27 junho 2012

Multiplicação dos pães: milagre realizado por Jesus ou simples momento de fraternidade? Um olhar para os textos da Multiplicação dos Pães em contrapartida com a interpretação equivocada de simplesmente fraternidade comunitária




Por Cássio José
Membro da Renovação Carismática Católica de Camocim
Ministério de Pregação

  1. Pressupostos iniciais
Uma das mais conhecidas e refletidas passagens da Sagrada Escritura, encontrada no Novo Testamento, mais precisamente nos Evangelhos, é a da Multiplicação dos pães. Essa passagem bíblica é pano de fundo para alguns católicos sob a defesa de afirmarem que fora simplesmente uma atitude de fraternidade da comunidade, fazendo com que se pense que aconteceu uma redundância do poder do Senhor Jesus Cristo acerca de realizar milagres. Esse é o pensamento e pregação de tais pessoas!
Com esse artigo, trazemos e objetivamos a seguinte reflexão: a Multiplicação dos pães foi um milagre realizado pelo Senhor Jesus ou simplesmente uma atitude de fraternidade?
Esperamos esclarecer a tal dúvida, inseminada por alguns “teólogos e estudiosos” da Igreja Católica, que ao invés de alicerçarem mais a fé dos católicos, os reduzem ao ateísmo fariseístico. Não é nosso objetivo criar rixa ou espalhar ira a ninguém, nem muito menos fazer deboches. O que esperamos é mais respeito com a exegese bíblica e anúncio profético da verdade e não de achismos.
Veja o que o Magistério da Igreja nos diz a respeito da missão da catequese, anúncio da doutrina cristã:
A especificidade da catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscita conversão, visa o duplo objetivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. (Exortação Apostólica Catechesi Tradendae: Papa João Paulo II, n. 19)

A nossa pregação não pode partir do pressuposto do que achamos e pensamos; e sim, a exemplo de Jesus, do verdadeiro anúncio da Palavra de Deus, segundo os critérios do Magistério da Igreja.


  1. Lendo de Mateus 14, 13 – 21 com comentários: Sinceridade com o texto bíblico!
Não tem como pensar outra coisa se não um olhar cego dessas pessoas a cerca dessa realidade realizada pelo Senhor Jesus, quando ouvimos ser simples momento de fraternidade: A Multiplicação dos pães e peixes!
Existe a primeira e a segunda Multiplicação dos Pães (e peixes). Pegaremos a primeira para nossa reflexão: Mateus 14, 13-21; Marcos 6, 31-44; Lucas 9, 10-17; João 6, 1-13. Nos deteremos com o Evangelho Segundo Mateus.
Basta lermos e relermos os trechos e detalhes do Evangelho a cerca de tal situação para percebermos e fazermos algumas considerações. Pegaremos o Evangelho de Mateus, como objeto de análise. Leia conosco e perceba tal façanha realizada pelas mãos do Senhor Jesus:

Ao ser informado da morte de João, Jesus partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto a sós. Quando as multidões o souberam, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos outros povoados comprar comida!”Jesus porém lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!”Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Ele disse: “Trazei-os aqui”. E mandou que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram as multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios. Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.”

É nítida a percepção do que Jesus faz nesse trecho da Sagrada Escritura: O Milagre da Multiplicação dos pães e peixes. Será que são cegos ao lerem tal passagem e não enxergam a riqueza dos detalhes?
Reflitamos os seguintes trechos ou versículos bíblicos:
  • Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. (Mt 14,14)
Afirmam-se por aí que cada um dos que estavam no deserto com Jesus (uma grande multidão) levou o seu alimento e lá houve uma partilha (cada um se junta com o seu próximo e distribuem o que tem, para que eles não passassem fome já que estão num deserto), o que reduz o poder do Senhor Jesus quanto ao milagre da multiplicação dos pães e peixes. Essa é a falsa e ridícula exegese de muitos! Puro engano e mentira! E sabemos que o pai da mentira é o diabo (João 8,44).
Mas surge um questionamento inicial:
O que dizer desse versículo 14 quando o evangelista afirma que Jesus “curou os que estavam doentes”?
Será que daquela imensa multidão (aproximadamente cinco mil homens), ninguém levou remédio para ajudar o seu próximo? Não houve então fraternidade de medicamentos? Houve esquecimento de levar remédio das cinco mil pessoas?
Sabemos que nessa multidão havia gente de todo tipo e de todas as realidades e idades: crianças, homens e mulheres, idosos...
O verdadeiro propósito para que aquela grande multidão era o encontro com o bom pastor. E Jesus, sendo esse Bom Pastor, antes de saciar a fome do corpo, cura a alma daquela multidão. Primeiro o milagre na alma, depois o milagre da multiplicação dos pães e peixes
  • Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos outros povoados comprar comida!” (Mt 14, 15)

