainda de minha sólida formação cristã, estava ‘afetado’.
Fui arrastado pelos ventos das doutrinas de homens”.
Ao sair e buscar novas fontes de formação, José Luis havia caído em leituras chamemo-las de ‘impróprias’. Seu primeiro livro tinha o sugestivo título de ‘Sai d’Ela. Depois vieram “As balanças”, “Estamos de acordo Sr. Presidente” e mais e mais.
Os clássicos protestantes antigos
No entanto também caíram em suas mãos alguns livros antigos que datam da época da Reforma e alguns escritos de João Calvino: “Esta antiga obra me instruiu sobre o que pensavam os primeiros reformadores do século XVI. Depois vieram outras e, inclusive, conheci as 95 teses de Lutero. Era um protestantismo centrado, ilustrado e de certa forma justo em suas reclamações à Igreja Antiga, que expunha suas razões sem cair no fanatismo”.
“Era um protestantismo ilustrado, devoto de Deus e que amava as coisas santas, que só buscava reformar as coisas da Antiga Igreja. Estes protestantes do passado, do século XVI, não tinham nada que ver com os ‘profetas de hoje’ que fundam ‘igrejas’ em toda parte. Pela soberba de não resolver suas diferenças seguem dividindo o corpo de Cristo”.
A volta à Igreja Católica
José Luis se meteu na internet e ali estabeleceu encontros com crentes e não crentes, católicos e protestantes.
Nesse mundo aberto e anônimo onde cada um expressa o que quer no anonimato e o desprezo mais impune possível, o próprio José Luis se viu refletindo a si mesmo: “Diante das acusações e ofensas, a intransigência de muitos, os prejuízos de outros e as ofensas à Virgem Maria, Mãe de Deus feito homem, diante das caçoadas e gargalhadas de alguns que negam o Espírito Santo, me vi como em um espelho. E compreendi que ‘todos temos pecado’ (Rm 3, 23)”.
Saiu da Igreja porque estava cheia de pecadores e não encontrou a pureza que esperava, mas suas vivências lhe fizeram refletir e arquivar a busca de Cristo fora do catolicismo.
Decidiu retornar à Igreja Católica “porque se tens algo contra teu irmão vai se acertar com teu irmão. Deus não escuta a oração se não te reconciliar; porque Deus perdoa nossas ofensas assim como nós perdoamos os que nos ofendem…”
“Na Igreja Antiga, Católica, Universal, na Igreja de Deus, de todos os tempos, ali vou estar. Não para condenar, mas para colaborar e dar ânimo aos meus irmãos os pobres de espírito, os fracos na Fé, os de Fé simples que não ‘sabem’ da Bíblia mas que creem com o coração”.

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