Veja: A palavra de Deus é muito clara e traz detalhes:
Quando chegava a noite, os discípulos de Jesus preocupados com a multidão clamam a Jesus para que ele deixe a multidão comprar alimentos. Veja novamente o pedido dos discípulos:
Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos outros povoados comprar comida!
Ora, meus queridos leitores! Será que são cegos e não leram esse trecho do Evangelho? Se tivesse havido tão somente um momento de fraternidade entre aquela comunidade reunida no deserto em torno de Jesus, por que o evangelista afirma tal preocupação dos discípulos? Eles não levaram comida! Essa é que é a pura verdade! E já aqui há um pressuposto ou indicativo de que tem milagre para acontecer. Há cheiro de milagre que está por vir porque Jesus é o Bom Pastor e uma vez que curou os que se encontravam doentes, agora não é estranho que alimente a fome da multidão! Tanto que a resposta de Jesus é uma negatividade:


  • Jesus porém lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!”(Mateus 14, 16)

Aqui percebemos um cuidado e ordem de Jesus. Se ele é o pão da vida por que despedir as multidões? Outra: Por que Jesus não permitiu que eles fossem embora comprar comida para depois voltar e haver partilha? Tem mais: não há nenhum versículo bíblico, nem mesmo nas entrelinhas que traz indicativo (nem mesmo o 17) de momento de fraternidade. Observe que ninguém afirma, por exemplo:
Não Jesus, cada um de nós vamos juntar o que temos para que em unidade comum, nos alimentemos”.
E mesmo que desconfiem de que no verso 17 haja a pseudo-argumentação de fraternidade (“Só temos aqui cinco pães e dois peixes”) por que disseram: só temos aqui...?
Caso alguém dissesse: João tem 2 peixes, Marizinha tem 3 pães, Bartolomeu tem 2 bananas, Chiquim também tem peixe e tapioca, Valéria tem na sacola suco... aí sim, seria fraternidade comum. Mas observe o que aconteceu:
  • Ele disse: “Trazei-os aqui”. E mandou que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram as multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios.
Mais uma vez o texto bíblico traz a confirmação e argumentação exegética de que o que aconteceu foi Milagre realizado pelo Senhor Jesus e não momento de fraternidade em que cada um juntou os alimentos que tinham com os outros para partilharem o que levaram; o que não significa dizer que se possa usar tal passagem para pregar sobre fraternidade.
O Evangelho é muito detalhista: “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos distribuíram as multidões”.
Quantos pães eles tinham?
Tinham cinco.
E quantos peixes?
Dois! Bíblia é muito clara ao contabilizar os números do que antes tinha e do que depois se alimentam. Era desproporcional esse número. Por tanto, o que acontece é que temos ante nossos olhos um texto que traz a comprovação de que Jesus realizou de maneira poderosa um milagre.
Claro, já dizia antes, pode-se pegar tal passagem e pregar sobre fraternidade. No entanto, é inadmissível fazer redundância ao poder de Jesus sob o pretexto argumentativo de que não houve milagre e sim fraternidade.
O número dos que se fartaram foram em aproximadamente de 5 mil homens, sem contar a esse número mulheres e crianças. Por que a Palavra de Deus traz o que antes tinha e a totalidade dos que se fartaram? Por que, sendo partilha e fraternidade, não há os índices do que levaram, partilharam, fraternizaram? Cadê?

  1. Outras Traduções e Leituras de Rodapés

Antes de vermos a tradução de outras Bíblias, a que foi usada até aqui é a tradução da Bíblia CNBB, vejamos os títulos que os biblistas impuseram nessa passagem de Mateus 14, 13-21:

Bíblia Pastoral: O banquete da vida
Bíblia TEB: Jesus alimenta cinco mil homens
Bíblia de Jerusalém e Ave Maria: Primeira Multiplicação dos Pães
Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): Jesus alimenta uma multidão
 
Temos nesses títulos do trecho bíblico em análise indicativos ou ainda, antecipação e hipóteses, como nos afirmam os estudiosos em Línguas, os linguistas, de que o que predomina é a ação de Jesus a respeito de algo a ser realizado: a Multiplicação dos Pães.
 
Bíblias como a TEB e NTLH, trazem isso com mais evidência. No entanto, mesmo as Bíblias Ave Maria, Bíblia de Jerusalém e até mesmo a Pastoral cooperam para o entendimento de que já no título pode-se levar a hipótese de que teremos uma ação miraculosa de Jesus e não uma ação de fraternidade da comunidade.

Além disso, vejamos os comentários de alguns rodapés dessas bíblias:

Mateus salienta o comportamento de Jesus: ele não é fanático, querendo enfrentar imediatamente Herodes; mas também não é fatalista, deixando as coisas correr risco de estado. Ele continua fiel à missão de servir ao seu povo. Reúne e alimenta as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e anúncio do Reino. A Eucaristia é o sacramento-memória dessa presença de Jesus, lembrando continuamente qual é a missão a que nós, cristãos, fomos chamados”.

[Rodapé da Pastoral: págs. 1258-1259]
As duas expressões em destaque também convergem para o entendimento de que Jesus realizou uma ação miraculosa:
  • Ele continua fiel à missão de servir ao seu povo:
O serviço de Jesus nessa situação com essa multidão foi a de curar os doentes e alimentar as ovelhas que tinham fome de Deus. Tanto que antes de alimentá-los fisicamente, Jesus os alimenta espiritualmente com a pregação. Claro que São João coloca que a multidão o seguia porque via os sinais que Jesus realizara (João 6,2), mas o maior desejo de Jesus era levar a mensagem do Reino dos céus para aquele povo.
  • Reúne e alimenta as multidões sofredoras:
Aqui nós temos uma resposta de Jesus frente ao desrespeito que os que moravam em palácios “tinham do bom e do melhor” faziam vista grossa a esse povo tão necessitado. O povo se farta para perceber que Jesus era o Sumo Bem e o que eles mais precisavam.
A Bíblia de Jerusalém nos ensina que a Multiplicação dos Pães, além de ser um milagre realizado pelo Senhor Jesus (com poder ainda maior), é prefiguração da Eucaristia, alimento escatológico, a exemplo de passagens do Antigo Testamento como o Maná que descia do céu:

Com poder ainda maior, essas dádivas de alimentos celestes, o gesto de Jesus queria ser entendido – como de fato o foi desde a antiga tradição – como uma preparação do alimento escatológico por excelência, a Eucaristia”.
[Rodapé da Bíblia de Jerusalém, trecho da letra “n”]
Sendo dádivas de alimentos celestes e com poder ainda maior, só poderia ser milagre e não simples fraternidade, reduzindo o poder de Jesus realizar milagres.

  1. O que nos diz o Catecismo da Igreja Católica?
Olha o que nos afirma o Catecismo da Igreja Católica a respeito de tal passagem bíblica em análise:
O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua Eucaristia”.
[CIC, n. 1335]
O que mais podemos dizer? A própria Igreja denomina milagre da multiplicação dos pães ao trecho aqui em análise de Mateus 14, 13-21. Não há mais como contestar. Não é um simples teólogo e biblista que usa de argumentos seus para defender sua tese ou hipótese. É a própria Igreja, através de seu magistério.
  1. Considerações finais
Não se pode fazer uma interpretação da Sagrada Escritura a seu bel-prazer. É errônea a afirmação de que a passagem de Mateus 14, 13-21 se tem atitude de fraternidade. Não e bem assim. No entanto, claro que se pode aproveitar tal passagem para pregar sobre fraternidade. Entenda: a passagem não fala de que foi um ato de fraternidade comum. Mas, pode-se pregar sobre fraternidade com tal passagem. Se bem que a melhor e incontestável passagem em que retrata muito bem a vida em comunidade, em que se tem o hábito de fraternidade, coisa que a Igreja hoje não faz mais, e nem chega perto é Atos dos Apóstolos 2, 42-47. Aqui sim, podemos levantar argumentos de sobra com relação a atitude de fraternidade e vivência comum, comunidade.
Esperamos não ter causado estranhamento a ninguém e sim esclarecimentos da Palavra de Deus a respeito do assunto aqui levantado. Que a nossa boca fale da Verdade que é o próprio Cristo Jesus e que tenhamos cuidado com o tipo de exegese que estamos pregando as pessoas.
Paz e fogo! Deus te abençoe!

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